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A Equipa Redactorial

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Do Tempo dos Eléctricos

Há tempos o Arqt.º José Salgado autografou-nos um dos números da nova monografia de Matosinhos com a dedicatória: “Em lembrança dos velhos tempos dos eléctricos…”. Esta tocou-nos o coração e espevitou-nos a memória relativamente a um meio de transporte que utilizámos, e com o qual convivemos durante toda a nossa vida de estudante e que vimos, com tristeza desaparecer primeiro da paisagem de Leça da Palmeira e mais tarde praticamente de toda a cidade do Porto e arredores, assistindo agora a um ressurgir tímido mas de saudar.
Sempre conhecemos como entidade exploradora dos carros eléctricos, o Serviço de Transportes Colectivos do Porto, vulgo S.T.C.P., com sede na avenida da Boavista, onde nos deslocámos para tratarmos do passe de estudante, documento que nos permitia viajar para o Liceu Nacional D. Manuel II, no Porto, a um preço mais acessível. Estamos até convencidos que, para além do esforço de toda a família, principalmente do nosso pai, foi um facto que nos permitiu frequentar o liceu; pois, o acesso ao Porto era fácil e rápido, uma vez que de Matosinhos à Carvalhosa demorava trinta minutos, ao preço de 1$20 (doze tostões) mas que logo subiu para 1$50 (quinze tostões).
Sabemos também que o S.T.C.P. sucedeu à Companhia Carris de Ferro do Porto e à Companhia Carril Americano, as quais asseguraram durante muitos anos os transportes públicos para Matosinhos e Leça da Palmeira a tracção a vapor e a tracção animal, respectivamente. Mais modernamente passou a ser utilizada a tracção eléctrica.
Os carros americanos, a tracção animal ainda chegaram a vir a Leça, contudo do que as gerações menos novas se lembram é dos nossos queridos carros eléctricos, das linhas 1, 5, 16 e 19 que proporcionavam viagens maravilhosas nos seus trajectos do Porto até Leça e volta.
A Linha 1 era um espectáculo! Com um percurso ente a Praça da Liberdade (D. Pedro) e a praia de Leça da Palmeira, sempre pela marginal, junto ao mar, tendo normalmente um atrelado.
A Linha 5, também normalmente com atrelado, fazia o trajecto da praia de Leça ao Carmo, subindo a Avenida da Boavista, passava a rua do mesmo nome, Carvalhosa, Cedofeita, Praça de Carlos Alberto e Cordoaria, contornando o edifício da Faculdade de Ciências, passava os Leões, descia ao Hospital de Santo António, entrava na Rua do Rosário, vinha à Carvalhosa, retomando a partir daí o caminho de ida.
A Linha 16 fazia o percurso de Leça, junto ao actual quartel dos Bombeiros de Leça da Palmeira, onde fazia agulha; isto é, mudava de linha, tendo como consequência ser necessário virar os bancos, para o que os mesmos tinham as costas móveis. Subia a Avenida da Boavista em direcção à Praça da República, descia Gonçalo Cristóvão, entrando na Rua de Santa Catarina a caminho da Praça da Batalha, a qual contornava fazendo o mesmo percurso no regresso.
A Linha 19, fazia o trajecto entre a Praça da Liberdade e Leça, até junto aos bombeiros; subindo as ruas dos Clérigos e Carmelitas, atravessava a Praça dos Leões, jardim do Carregal, entrando na Rua de D. Manuel II, Palácio, rua Júlio Dinis, rotunda da Boavista (Praça Afonso de Albuquerque) descia a Avenida em direcção a esta nossa linda terra.
Feita esta vista panorâmica sobre os trajectos não podemos deixar de referir alguns episódios relacionados com carros eléctricos, que nos marcaram, como o acidente do nosso irmão Joaquim que quando tentava apanhar o eléctrico já em andamento, que o transportaria à Escola Industrial Infante D. Henrique, onde frequentava o curso de serralheiro mecânico, caiu, magoando-se imenso, levando a um prolongado internamento no Hospital de Matosinhos, tendo a nossa mãe Brízida em hora de aflição, prometido uma coroa em prata para Nossa Senhora de Fátima, que à data existia no Hospital. Ainda hoje a nossa mãe guarda as canetas e os lápis que o nosso irmão transportava no bolso do casaco e que ficaram esmagados sob os pesados rodados.
Mas nem tudo era triste, como o episódio que acabamos de contar, pois deslocando-se o nosso pai, semanalmente à segunda-feira, à rua dos Caldeireiros, na Cordoaria, para aquisição do material para trabalhar, por vezes levava-nos com ele, e nós muito pequenos como gostávamos daquela viagem comentada!
Apanhávamos o eléctrico da linha 5 no fim da nossa rua junto aos bombeiros, e depois de passada uma vista de olhos ao jornal eis que chegávamos à Circunvalação e aí começava a descrição pelo Castelo do Queijo. Subindo a Avenida da Boavista logo no inicio o Café Bela Cruz, depois eram os belos palacetes, a Fábrica dos Ingleses (William Grham) no Pinheiro Manso, entretanto chegávamos à Rotunda da Boavista, e já de longe comentávamos o Monumento à Guerra Peninsular, admirando lá no alto o leão em cima da águia. Na rua de Cedofeita não deixava de apontar o Bazar dos Três Vinténs repleto de brinquedos que nos limitávamos a ver na montra. Logo de seguida a Praça de Carlos Alberto com o momento aos Mortos das Grandes Guerras, e eis-nos chegados ao Jardim da Cordoaria, hoje completamente desfigurado.
Antes de regressarmos ainda íamos ver o Mercado do Bolhão, e ao lago da Cordoaria ver os peixes e os patos, por vezes visitávamos a nossa tia Carolina que vivia na rua do Barão de Forrester.
Já no eléctrico, normalmente o da linha 19, para passarmos ao Palácio e a volta ficar completa, recordava-mos as caixilharias brancas da bela fachada do Hospital de Santo António, para onde havíamos sido levados com cerca de quatro anos para nos retirarem das narinas grãos de milho e feijão que lá havíamos metido por traquinice de criança, que fomos buscar à saca das compras semanais que a nossa tia Palmira tinha trazido do mercado de Matosinhos.
Eram estes, enfim, os passeios com que a gente humilde se contentava mas que nos deixavam gratas recordações, nos ensinaram a apreciar e a gostar dos pormenores da nossa terra e da cidade grande mais próxima, o Porto; e também muitos dos conhecimentos que nos permitem agora registar e dar a conhecer aos mais novos e recordar aos mais velhos.

Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 5 - Julho/Agosto de 2008

Novo Bispo Auxiliar da Diocese do Porto

A Diocese do Porto tem um novo Bispo Auxiliar, D. João Evangelista Pimentel Lavrador, que se junta, assim, a D. João Miranda Teixeira e D. António Maria Bessa Taipa.
Natural de Mira (Coimbra), nasceu no dia 28 de Fevereiro de 1956 em Seixo de Mira. Estudou no Seminário de Buarcos, onde entrou em 1966, tendo terminado o curso de Teologia no Instituto Superior de Estudos Teológicos, em 1980. Foi ordenado Presbítero em Junho de 1981.Entre 1984 e 1988 foi responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e Assistente Regional do CNE. Durante este período, leccionou Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Normal de Educadores de Infância de Coimbra. Entre 1988 e 1990 frequentou a Universidade Pontifícia de Salamanca, terminando a licenciatura canónica na área da Teologia Dogmática com a apresentação da Dissertação «O Laicado no Magistério dos Bispos Portugueses, a partir do Vaticano II».
Em 1991 foi nomeado Reitor do Seminário Maior de Coimbra, cargo que ocupou até 1997. Doutorou-se em 1993, apresentando e defendendo a tese «Pensamento Teológico de D. Miguel da Annunciação – Bispo de Coimbra (1741 – 1779) e renovador da Diocese».
Entre 1993 e 1999 desempenhou também o cargo de Secretário-Geral do Sínodo Diocesano de Coimbra. Desde 1991 que é professor de Teologia Dogmática no ISET de Coimbra.
Foi nomeado Bispo Auxiliar do Porto no passado dia 7 de Maio e a Ordenação Episcopal ocorreu na Sé Nova de Coimbra no dia 29 de Junho.

Fonte: www.diocese-porto.pt
Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 5 - Julho/Agosto de 2008

Residência Paroquial - História de Uma Construção

Quem hoje olha para a actual Residência Paroquial pode achá-la um edifício demasiado imponente, mas poucos se recordarão do que levou à sua construção e muito menos da residência anterior, que estava situada noutro local. A Residência Paroquial original tinha sido construída no início do século XIX e estava localizada na área ocupada pelo actual adro e tômbola. Fora oferecida à Paróquia por José Domingues de Oliveