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A Equipa Redactorial

sexta-feira, 31 de julho de 2009

PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS EM LEÇA DA PALMEIRA


















No dia 11 de Junho, de calor intenso, a Procissão do Corpo de Deus percorreu Leça da Palmeira, da Igreja matriz até ao Largo do Castelo, onde decorreu a bênção do mar, trazendo Cristo aos nossos caminhos de todos os dias. Nestes tempos em que diariamente somos confrontados com dificuldades de toda a ordem, só a presença de Cristo em todos os actos do nosso quotidiano, e não apenas como coisa de um momento, pode ajudar cada um a ser mais irmão, mais amigo, mais solidário.
Além dos Acólitos, Pagens, Confrarias e figurantes, a Procissão do Corpo de Deus integrou igualmente as crianças que, este ano, realizaram a sua Profissão de Fé e foi seguida e/ou aprecia da com muita dignidade e respeito por gentes da terra, mas também por muitos forasteiros, como é já habitual com as Procissões de Leça.
Merece destaque mais uma vez, os tapetes de flores na Av. dos Combatentes da Grande Guerra, na Rua do Moinho de Vento e na Rua Oliveira Lessa, uma tradição portuguesa do norte do país todos os anos presente no percurso desta Procissão, obra de alguns moradores, que assim quiseram também contribuir para a solenidade.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

CASCATAS em LEÇA
















Há cerca de dois anos, dei com uma cascata, (bem bonita, diga-se), naquilo a que chamei ‘sítio mais improvável’, por ser a montra de um cabeleireiro. Porque as cascatas são uma tradição nossa que caiu em desuso, hoje, encontrar uma que não tem a ver com o concurso que o RTA costuma promover, é ainda mais agradável. Pois lá esteve de novo a cascata, na tal montra, mas desta vez ainda mais completa, com a procissão comportando os andores dos três santos populares, e este ano, até teve pálio a cobrir o ‘Sr. Prior’. E o espaço da montra ficou pequeno para as três capelas com o respectivo padroeiro, a procissão mais completa, com a banda de música a acompanhar e outra a tocar no coreto, o fogueteiro e toda a multiplicidade de figurantes da cascata em si.
Desta vez, descobri outra, na mesma rua, na montra de um pequeno café-bar, diria eu, outro ’sítio improvável’, mas que até teve, pela cascata, direito a visita de canal de televisão regional, (como me informou a dona, apareceu no Porto Canal).
Parabéns às duas proprietárias pela iniciativa.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

9º e 10º anos da Catequese visitam a Casa do Gaiato

No passado dia 6 de Junho, fomos a Paço de Sousa, à Casa do Gaiato. Mesmo atrás do Mosteiro de Paço de Sousa, lá se encontra a “Aldeia dos Gaiatos”
Primeiro visitámos a capela da Instituição, um templo muito simples mas muito convidativo à reflexão. Ali tivemos uma breve explicação de como funciona esta obra cristã, dada pelo padre Manuel António, que se dedica aos Gaiatos há 46 anos, não deixando de referir a falta de padres que queiram abraçar esta Obra com uma doação total, seguindo o exemplo do «Pai Américo», (o seu fundador, sepultado dentro da capelinha), nas muitas Casas do Gaiato em Portugal ou em África, para onde regressaria o Padre Manuel naquela semana. Disse ainda que quando vem de Benguela (África), onde chefia os Gaiatos, vem com os olhos «cheios de crianças», mas quando chega a Portugal «eles ficam vazios», pois lá as Casas estão muito mais cheias de crianças e jovens desprotegidos do que as Casas nacionais. O que move esta Instituição são duas das práticas que Cristo quer que predominem nos corações dos Homens - o Amor ao próximo e a Caridade.
O nosso «guia» foi o Abílio, um dos gaiatos, que nos levou até ao refeitório onde dois gaiatos se encontravam ocupados com os afazeres da cozinha. Lá pudemos ver um quadro muito bonito do «Pai Américo», que ali está como que a «presidir» a tudo. Junto ao refeitório encontra-se a antiga escola dos gaiatos. Seguimos para as oficinas onde se encontrava uma banda a tocar música, e reparamos na quantidade de órgãos que tinham, num piano muito antigo, mas valiosíssimo, na guitarra, no trompete, no grande bombo e nos batuques. Também a música faz parte da vida da Casa. Visitámos depois os quartos e a sala de convívio, a lavandaria e a piscina, já preparada para o Verão. Foi ali que reparámos no vale onde aquela pequena «aldeia» se encontra - um «mundo» de campos agrícolas pertencentes à Instituição.
Seguimos para a casa onde estavam os mais pequeninos, cuidados por jovem senhora, que há dezassete anos se doou totalmente a esta obra. Estavam numa casa provisória, pois a «Casa-Mãe», mesmo ao lado da capela está em obras. A «Casa-Mãe» consiste na casa principal da Obra. Antes do almoço ainda fomos ver a vacaria onde é produzido o leite para consumo da Casa. Vimos ainda a estufa onde são produzidos muitos dos vegetais ali consumidos.
Há ainda um anfiteatro para festas e peças de teatro. Foi ali que partilhámos o almoço que levámos de casa. O que nos sobrou, deixámos para eles.
De tarde, visitámos o mosteiro de Paço de Sousa, mesmo ao lado da Casa do Gaiato, onde regressámos para uma partidinha de futebol com o nosso catequista Júlio e alguns dos nossos colegas. Terminámos a visita com a ida à carpintaria, de onde saiu o notável tecto da capela e a escadaria da «Casa-Mãe». Aí os rapazes que se interessarem podem aprender essa arte com o carpinteiro da Casa. Finalmente fomos à sala dos computadores onde os rapazes exploram o mundo da informática.
Depois fomo-nos divertir para o parque com alguns miúdos muito reguilas de lá.
Foi espectacular este dia lá passado. A experiência de estar com meninos e rapazes, que não souberam o que é o amor de pai e mãe foi bastante significativo para nós. Vimos como estavam felizes ali, mas, lá no fundo dos seus olhos havia um certo vazio também…
A Casa do Gaiato é a mãe e o pai destes jovens: O pai personificado no sacerdote, e a mãe personificada nas senhoras que se doam totalmente para ajudar a criar os gaiatos. Os rapazes só saem de lá quando estiverem preparados para a vida, e se tiverem vocação para os estudos, a Casa dá-lhes a oportunidade de seguirem a vida universitária.
Foi óptimo e trouxemos de lá muito em que pensar: há que amar os nossos pais e respeitá-los, pois há muitos jovens que nunca o puderam fazer. Também trouxemos o exemplo de um amor total ao próximo, por parte do Padre Américo e dos seus sucessores, seguindo o principal mandamento: «Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei». Graças à generosidade de milhares de pessoas e do Banco Alimentar contra a Fome, a Casa do Gaiato tem-se mantido e até chega a ajudar os pobres da paróquia!
Brevemente voltaremos lá para passarmos um fim-de-semana com eles. Queremos levar-lhes algo daqui, de Leça – para isso contamos com a generosidade de todos os Leceiros.
Um bem-haja Padre Américo! Todos devemos estar reconhecidos por essa alma onde não habitou mais ninguém, senão Deus.
O Grupo da catequese do 9º e 10º ano - Catequistas Júlio Correia e Deolinda Correia
Texto redigido por Gustavo Borges in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

FALECEU A MILITA – ESTÁ DE LUTO O G.P.T.L.

No passado dia 18 de Maio, faleceu Maria Emília Esteves Ferreira Soares, “A Milita”. Foi actriz do G.P.T.L. desde de 2001 até 16 de Maio de 2009, dia em que realizou o último espectáculo, em Gulpilhares.
Dois dias depois deixou-nos.
Foi uma actriz conscienciosa e responsável.
Actualmente, além de actriz, era a Secretária da Direcção do G.P.T.L.. Deixou-nos na flor da idade e com a sua partida, o Teatro em Leça da Palmeira ficou mais pobre e mais triste, pois a Milita era a alegria personificada. Junto dela não havia lugar para tristezas. O seu sorriso era constante, verdadeiro e contagiante. Ela deixou-nos corporalmente, mas continua bem presente no meio de nós, espiritualmente.
É costume dizer-se que só fazem falta os que cá estão. Por isso a Milita faz falta, porque ela é dos que cá estão.
Por tudo isto, peçamos a Deus, que lá, onde Ele a tenha, faça dela a nossa mensageira.
A Milita teve um funeral condigno com a sua condição de mulher com letra grande, com Missa de corpo presente, concelebrada pelo Padre Lemos, nosso Pároco, e pelo Padre Marcelino, Capelão dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos – Leça, corporação onde a Milita trabalhava como funcionária da Secretaria. O corpo foi transportado pela corporação dos Bombeiros e pelos elementos do G.P.T.L..
Um momento tocante, foi quando o corpo desceu à terra com o corpo de Bombeiros a fazerem guarda de honra. Foi de facto um funeral com muita dignidade, tal como a Milita merecia. Teve a presença de muitos amigos, do Corpo de Bombeiros, incluindo o seu Comandante e toda a Direcção da corporação. Estiveram também presentes em grande número, elementos do Grupo Paroquial de Teatro de Leça, alguns dos quais, já não fazem parte do Grupo, mas também quiseram prestar uma última homenagem à Milita.
E termino, como sempre terminamos os nossos espectáculos, com uma salva de palmas, para a Actriz e Dirigente do Grupo Paroquial de Teatro de Leça, “Milita”.
António Paiva in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 4 - Junho de 2009

ILUSTRES LECEIROS - Amélia Carneiro: Histórias do Rio e Mar de Leça

Com esta conferência pretendeu a Junta de Freguesia de Leça da Palmeira homenagear mais uma pessoa que viveu em Leça da Palmeira durante um período da sua vida retratando através das suas pinturas alguns dos belos recantos desta nossa encantadora terra.
Para tal convidou prof. A. Cunha e Silva que esquematizou a respectiva apresentação começando por desafiar o neófito nestas andanças, Miguel Rocha dos Santos, que se saíu muito bem mostrando que há que dar lugar aos novos para que estas iniciativas tenham continuidade com qualidade, e se não atentem neste texto:
“Apresentar o Amigo Prof. Cunha e Silva é tarefa difícil. Outros de maior valia e gabarito já o fizeram, por isso vi-me obrigado a pedir ajuda. Uns dias antes de ser convidado a apresentá-lo, tinha lido um conto do autor americano Howard P. Lovecraft que, a certa altura, me fez pensar nele. Atentem então neste excerto.
“ Não há muitas pessoas que saibam das maravilhas que aguardam para serem reveladas através do recordar das histórias e das visões das suas próprias infâncias. Enquanto crianças nós escutamos, sonhamos e guardamos pensamentos incompletos que, quando mais tarde queremos recordar, já nos achamos prosaicos e (…) sob o efeito (…) da vida. Mas alguns de nós acordamos durante a noite com estranhas aparições de colinas e jardins encantados, de fontes cantando ao sol, de penhascos dourados sobre mares murmurantes, de planícies que se estendem até às cidades adormecidas de bronze e pedra e de fantásticas companhias de heróis em neblina, galopando em adornados cavalos brancos ao longo das orlas de densas florestas, e nesse momento apercebemo-nos de que olhávamos através de portões de marfim para aquele mundo de encantamento que era nosso antes de sermos sábios (…)”
Ora, se o Amigo Cunha e Silva me permite a ousadia, eu penso que ele é sábio precisamente porque não deixou de ver através desses portões de marfim e parece até cruzalos de vez em quando, aliando esta espantosa capacidade à sua vasta experiência de vida.
Na verdade, creio que os seus feitos nas mais diversas áreas, como a música, a pintura, a literatura e em geral a cultura da nossa comunidade, são fruto do trabalho não de um Prof. Cunha e Silva, mas pelo menos três (que eu tenha identificado…). Acompanhem-me, por favor, neste devaneio, enquanto aplico esta teoria a momentos específicos de estudo que o Prof. realizou para nos dar a conhecer a pintora naturalista que passou por Leça da Palmeira, Maria Amélia de Magalhães Carneiro:
- Certo dia, Prof. Cunha e Silva físico, a três dimensões, percorreu a Rua Dr. Augusto Cardia Pires, onde morava a minha avó Brízida, para visitar a casa de Amélia Carneiro habitou temporariamente. Acompanhando-o, seguia o Cunha e Silva intelectual, mas na quarta dimensão, o tempo, percorrendo a mesma rua na época em que ainda se chamava Rua Central, em busca de elementos que lhe permitissem descobrir como vivia a pintora. Ambos no mesmo local, a trabalhar para o mesmo objectivo, mas em tempos diferentes;
- Numa outra ocasião, ía o Prof. Cunha e Silva físico de comboio, a ler, enquanto o Cunha e Silva intelectual vogava por entre informações, tentando dar-lhes ordem, procurando a melhor forma de as expor quando, de repente, um Cunha e Silva metafísico, o que está ligado às energias criativas, desperta a atenção dos outros dois para uma curiosa frase que iria ajuda-lo (s) a olhar claramente o seu objectivo, através de um prisma realmente singular. Pasmem-se com a analogia que o nosso Amigo nos irá apresentar, mas que não revelo agora, para não estragar a surpresa!
É destas estritas colaborações que nascem fascinantes comunicações. O Cunha e Silva que temos hoje connosco é a integração destes três num só plano de existência, com a força e a imaginação para nos maravilhar com as suas descobertas.
No entanto, não é essa a sua única força. Hão-de reparar na sua expressão, a alegria e o entusiasmo com que fala dos temas a que se propõe. Também daí parte o encanto de o escutar.
Pode então afirmar-se que ele tem gosto em viajar pelas histórias que conta, mas maior gosto em levar outros de viagem consigo. Com certeza já todos viram um bando de aves voando em formação, na qual uma delas, agindo como navegador, segue um pouco mais à frente. Assim é o Prof. Cunha e Silva, com uma ressalva, uma particularidade sua. É que, quando se apercebe que um dos membros do seu bando tem algo de valor a acrescentar, uma história para contar, uma pintura para partilhar, um caminho novo a percorrer, uma terra desconhecida a desbravar, ele alegremente lhe cede o lugar de navegador. Ele ergue-se, e com ele os inspirados de Leça da Palmeira. E nisto reside a profunda e inequívoca verdade acerca deste nosso Amigo. O intenso desejo de dar a conhecer! Não importa como, desde que se prime pela qualidade.
Em jeito de conclusão, e porque já devem estar ansiosos por o ouvir, regresso ao conto com que iniciei esta intervenção, com uma pequena adaptação:
O Prof. Cunha e Silva “(…) [busca] apenas a beleza da vida. Quando a verdade e a experiência já não [têm] força para revelá-la, ele [procura-a] na fantasia e na ilusão, conseguindo encontrá-la na soleira da sua própria porta, entre as nebulosas memórias dos contos e dos sonhos de infância.”
Escutemo-lo…”
Então escutamos o prof. Cunha e Silva explicando vários trabalhos da autoria da homenageada e outros que considerou relevantes para nos explicar o percurso da pintora.
Maria Amélia de Magalhães Carneiro, nasceu em 2 de Março de 1883, na freguesia de Cedofeita, no Porto. Era filha de José Bernardo Dias Carneiro e de Júlia Caldas Moreira Magalhães Carneiro, era irmã de um dos mais prestigiados Presidentes da Câmara Municipal de Matosinhos, o Comendador José Magalhães Carneiro, e prima de António Carneiro. Iniciou-se na Academia de Belas Artes do Porto, tendo prosseguido estudos com o Mestre Júlio Costa. Em 1940 decidiu vir viver para Leça da Palmeira, para casa de sua irmã Maria Helena, casada com Norberto de Moura e Melo de Zagalo Ilharco, que vivia numa casa da Rua Dr. A. Cardia Pires (antiga Rua Central), contigua àquela em que nascemos. Faleceu na casa de uma outra irmã, situada na Rua de Brito Capelo, em Matosinhos, em 1970, com 77 anos de idade, deixando um precioso e maravilhoso legado.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 4 - Junho de 2009

domingo, 31 de maio de 2009

S. NUNO DE SANTA MARIA - Mais um Santo Português

“Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão de melhor humanismo ao serviço do bem comum.
Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim, seremos parte activa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos.”
Este trecho da Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, a propósito da canonização de Frei Nuno de Santa Maria, às 9h33 de 26 de Abril passado, em Roma, contém a “mensagem” fundamental a reter por todos nós, seus concidadãos, a nível individual e nacional.

Nuno Álvares Pereira, desde sempre conhecido por Santo Condestável, nasceu em Cernache do Bonjardim, Sertã, a 24 de Junho de 1360 e foi um nobre guerreiro que teve um papel fundamental na crise de 1383 a 1385, em que havia a possibilidade da perda da nossa independência para Espanha, já que a única filha do rei D. Fernando era casada com o rei de Espanha. Apoiante do Mestre de Aviz, (filho ilegítimo de D. Pedro I), D. Nuno Álvares Pereira bate o exército espanhol, primeiro na batalha dos Atoleiros, em Abril de 1384, e, após o reconhecimento de D. João como rei de Portugal, pelas Cortes de Coimbra, lidera um pequeno exército de 6 mil homens e derrota 30 mil castelhanos, na batalha de Aljubarrota, que viria a ser decisiva na consolidação da nossa independência nacional.
Foi casado com D. Leonor de Alvim, de quem teve três filhos, entre os quais D. Beatriz que viria a casar com o primeiro Duque de Bragança, (dando origem à Casa de Bragança). Após a morte da mulher entra na Ordem Carmelita, em 1423, com o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Morre no Convento do Carmo a 1 de Novembro de 1431, com 71 anos.
Foi beatificado a 23 de Janeiro de 1918, pelo Papa Bento XV, que lhe consagrou o dia 6 de Novembro. O processo de canonização, iniciado em 1940, viria a ser interrompido para apenas em 2004 ser retomado.

Após a cerimónia de canonização, o Papa Bento XVI referiu-se ao novo Santo e a todo o povo português:
“Dirijo a minha saudação grata e deferente à Delegação oficial de Portugal e aos Bispos vindos para a canonização de Frei Nuno de Santa Maria, com todos os seus compatriotas que guardam no coração o testemunho do «Santo Condestável»: deste modo lhe chamavam já os pobres do seu tempo, vendo o sentido de compaixão e o despojamento de quem deu os seus bens aos mais desfavorecidos. Deixou-nos assim uma nobre lição de renúncia e partilha, sem as quais será impossível chegar àquela igualdade fraterna característica duma sociedade moderna, que reconhece e trata a todos como membros da mesma e única família humana. Em particular saúdo os Carmelitas, a quem um dia se prendeu o olhar e o coração deste militar crente, vendo neles o hábito da Santíssima Virgem e no qual depois ele próprio se amortalhou. Ao desejar a abundância dos dons do Céu para todos os peregrinos e devotos de São Nuno, deixo-lhes este apelo: «Considerai o êxito da sua carreira e imitai a sua fé» (Heb 13, 7).”

Marina Sequeira (recolha) in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009

Leça da Palmeira e o Rio Leça

Leça da Palmeira e o Rio Leça, nas Artes, nas Letras e nas Ciências, é o titulo de uma obra composta por quatro volumes e cujo primeiro teve, só agora, o seu lançamento após várias peripécias. São seus autores Albano Chaves e António Mendes, aquele há muito ligado ao mundo das letras e este ao da pintura.
Para nos referirmos a esta obra nada melhor do que transcrever as palavras do prof. A. Cunha e Silva na respectiva apresentação, e que foram as seguintes:
“Não passou ainda muito tempo que retratei a musa de Leça. Musa que tem na cabeça um esplendor!... No tronco um coração de mel!... A seus pés, passeiam todos os trilhos, alvoreceres e poentes.
Quando parecia que esta ditosa Senhora musa já estava saturada da sua existência, séculos de semeadura de tradição oral e escrita, séculos de inspiração de aguadas sobre papel ou óleo sobre tela; quando o crepúsculo da sua vida apontava para uns olhos cansados de focar a objectiva do antigo caixote fotográfico “Kodak”; ou ainda quando uns dedos trémulos e esguios de tanto exercício ao piano, nos antigos Erard, já se atrapalham entre as teclas brancas e pretas e trocam os sustenidos pelos bemóis, eis que a madame aparece toda espampanante no arquivo emocional leceiro – O Indiciário Onomástico – em bom estado de conservação, disponível para dançar a polka ou dar as cartas do bridge com as amigas, na velha “sala de visitas” de Leça da Palmeira.
Esta ressurreição deve-se ao dom de dois patriarcas do nosso tempo – o pintor António Mendes e o escritor Albano Chaves – que desceram à rua, despiram as casulas e, antes de bater a porta ao rés da rua, colocaram o báculo de pernas p’ró ar, por causa das bruxas. De telemóvel na mão e sapatilhas Reebok calçadas, andaram por aí, pelas travessas e vielas, bateram aos portões, às vidraças das casas de Leça e, onde não havia gente para dar nada, apanhavam uns restitos, uns estilhaços, os destroços que a musa deixou algures esquecidos e ao deus dará! Remexeram papéis bafientos, abriram gavetas e gavetões, consultaram a Internet e mandaram e-mails.
Resultado deste labor: com tanto restolho a musa acordou estremunhada:
- Que andarão a fazer estes dois? E ficou a saber que:
Um, o António Mendes, de pena dourada, a fazer retratos leceiros; o outro, a “retratá-los”. Da cabeça da musa com esplendor, retiraram os poetas, os pecadores; dos pés da musa os pintores, pescadores (de imagens) que, habituados às águas, meteram os seus pés e os pés dos cavaletes nos riachos, nos rios, nas águas salgadas e doces, nas areias molhadas.
Por tudo isto, o livro Leça da Palmeira e o Rio Leça nas Artes, nas Letras e nas Ciências tem cabeça, tronco e membros. É um livro que caminha, que sente emoções, que racionalmente pensa. O escritor vestiu-lhes a roupagem, o pintor deu-lhes um rosto, um olhar, é nos olhos que está o espelho da alma. Estes são os retratos dos retratados.
António Mendes e Albano Chaves acabam de doar aos leceiros as suas terras, as suas águas, as suas praias, as suas ruas, as suas vielas, as suas gentes, as suas memórias, e a musa encoberta pelas águas mil do mês de Abril andará por aí a inspirar leceiros e visitantes, não só os que andam na rua, mas também aqueles criadores infinitistas que flutuam na lua”.
Palavras estas de uma beleza tão sublime a corresponder ao teor do livro.
Ficamos ansiosos à espera dos restantes volumes.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Paulo, Homem de Três Culturas

Como estava previsto, teve lugar uma palestra sobre S. Paulo, no âmbito da celebração do grande jubileu que termina no próximo mês de Junho – O Ano Paulino.
Foi orador o Cónego Dr. Arnaldo C. de Pinho, que desenvolveu a sua alocução em torno daquilo que foi o grande lema Paulino – a evangelização pelo testemunho, tendo como ‘imagem’ de fundo um mapa do império Romano, onde se pôde observar o alcance da influência Paulina.
Tal como em muitos outros campos, também aqui se pode estabelecer paralelismos com a nossa história contemporânea – também hoje nos debatemos com questões de identidade, com a necessidade de saber lidar com a diferença, e S. Paulo, nos primeiros séculos, teve que deixar para trás a sua cidadania judaica e abrir-se a uma nova identidade. No século I, também o mundo ocidental passava por uma crise de valores e acabou por ser esse o terreno propício às novas religiões que vinham do oriente, entre elas o Cristianismo – hoje precisa-se de nova evangelização para combater o desânimo dos crentes, e, tal como S. Paulo, enquanto cristãos e católicos, todos temos a responsabilidade de, pelo testemunho, sermos agentes activos desse processo de conversão, que se quer de carácter permanente em todos os momentos da nossa vida.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 2 - Abril de 2009

Escolhidas as 7 Maravilhas de Leça

As 7 Maravilhas de Leça da Palmeira foram, finalmente, conhecidas no passado dia 13 de Março. Uma cerimónia deste tipo está, normalmente, rodeada de enorme expectativa, mas, neste caso, dado que todos os monumentos a concurso são “nossos”, havia apenas curiosidade em saber quais os mais votados – afinal todos são exemplos do muito que temos em termos de património. A ocasião contou com a presença do Sr. Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, do Sr. Presidente da Junta, Dr. Pedro Tabuada além do júri e dos representantes das entidades que tutelam os monumentos que estiveram a concurso, (Câmara Municipal de Matosinhos, Paróquia de Leça da Palmeira, APDL e Capitania do Porto de Leixões).
Entre as 7 escolhidas estão a nossa Igreja Matriz e a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, maravilhas autênticas desta nossa terra.
As outras cinco são: o Farol da Boa Nova, o Museu e Quinta de Santiago, o Titã do Molhe Norte, a Quinta da Conceição e a Casa de Chá da Boa Nova.
A votação on-line decorreu durante 2 meses, de 7 de Janeiro a 7 de Março, tendo-se registado mais de 1000 votos - entre os entrados via Internet e os recolhidos entre os mais de 600 alunos das Escolas EB 1 de Leça, que votaram, em boletim individual, após um conjunto de acções de sensibilização nos respectivos estabelecimentos de ensino.
A cerimónia incluiu momentos de poesia, a cargo do pintor e poeta Leceiro António Mendes e de Conceição Pires, bem como o anúncio de projectos futuros relacionados com a temática das 7 Maravilhas de Leça da Palmeira e que passam por um roteiro das 7 Maravilhas e exposição dos trabalhos que os alunos das Escolas do 1º Ciclo realizaram a este propósito.
Independentemente dos monumentos escolhidos, o objectivo mais importante foi, de certeza, conseguido – que os mais novos conheçam o que a sua terra tem de belo e, conhecendo, aprendam a gostar e a preservar como “seu património e parte importante da sua identidade.”
Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 2 - Abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

A Voz de Leça Faz 56 anos

Neste últimos anos, ao assinalar o aniversário d’ A Voz de Leça, que é celebrado em Março, ao fazer-se o ‘balanço’ do ano que terminou, tem sempre havido factos a assinalar – uns mais alegres, (quando a equipa redactorial cresceu e se alargou a diferentes grupos etários), outros menos, (quando alguém se afastou), outros que apenas podem ser classificados segundo a expectativa que se criou, (como quando voltámos a trabalhar directamente com a Gráfica Firmeza)…
Mais uma vez, há algo a ‘marcar’ o 56º aniversário – ao longo deste último ano ‘ganhámos’ dois colaboradores, os Srs. Padres Lynce de Faria e Amaro Gonçalo, que têm a particularidade de serem de fora da Paróquia, (o primeiro é originário da diocese de Viseu e o segundo é o Pároco da Senhora da Hora). Honra-nos a sua colaboração que veio enriquecer o conteúdo deste Jornal, em especial na sua vertente de formação e orientação, tal como o pensou o seu fundador e foi sempre a principal preocupação do nosso Director e Pároco. Continuamos assim e sempre a cumprir o que preconizou D. António Ferreira Gomes, na fundação d’ A Voz de Leça, em 1953 – ser “voz de muitas águas”, cada vez mais.
Estamos todos de parabéns!

… mas há dificuldades.

Este texto devia ser apenas de ‘festa’ pelos 56 anos do jornal, que, nunca é demais repetir, é o mais antigo da Vigararia de Matosinhos. No entanto, fruto da crise global, (ou talvez não…), debatemo-nos com uma considerável diminuição das vendas, no fim das missas do fim-de-semana. É preocupante, porque cada jornal custa apenas 50 cêntimos. Temos consciência de que, enquanto jornal de cariz religioso, poderá não ser de leitura fácil e/ou acessível para todos, mas é também para se ir assimilando devagar. Além disto, há ainda a questão do valor da assinatura, com um número assinalável de assinantes a pagar apenas 5€, o que é muitíssimo pouco como valor anual.
Não deixo aqui qualquer apelo – a situação é suficientemente esclarecedora e fala por si.
Cabe a cada um agir, para que possa haver futuro para A Voz de Leça!


Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 1 - Março de 2009

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Benzido o Sacrário da Capela do Monte Espinho

Há quase um ano, no âmbito das celebrações do 28º aniversário da Comunidade de Monte Espinho, escrevi que ali os projectos nunca estão “por concretizar, mas para concretizar. Porque foi sempre assim: responderam ao apelo do Sr. Padre Lemos, há 28 anos, para que se pudesse ali celebrar a Eucaristia e a primeira foi mesmo numa garagem. Estava como que lançada a ‘primeira pedra’ da Comunidade, que hoje tem uma Irmandade, Grupo Coral, Grupo de Acólitos, de Pagens, Catequese e uma pequena mas acolhedora Capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima, que todos de alguma forma ajudaram a erguer, com trabalho, com dinheiro, com apoio logístico. (…) e verificaram a necessidade de adquirir um Sacrário para a Capela. Vão certamente tê-lo em breve, porque é quando surge um novo desafio que aquela pequena Comunidade se ergue, mais unida do que nunca.”
Pois mais este se tornou realidade – o Sacrário foi benzido no passado dia 18 de Janeiro, numa missa solene presidida pelo nosso Pároco, onde esteve aquela Comunidade ‘em peso’, (como sempre acontece em ocasiões como esta). A tarde foi de Inverno, mas dentro da Capela, aquela celebração encheu a alma a quem se lhes juntou em mais um momento de forte vivência cristã.
Hoje a capela de Nossa Senhora de Fátima de Monte Espinho está mais ‘completa’, é um lugar
mais sagrado.


Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 11 - Fevereiro de 2009

Um Benemérito da Paróquia

A propósito da bênção do Sacrário da Capela de Monte Espinho, ficámos a saber que o pedestal em granito que o sustenta foi oferecido pelo Sr. Filinto Monteiro, sócio-gerente da empresa ROGRANIT GRALPE. Quase conterrâneo do nosso Pároco, (ambos são naturais do concelho de Marco de Canaveses – o Padre Lemos, de Penha Longa e o Sr. Filinto, de Alpendurada), veio para Leça há mais de 40 anos e, apesar de um interregno de alguns anos, em que viveu em Freixieiro e criou ‘laços’ também com a Paróquia de Perafita, aqui vive de novo.
O seu historial de generosidade para com a Paróquia é também longo, de há muitos anos.
Segundo o Sr. Filinto, com quem A Voz de Leça ‘conversou’ breve e informalmente, quase se pode dizer que tudo começou com a imagem de Nossa senhora da Conceição, ainda na vigência do anterior Pároco, Padre Alcino Vieira. “Quando a empresa comprou a máquina de serragem de pedra, a primeira obra que foi executada foi o pedestal para a imagem. Costumo até dizer que foi uma obra abençoada, porque, graças a Deus, nunca faltou trabalho à empresa.”
Além do pedestal, que permite que aquela antiquíssima bela imagem de Nossa Senhora esteja tão bem situada no frontspício da capela-mor da igreja matriz, ao Sr Filinto se devem ‘outros granitos’ da igreja, além do pedestal que suporta o busto do Padre Alcino, inaugurado, em Junho de 2004, junto ao Salão Paroquial, que foi parcialmente oferecido pelo Sr. Filinto. Agora, quando foi preciso, voltou a dizer presente e, desta vez, deu para a Comunidade de Monte Espinho.
Às vezes, pensa-se que os grandes empresários são pessoas distantes e inatingíveis, a quem estas ‘coisas’ passam ao lado. O Sr. Filinto é a prova absoluta do contrário – não só é uma pessoa de trato afável, como não faz questão nenhuma de ser elogiado enquanto mecenas. Dizia-nos, no início da nossa conversa: “Mas não é preciso nada disto. O que dei está dado e pronto. Afinal, não foi nada de extraordinário.“
Pode não ter sido, mas nos dias de hoje ‘pratica-se’ muito a indiferença, muito mais o ‘receber’ que o ‘dar’ e gestos destes não devem passar sem registo.
A Paróquia agradece.
Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 11 - Fevereiro de 2009

As Sete Maravilhas de Leça

Numa iniciativa da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, está a decorrer a votação com vista à eleição das 7 Maravilhas de Leça, com o objectivo de preservar e divulgar o património histórico-cultural da Freguesia. O Júri do concurso é constituído por um representante da Junta e quatro personalidades ligadas a várias vertentes da cultura local, e fez uma pré-selecção de 14 monumentos, de acordo com critérios histórico-culturais, arquitectónicos, artísticos e simbólicos, de onde ‘sairão’ os sete mais votados.
Entre os monumentos candidatos estão quatro de carácter religioso: a Igreja Matriz, a Imagem de Nossa Senhora da Conçeição, a Capela de S. Clemente das Penhas (Boa Nova) e a Capela de Sant’Ana.
Este projecto destina-se à população em geral e às escolas do Ensino Básico e associações e colectividades de Leça da Palmeira em particular. Após a escolha final, cujos resultados serão divulgados publicamente em data a anunciar, serão organizadas visitas guiadas a cada uma das 7 maravilhas, uma exposição de trabalhos dos alunos das escolas da freguesia e será criado um Roteiro “7 Maravilhas de Leça” em formato papel e um CR-ROM interactivo.
A votação decorre de 7 de Janeiro a 7 de Março de 2009 no sítio da Internet da Junta de Freguesia, (http://www.junta.pt/), e pode também ser realizada através do preenchimento de um questionário impresso (a enviar pela Junta via info-mail), bem como por votação secreta nas escolas EB1 da freguesia, mediante o preenchimento de um boletim.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Presépio ao Vivo - Foi Mais Natal

Todas as Fotos podem ser vistas em: http://www.presepioaovivoavozdeleca.blogspot.com/

Realizou-se nos dias 21, 27 e 28 de Dezembro e 3, 4 e 11 de Janeiro, no Salão Paroquial mais uma edição do Presépio ao Vivo. Pautado por grande afluência de público em todos os dias de exibição, o Presépio envolveu cerca de meia centena de participantes, entre figurantes, caracterizadores, técnicos e organização. Tal como em 2003, o Presépio retratou os primeiros anos de vida de Cristo, desde a Anunciação do Anjo Gabriel à Virgem Maria até ao Encontro de Jesus no Templo com os Doutores da Lei, passando naturalmente pelo quadro do Nascimento de Jesus. Sendo que em 2003, o mais difícil foi arranjar um “Menino Jesus”, este ano, (tal como diz o povo), “Não há fome que não dê em fartura”, tivemos três, fruto do nascimento de três crianças, filhos de paroquianos bem conhecidos. Claro que um evento como este, envolveu muita logística e foram precisos três longos dias para se concluir a montagem de toda a estrutura deste Presépio, desde a montagem dos quadros, passando pela electrificação e amplificação sonora. No entanto, provou-se que, quando os Grupos se mostram unidos, tudo é possível e foram muitas as contribuições que alguns elementos deram à organização, ajudando na montagem, nomeadamente no sábado anterior à estreia. Um agradecimento muito especial ao Sr. José Vieira, ao Sr. Adelino Costa, ao Sr. António Santos e ao Sr. Manuel Trigo pela ajuda prestada. A organização contou ainda com a preciosa colaboração do Rancho Típico da Amorosa, da Assembleia Paroquial de Jovens (Ivan Araújo, Ana Isabel, João Teixeira) e muito especialmente do Grupo Paroquial de Teatro (Filipe Couto, Andreia Parada, João Pedro) que para além dos aspectos materiais (aparelhagem de som e de luz), teve a seu cargo a caracterização das personagens e encenação, essa a cargo do António Paiva, estando sempre presente em todas as apresentações, corrigindo pequenos detalhes, antes, durante e após cada apresentação. Sem a contribuição do Grupo Paroquial de Teatro, teria sido tudo bem mais complicado. A caracterização contou ainda com a ajuda da D. Ascenção, da D. Rosarinho , da Luisa Paiva e da Isabel Faria que ajudaram a vestir todas as personagens. No que respeita a ajudas materiais, foram muitos os que nos ajudaram, nomeadamente o Sr. Manuel Sousa que gentilmente cedeu as ovelhas e os cordeiros para o Quadro 3, ao Sr. António Casal que gentilmente emprestou a palha que cobriu parte do cenário do Quadro do Nascimento, bem como a manjedoura e o pequeno curral das ovelhas, e o Sr. Joaquim Areias que nos emprestou as rolas que serviram de adereço ao Quadro 4. Quanto aos trajes, alguns já eram propriedade da Paróquia e que haviam sido usados em 2003, outros foram cedidos pela Casa dos Anjos da Póvoa de Varzim e outros ainda pelo Grupo Paroquial de Teatro que fazem parte do guarda-roupa da peça “Antígona”, para além das próprias sandálias que calçaram grande parte dos figurantes. Ainda uma palavra de agradecimento ao Sr. José Soares que retocou a pintura de todos os cenários, que apesar dos seus 25 anos, (originalmente pintados pelo Sr. Jorge Bento), ainda se encontram em muito bom estado. O Presépio ao Vivo foi composto por cinco quadros devidamente teatralizados e encenados, a saber: Anunciação (Anuncio por parte do Anjo Gabriel à Virgem Maria que iria ser mãe de Jesus), Visitação (Visita da Virgem Maria a sua prima Santa Isabel, grávida de 6 meses e que tinha concebido um filho em idade avançada, conforme fora anunciado pelo Anjo Gabriel), Nascimento (Encenação do Nascimento de Jesus, com a adoração dos Pastores e dos Reis Magos), Apresentação (A Virgem Maria e seu esposo S. José levam o menino ao Templo para ser apresentado ao Senhor), e por fim o quadro do Encontro (A Virgem Maria encontra o seu filho, Jesus, sentado entre os Doutores da Lei). Foram seis exibições recheadas de muita emoção, sobretudo para aqueles que encarnaram as personagens. Recriar a vida de Cristo, especialmente o seu Nascimento, foi para todos os que participaram seguramente momento de profunda alegria. De salientar, por ser de facto digno de registo, a personagem de Simeão, que em 1983 foi representada pelo Sr. Bento Mário e que 25 anos depois voltou a ser encarnada pela mesma pessoa. Aliás é o único que se manteve durante todos estes anos com a mesma personagem, sendo de facto um dos mais bem caracterizados. Como em todos os eventos algumas peripécias aconteceram e merecem ser referenciadas, especialmente a caracterização do Rei Mago Belchior, que pela sua cor de pele de tez negra, demorava imenso tempo a caracterizar e sobretudo a retirar toda aquela cor escura do rosto e das mãos. Quando todos já estavam completamente descaracterizados, o “coitado” do Ivan Filipe ainda estava às voltas com o desmaquilhante e com a ciclópica tarefa de limpar o rosto. Parabéns pelo sacrifício, porque é uma das personagens mais difíceis de todo o Presépio. Para terminar um agradecimento muito especial aos casais que “emprestaram” os Meninos Jesus. Vitor Almeida e Cláudia Brandão, pais da Matilde, Fernando e Célia Sanches, pais da Sofia, Leonor Santos e Rodolfo Rodrigues, respectivamente mãe e primo do pequeno Rodrigo. Todos eles se mostraram à altura deste grande acontecimento e até os bebés, que nunca choraram. Parabéns a todos. Por último, em jeito de balanço, a organização considerou este Presépio ao Vivo muito positivo, como se poderá verificar pelas palavras do seu principal responsável, Manuel Couto (ver peça na página 5). Eventos deste tipo são para repetir, não para a o próximo ano, mas seguramente em anos futuros. Bem-haja a todos pela colaboração prestada.

José Eduardo Sousa in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 10 - Janeiro de 2009

Manuel Couto - Exemplo de Dedicação

Por ocasião do Presépio ao Vivo de 2003, A Voz de Leça entrevistava o José Eduardo Sousa, responsável da APJ na altura e principal mentor da sua realização, 20 anos depois da primeira edição, em 1983.
Agora, encerrado o Presépio ao Vivo de 2008, conversamos com o Manuel Couto, um dos principais responsáveis pela realização de agora.
O Presépio ao Vivo foi o pretexto para a entrevista, porque por todo o trabalho dedicado que o Couto desenvolve na Paróquia, já se impunha este registo. Não há quem não o conheça, embora a sua presença seja sempre mais visível quando se trata da Confraria de S. Miguel Arcanjo, (onde desempenha as funções de tesoureiro), e de tudo o que se relacione com o nosso Padroeiro. Ultimamente integra também a equipa técnica do Grupo Paroquial de Teatro e é sócio-colaborador do Rancho Típico da Amorosa. No entanto, a sua intervenção é transversal a todos os Grupos Paroquiais, já que, a nível da logística é essencial a sua colaboração, pela polivalência de capacidades que possui, que é como quem diz, tem jeito para quase tudo e, perante um desafio nunca diz que não é possível. Depois são as longas horas do seu tempo livre que dedica a tudo o que é necessário fazer na Paróquia, estando sempre pronto a preencher a falta de alguma coisa ou de alguém, sempre que for preciso. A sua dedicação chega ao ponto de programar o gozo das férias profissionais em função de momentos importantes de actividade Paroquial, para se poder dedicar a tempo inteiro, como acontece todos os anos em finais de Julho e de Setembro, por ocasião das festas Paroquiais de Sant’Ana e S. Miguel Arcanjo. Também muitas das actividades que integram o FESTARTE e têm lugar em espaços da Paróquia passam por ele. Nessa altura, os seus dias são totalmente dedicados à logística dessas actividades, que são da responsabilidade do R.T.A.
Foi com esse mesmo empenho que o Couto se envolveu na organização deste Presépio ao Vivo, que aconteceu cinco anos depois da última edição por variadíssimas razões, que enumera, “Primeiro porque, para ter impacto, tem que ser espaçado. Se fosse feito logo a seguir a 2003, deixava de ser interessante, depois porque dá muito trabalho a montar e dada a ocupação da sala de espectáculos do Salão com as festas de Natal das escolas da freguesia, o tempo é muito curto para um evento desta envergadura. Há ainda o facto de, em 2008, a véspera e o dia de Natal terem calhado a meio da semana, o que permitiu que o Presépio fosse ao fim de semana e não colidisse com os momentos que as pessoas privilegiam para estar em família. Lembra ainda a oportunidade da realização, 25 anos depois da primeira, que aconteceu em 1983, “Se as pessoas se lembrarem, em 1983, o Presépio ao Vivo foi em moldes um pouco diferentes, na sala 1 do Salão. Só voltou a fazer-se 20 anos depois e a edição de agora é como que uma homenagem ao Sr. Jorge Bento, que pintou os cenários dos ‘quadros’, que ainda hoje usamos.”
Como já referido, sem o Couto o Presépio não se tinha feito e embora em 2003 também tivesse participado activamente na sua montagem, onde foi figurante, foi da conjugação da experiência de quem organizou em 2003, do seu engenho e do seu ‘jeito para tudo’ que se chegou a uma versão ‘melhor’ que a anterior. “Da última vez para agora fez-se alterações para melhorar e também para ser diferente. Acho que até podia ter sido melhor se tivéssemos tido mais algum tempo para a montagem. As alterações que introduzimos relativamente à edição de há 5 anos não foram muito significativas e quem está ‘de fora’ nem se dá conta. Como as visitas ao Presépio são guiadas e em grupo, porque cada ‘quadro’ tem teatralização com banda sonora, aumentou-se a abertura dos cenários dos ‘quadros’ 1, 2, 4 e 5, para poderem ser visitados por grupos maiores e o ‘quadro’ 3, o do Nascimento de Jesus, que fica no palco, foi colocado mais perto dos visitantes, já que, da edição anterior ficou a opinião de que o Menino Jesus tinha ficado muito longe.”
Foi o Couto também o grande ‘angariador’ de figurantes para este Presépio ao Vivo, “A maioria já tinha participado no Presépio de 2003, mas o Sr. Bento Mário é o ‘totalista’, porque representou o velho Simeão nas três edições do Presépio ao Vivo: em 1983, 2003 e 2008. A Sagrada Família foi representada por três famílias, que, com muito gosto, responderam afirmativamente ao convite que fiz, quando se partiu apara a organização”
Desta vez parecia que a afluência de visitantes não ia ser comparável à edição anterior, em especial devido às condições climatéricas que nos primeiros dias foram muito desfavoráveis, mas ao terceiro dia já havia filas enormes.
E foi, precisamente, a enorme afluência de público verificada na edição anterior que levou a que, desta vez, o Presépio pudesse ser visitado durante seis dias, enquanto em 2003 esteve patente durante apenas quatro. “O alargamento da apresentação do Presépio de quatro para seis dias teve a ver com a afluência de público, que excedeu largamente as expectativas, em 2003, e assim, com mais dias de apresentação permitiu a visita a muitas mais pessoas, mesmo àquelas que não se aperceberam, logo no início, de que estava a haver o Presépio. Além disso, permitiu menos horas seguidas de apresentação, não sendo tão cansativo para quem fez a figuração.”
E se o Couto está sempre presente e disponível para ajudar e colaborar com os Grupos da Paróquia sempre que é solicitado, dando o seu melhor, agora, que foi o próprio a pedir a colaboração de todos para levar a cabo a montagem e realização do Presépio ao Vivo de 2008, todos disseram ‘presente’. “Destaco a preciosa colaboração do Grupo Paroquial de Teatro, Confraria de S. Miguel, Confraria do Santíssimo Sacramento, Irmandades de Nossa Senhora de Fátima da Igreja Paroquial e de Monte Espinho, Caminho Neocatecumenal, Acólitos da Igreja e Monte Espinho, Pagens do Santíssimo Sacramento, Assembleia Paroquial de Jovens, Catequese, jornal A Voz de Leça e o Rancho Típico da Amorosa.”
Das muitas colaborações individuais, o Couto destaca duas, em especial o José Eduardo Sousa, que foi o seu ‘braço direito’ e o António Paiva, encenador do Grupo Paroquial de Teatro, que estendeu essa função à teatralização dos cinco ‘quadro’ que integram o Presépio ao Vivo.
Para o Couto, o balanço do Presépio ao Vivo de 2008 é absolutamente positivo, ”porque todos os que trabalhámos para o levar a cabo, fizemo-lo com muito gosto e dedicação pela Paróquia. Foi também muito pelas crianças que o fizemos, para que não cresçam convencidas de que o Natal é apenas a euforia dos centros comerciais e das prendas, mas para que saibam que tudo começou numa gruta, junto dos animais, num ambiente de muita pobreza e humildade.”
Quando voltará a haver Presépio ao Vivo, “Não será para já, porque tem que se conjugar uma série de coisas. Não demorará, certamente, 20 anos a repetir, desde que todos os que nos empenhamos agora tenhamos saúde, porque vontade de trabalhar em prol da Comunidade Paroquial não nos faltará, tenho a certeza.”
A nossa conversa terminou com um agradecimento ao nosso Pároco, Sr. Padre Lemos, por lhe permitir ter um papel tão interventivo na actividade Paroquial. Também a família próxima do Couto merece apreço, porque, para dedicar tanto tempo ao trabalho desinteressado na Paróquia, a vida familiar é afectada muito frequentemente, sendo tantas vezes condicionada a essa actividade.
A Paróquia de Leça da Palmeira agradece ao Manuel Couto toda a dedicação e entrega generosa.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 10 - Janeiro de 2009

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Padre Lemos - 30 Anos de Pároco de Leça da Palmeira

O nosso Pároco completa este mês 30 anos ao serviço de Leça da Palmeira. Assumiu a nossa Paróquia em 23 de Dezembro de 1978, passando a director d’ A Voz de Leça por inerência de funções, quando o Jornal comemorou 25 anos de publicação.
Ordenado sacerdote há 55 anos, o Padre Lemos passou já mais de metade desse tempo como nosso pastor, com uma notável disponibilidade para o Senhor e para esta Comunidade. Se em 1978, quando aqui celebrou pela primeira vez, por circunstâncias da época a sua ‘chegada’ passou sem registo, quando celebrou as Bodas de Prata Paroquiais, em Dezembro de 2003,a Paróquia prestou-lhe uma mais que merecida homenagem, por toda a generosidade e entrega com que abraçou esta terra e as suas tradições, num contributo importante para a consolidação da nossa identidade cultural e social.
Hoje, é por sua vontade que não há uma comemoração formal desta data também importante – como diz o Padre Lemos, na sua habitual boa disposição’ é um ’jovem Pároco com 30 anos’. Enquanto sua Comunidade Paroquial gostávamos de o homenagear de maneira mais formal, embora saibamos como não gosta de protagonismos, como se emociona nestas ocasiões, sobretudo depois de um início de ano um em que alguns problemas de saúde o privaram do exercício pleno da sua pastoral. No entanto, não podemos deixar de o saudar nesta data, e sobretudo de lhe agradecer toda a dedicação a este Jornal e a Leça da Palmeira.
Todos quantos privam com o Padre Lemos n’ A Voz de LEÇA, na Catequese, as Confrarias, Coros e demais Grupos Paroquiais testemunham dia-a-dia essa vida de serviço a esta Paróquia, onde chegou há 30 anos e onde tem feito obra - de conservação do património religioso, mas também cuidando do “património humano”, sobretudo do menos favorecido desta nossa Comunidade.
O Padre Lemos nasceu a 13 de Junho de 1928, em Penha Longa (Marco de Canavezes) e aí sentiu o chamamento de Senhor. Frequentou os Seminários de Trancoso, Vilar e da Sé entre 1942 e 1950, foi ordenado sacerdote a 1 de Agosto de 1954. Até aqui chegar, foi professor no Seminário de Vilar, Notário do Tribunal Eclesiástico e Reitor da Igreja dos Clérigos. A par destas actividades, colaborou com o Movimento dos Cursos de Cristandade durante dezassete anos, e foi Assistente dos Cursos de Preparação para o Matrimónio e das Equipas de Casais de Nossa Senhora durante quinze anos.
Enquanto Pároco de Leça, a sua obra poderá não ser tão visível como a do anterior Pároco – mas tão importante como construir de novo é zelar para a conservação do património existente e isso tem sido feito com muita pertinência e eficácia pelo Padre Lemos. A ele se deve a recuperação das várias Capelas, (da Boa Nova, de Santa Catarina, do Corpo Santo, de Sant’Ana e da Senhora da Piedade), do exterior e interior da Igreja Matriz (substituição do telhado, reforço da segurança, restauro dos altares), muita investigação sobre a história de Leça e do seu património religioso, nomeadamente quanto à datação das origens da templo actual, (uma pequena igreja, talvez do tamanho da Capela de Santa Catarina, ou seja mais pequena do que a capela-mor actual), à configuração e dissimetria dos altares laterais, a criação do Museu Paroquial, (que é riquíssimo e só não é visível e visitável por razões de segurança). Foi da sua iniciativa que, há quase dois anos, a Paróquia ficou a conhecer e homenageou a memória do Abade Mondego, que aqui foi Pároco no início do séc. XX e uma figura importante por toda a acção que desenvolveu, enquanto sacerdote, enquanto político e cientista. Foi uma agradável surpresa para a maioria de nós conhecer a vida deste clérigo, de que apenas existe um retrato a óleo na Galeria dos Párocos.
Em Julho de 2004, foi também com o seu patrocínio que se mandou fazer e inaugurou solenemente um busto do falecido Padre Alcino Vieira, que está colocado em frente ao Salão Paroquial.
Da acção evangelizadora do Padre Lemos surgiu o Grupo de Pagens do Santíssimo Sacramento e nasceu a Comunidade de Monte Espinho, que, tendo já construída a sua Capela há alguns anos, trabalha para concretizar a outra ‘parte do ‘projecto’: a construção do seu Centro. Foi por sua iniciativa que foram recuperadas algumas actividades religiosas tradicionais de Leça – foram repostas a Visita Pascal e as Procissões dos Passos, do Senhor Morto, do Corpo de Deus e a mais antiga de todas, a do Padroeiro, S. Miguel Arcânjo. Com o P.e Lemos surgiram também as Procissões de Velas de 12 de Maio e 12 de Outubro, bem como a Procissão do Senhor do Padrão, em Parceria com a Paróquia de Matosinhos. Mas deu também continuidade à obra social que o seu antecessor deixou e se o Padre Alcino ‘construiu’ o Bairro dos Pobres, o Padre Lemos criou o ‘Dia da Caridade’, que acontece no segundo domingo de cada mês, em que os cristãos, após receberem o Pão de Deus na Eucaristia, se dão aos mais desfavorecidos através dos seus donativos. Ainda neste âmbito há a sua responsabilidade na Obra do Padre Grilo, cuja direcção assumiu pouco tempo de pois de se tornar Pároco, bem como a assistência que presta à obra do Apostolado do Mar (Stella Maris), aqui em Leça.
Neste seu caminho de consagração ao Senhor, está sempre presente a memória de sua mãe, que recorda de forma sentida, pelo exemplo de serviço aos outros e pelo testemunho de fé.
Por ocasião das suas Bodas de Ouro Sacerdotais, (que celebrou com D. Armindo Lopes Coelho), escreveu uma oração que intitulou ‘OBRIGADO, SENHOR.’, que é reveladora da sua atitude de serviço aos outros, de doação generosa a esta terra, tão diferente da sua, até pela distância geográfica, se não por tudo o resto, (o tamanho, a população, os estilos de vida, a envolvência – o mar – a proximidade com uma cidade grande…). Com esse ‘Obrigado’ curva-se perante a vontade do Senhor, num humilde agradecimento por tudo o que lhe foi dado durante aqueles 50 anos ao Seu serviço. Hoje, ao fim de 30 anos como nosso pastor e quase 55 de sacerdócio, é essa ainda e sempre a postura do Padre Lemos – de serviço aos outros para o Senhor, gratificado nessa sua missão. Foi certamente assim que sempre se viu servindo-O sem reservas, sempre ‘vendo’ a Sua acção nas mais pequenas coisas como nas mais importante.
O Padre Lemos faz também parte da história d’ A Voz de Leça, e da história pessoal de todos os que hoje fazemos e/ou fizemos este Jornal. Por seu desafio “pegamos” nele, há 23 anos. Pelo Padre Lemos continuamos, mesmo quando foi difícil, mesmo quando continuar não parecia mais possível. O seu exemplo de serviço a esta Comunidade ajudou-nos a seguir em frente e continua a congregar todos quantos, de alguma forma, se empenham na elaboração desta publicação, mês após mês.

Não posso deixar de recordar aqui o extinto Coro MILIUM, que ‘nasceu’ na primeira missa que o Padre Lemos aqui celebrou, às 19 horas de um sábado, dia 23 de Dezembro de 1978, e que desapareceu há cerca de um ano, quando, por razões de saúde do nosso Pároco, teve que haver alteração do calendário das missas do fim-de-semana.
Acabou uns dias após ter completado 29 de vida.
Fará sempre parte da história de todos quantos o integraram e do nosso Pároco também, porque apesar de não ter sido fundado por sua iniciativa, começou na sua primeira missa cá e foi ele que lhe deu o nome.

Ao Padre Lemos só podemos dizer “Muito Obrigado, por tudo” e pedir ao Senhor que o conserve junto de nós, para que o seu testemunho de vida, de pastoral religiosa e social continue a ser fonte de inspiração e de força para esta sua Comunidade Paroquial.

“9 PEÇAS” de ANTÓNIO PAIVA em 30 ANOS do G.P.T.L.

No âmbito das comemorações do 30º aniversário do Grupo Paroquial de Teatro, o encenador António Paiva, lançou, a 8 de Novembro, uma colectânea das nove peças de teatro que escreveu para o G.P.T.L., nos últimos 10 anos.
O lançamento decorreu no Salão Paroquial, no mesmo palco que é o seu ‘chão’ – ali se passa tudo: ali se ensaia semana após semana, ali se constroem cenários, ali se sente o ‘nervoso miudinho’ em dia de estreia, ali se ‘solta’ a arte em cada representação, ali o G.P.T.L. recebe os seus ‘convidados’, que, desde 1986, cá têm vindo aos “Encontros” de Teatro.
Na plateia da Salão, nessa tarde particularmente fria, estiveram os actuais componentes do Grupo Paroquial de Teatro, mas também quase todos os outros actores e actrizes que por ele passaram e que não quiseram deixar de dizer ‘presente’ num momento importante para o Paiva e para o Grupo. Assim, foi rodeado de amigos, numa cerimónia simples e informal que António Paiva concretizou o sonho de ver o seu trabalho publicado.
António Chilro abriu a sessão saudando os presentes, em especial os antigos membros do G.P.T.L., e felicitando o encenador pela sua dedicação ao Grupo e ao Teatro.
Luísa Paiva, presidente do G.P.T.L., recordou a fundação do Grupo de uma perspectiva mais pessoal e familiar, como é natural, e agradeceu o empenho de todos para que a publicação da colectânea fosse possível.
Seguiu-se a homenagem sentida de um outro homem de Teatro – Alfredo Correia, actor e encenador, ele próprio director artístico do AMASPORTO – festival de Teatro de Ramalde, que atribuiu ao António Paiva, em 1999, o “Prémio Talma”. Este prémio destina-se a reconhecer homens e mulheres do Teatro Amador que de alguma forma contribuíram para o prestígio do Teatro associativo e para o desenvolvimento local em que se inserem. Dirigindo-se aos “amigos do Teatro e aos companheiros de outros palcos”, Alfredo Correia, que escreveu o prefácio da colectânea “9 Peças”, fez o elogio do seu ‘companheiro’ de arte e do G.P.T.L. pelo contributo para “o enriquecimento da Dramaturgia Portuguesa, em particular os Amadores, o Teatro Associativo” e pelo “exemplo a seguir, pelo que dignifica o bom nome do Teatro de Amadores. O António Paiva é merecedor deste reconhecimento, o que me leva até 1999, quando o AMASPORTO lhe atribuiu o “Prémio Talma” e me faz sentir ainda mais orgulhoso por me ter escolhido para escrever o prefácio. Foi com prazer que o fiz e sinto-me honrado com isso. António Paiva, com esta maneira particular de escrever para o seu Grupo representar, tem uma atitude generosa que traduz bem a paixão que nutre pelo seu Grupo de Teatro, como se de uma família se tratasse. Trabalha de forma incansável, ‘esgravatando’ aqui e ali, coisas e causas, temas e ideias, para levar para ‘casa’ e, assim, poder ‘sustentar’ melhor a sua família teatral, que há 30 anos criou e dirige, na certeza de que os seus companheiros de palco e equipa técnica vão gostar desse ‘pão cultural’ e o vão consumir artisticamente. É com esta forma de estar no Teatro que o António Paiva é um contributo cultural precioso, tanto para a sua família teatral como para quantos se consideram ‘Amantes de Talma*”. (…) “Também estou certo que os mais pequenos – crianças, adolescentes e jovens que pela sua mão têm aprendido a caminhar nas tábuas do palco, vão, um dia, quando mais crescidos, já com os seus cursos superiores concluídos, poder dizer que valeu a pena estar no Teatro de Leça, porque aprenderam a estudar melhor e a crescer como gente.” Depois citou partes de um manifesto, por si redigido em 1997, que consta dos programas do AMASPORTO, para vincar o papel importante que o Teatro Amador pode ter na formação de cidadãos: “…o Teatro de Amadores das Associações tem de facto um ‘papel principal’ no desenvolvimento cultural dos locais e regiões onde está inserido. (…) “… tal como no Ensino Básico, o Teatro Associativo é uma ‘escola’ necessária no desenvolvimento social…” (…) “A criatividade, o espírito de sacrifício, a solidariedade, quando aliados a uma saudável aprendizagem associativa, são verdadeiramente bases socioculturais importantes que o Teatro coloca à disposição da sociedade, substituindo, em grande medida, o ‘papel principal’ dos governantes.” Terminou apelando ao “quanto é importante saber o que é a responsabilidade de ser AMADOR DE TEATRO, porque o Teatro de Amadores das Associações – o TEATRO ASSOCIATIVO – é de facto, e sem demagogias, uma grande ‘escola de humanização’ para a vida social, cultural e associativa. O António Paiva é um importante prestador de serviço do Teatro Associativo, que devemos preservar e conservar. É um privilégio tê-lo no seio da Família Teatral Associativa. Obrigado António Paiva.”
Muito aplaudido, António Paiva agradeceu a presença de todos, actuais e antigos membros do G.P.T.L. Passou, então, a explicar o que o levou a tornar-se autor. Como é costume dizer-se ‘a necessidade aguça o engenho’ e foi o que aconteceu naquele caso. Há cerca de 10 anos, quando no G.P.T.L. havia mais actrizes que actores, perante a dificuldade em arranjar peças com predominância de papéis femininos, já que em tudo o que havia, a maioria esmagadora eram papéis masculinos, pôs a si próprio o desafio de escrever para a ‘sua gente’. Não foi fácil, mas os muitos anos de Teatro, a ‘mexer’ com as peças dos ‘outros’, deram-lhe algum traquejo e já vão nove. Referiu também os apoios de algumas firmas, enfatizando a importância do apoio prestado pela Junta de Freguesia, ali representada por Luís Soares, sem o qual nada teria sido possível. Do representante da Autarquia de Leça vieram palavras de elogio pelo trabalho em prol do Teatro e da elevação do nome de Leça da Palmeira.
Seguiu-se um ‘porto de honra’ no átrio do Salão, durante o qual todos os antigos membros do G.
P.T.L. e os convidados receberam um exemplar do “9 Peças”.
Conversando em particular com António Paiva, já depois do lançamento da colectânea, recordou para A Voz de Leça a génese do Grupo, em 1978, exactamente no dia 5 de Outubro desse ano, no encerramento de um encontro de antigos membros da JOC, (Juventude Operária Católica). Inicialmente Grupo de Acção Paroquial, (G.A.P.), o Teatro era apenas uma actividade do Grupo, já que dele nasceu igualmente a chamada ‘Escola de Leitores da Liturgia’ e o que viria a ser o ‘Centro de Dia da Terceira Idade’, hoje a funcionar em instalações próprias. Como o Teatro estava na vida do Paiva desde a sua primeira juventude as outras vertentes do G.A.P. tinham ganho autonomia, começava ali um percurso, hoje com 30 anos, impulsionado também pelo apoio do Capitão Abreu e Sousa.
Uma das dificuldades iniciais foi, precisamente a falta de actrizes, pois naquela época as jovens ficavam mais por casa e estava fora de questão sair à noite – e os ensaios eram, como hoje, à noite. Daí que, mesmo os pouco abundantes papéis femininos não eram fáceis de atribuir e “…quando havia papéis de raparigas jovens, eram as actrizes, às vezes com mais de trinta anos, que os tinham que fazer.” Com o passar do tempo, os costumes foram-se alterando, a mulher passou a sair mais, logo a participar mais em actividades culturais e o défice passou a ser de homens / actores, que é o que ainda acontece hoje em dia. Daí a necessidade que sentiu, de, em 1998, escrever para Teatro, usando a sua experiência de muitos anos. “Aos 19 anos já fazia Teatro, primeiro na JOC, depois num grupo que havia em Gonçalves e mais tarde no Rancho Infantil de Matosinhos. Era para ir para o Aurora da Liberdade, mas aí entrou a velha rivalidade entre Leça e Matosinhos e acharam que não precisavam de gente de Leça. (…) Escrever para Teatro não foi fácil. Eu às vezes criticava os autores, achava que ‘ganhavam à linha’; as peças eram muito longas, até repetitivas. Enquanto encenador fiz e faço cortes, muitas vezes. Esse ‘mexer’ com textos de outros deu-me alguma experiência.”
A primeira peça que escreveu, “O Retrato”, que envolvia 14 actores e actrizes, sendo uma comédia como todas as outras de que é autor, foi a de que mais gostou. “As outras são, se calhar, mais engraçadas, mas aquela tem o chamado ‘humor britânico’, de piada indirecta.”
A inspiração para a escrita pode ser de vária ordem, por exemplo, “A Ressurreição de Alguns” surgiu após a leitura de um artigo sobre a sempre polémica ‘doação de órgãos’.
Ser o próprio encenador do Grupo a escrever a peça tem vantagens, “…porque escrevo para quem tenho. Se eu sei que no próximo ano alguém não vai poder estar, por variadíssimas razões, já sei com quem conto e evito a questão de ter que andar à procura de peça ou de ter que fazer muitas adaptações. Posso, inclusivamente, adaptar o papel às características físicas de quem o vai fazer.”
Quando se referiu à primeira peça que escreveu, António Paiva afirmou “A partir daí, ganhei gosto.”
Do entusiasmo com que fala da sua vida ‘no palco’, porque é ao Teatro que dedica todo o seu tempo, percebe-se o que quer dizer com aquela frase simples.
O Paiva vai, certamente, continuar a escrever para o ‘seu’ Grupo e vai continuar a sonhar.

Parabéns pela dedicação e talento.
Parabéns ao G.P.T.L.

Marina Sequeira in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 9 - Dezembro de 2008
* François Joseph Talma – actor amador francês nascido no século XVIII, que s estreou na Comédie-Française aos 24 anos. Foi pioneiro do realismo nos cenário e trajes, o que foi uma novidade no Teatro do século XVIII. Amigo de Napoleão Bonaparte e de outros revolucionários, Talma acabaria por ter um papel importante na reforma do Teatro francês.

Engº Pinto de Oliveira - O Presidente

Foi o tema de abertura das conferências sob o tema “Ilustres Leceiros” promovidas pela Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, que levámos a efeito no último dia 8 de Novembro.
FERNANDO PINTO DE OLIVEIRA, era filho de Alfredo Pinto de Oliveira e de D. Cacilda Leite Ferraz Vieira de Oliveira, nascido em Leça da Palmeira, a 15 de Setembro de 1911, numa casa da Rua Direita, hoje, com o n.º 66.
Pertenceu a uma família que sempre serviu a terra, pois era bisneto de Maria Francisca dos Santos Pinto de Araújo, benemérita leceira responsável por um dos restauros da nossa Igreja, onde existe uma placa assinalando tal facto. Era sobrinho-bisneto de João Pinto de Araújo que para além de um restauro da igreja também mandou construir o miramar na antiga barra do Leça e que hoje se encontra na nossa praia, devido às obras de construção do Porto de Leixões.
São indissociáveis do Eng.º Fernando Pinto de Oliveira seus irmãos, D. Maria Lina Cameira e o General Alfredo Pinto de Oliveira.
Foi baptizado na Igreja Matriz de Leça da Palmeira pelo Abade José dos Santos Mondego.
Fez a instrução primária no “Colégio Modelar” da D. Marquinhas Pires, na Rua Direita, onde completou com distinção a 4.ª classe (2.º grau).
Fez o ensino secundário no Liceu Rodrigues de Freitas, antigo D. Manuel II, na cidade do Porto.
Posteriormente frequentou o Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde em 1938 se licenciou como Engenheiro Agrónomo, tendo apresentado como dissertação final do curso um pormenorizado trabalho efectuado nos Laboratórios do Instituto dos Vinhos do Porto, intitulado “Subsídios Para o Estudo das Substâncias Azotadas, nos Vinhos do Porto” e publicado nos Anais deste instituto em 1942.
Também prestou serviço militar e de 1943 a 1950 desempenhou diversas funções públicas relacionadas com o seu curso.
Em 1950, entrou para a Câmara Municipal de Matosinhos para vereador do então Presidente Dr. Fernando Aroso, tendo ocupado a presidência da Comissão Municipal de Turismo, onde exerceu uma acção relevante, criando o Posto de Turismo, no Mercado de Matosinhos, onde além de outras actividades se realizaram exposições de arte permanentes.
Ocupou também o cargo de vice-presidente, tendo sido leal adjunto de Fernando Aroso, o que fez com que após a morte deste, muito naturalmente fosse nomeado, por escolha governamental, para o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos.
Se ao Dr. Fernando da Hora Aroso podemos atribuir a pavimentação a cubos de granito das principais estradas do concelho, ao Eng.º Fernando Pinto de Oliveira devemos atribuir uma série de melhoramentos na vertente turística, estando ainda hoje a sua obra como edil à vista dos olhos de todos, sendo algumas delas visitadas por estrangeiros e nacionais que aqui se deslocam para as admirar.
Estamos a falar, nomeadamente, da Casa de Chá da Boa Nova, da Piscina de “Marés”. Devendo-se-lhe também a aquisição das Quintas da Conceição de Santiago, e Parque de Campismo de Angeiras.
Contudo o grande sonho do Eng.º Pinto de Oliveira era o de tornar os terrenos a Norte do Farol da Boa Nova uma zona de lazer, eventualmente num campo de “golf” municipal; por isso logo que soube que o governo de então aí ia instalar uma empresa petrolífera, a então Sacor, partiu para Lisboa numa derradeira tentativa de evitar a destruição do planalto da Boa Nova. Não conseguiu demover a inabalável decisão do governo! Recusou-se a aceitar a vinda desse empreendimento; porém, o absurdo concretizou-se pela força dos seus promotores e, o que era o maior pulmão da cidade de Matosinhos, veio a transformar-se na sede do maior dos seus poluidores.
Perante a insistência governamental, aceitou a SACOR, mas recusou-se a assistir à sua inauguração, o que talvez lhe tenha valido a não renovação do mandato, deixando assim a Câmara em 1970, após doze anos de brilhante serviço à sua terra com total dedicação.
Faleceu no dia 1 de Março de 1975, com 63 anos de idade e assim se encerrou um projecto, um percurso que iria dar a Matosinhos um aspecto bem diferente, pois sabe-se hoje que o turismo é a indústria do século XXI, o que nos leva a afirmar com toda a convicção que com a política que desenvolveu, o Eng.º Fernando Pinto de Oliveira estava adiantado 50 anos no seu projecto para Matosinhos.

Engº Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 9 - Dezembro de 2008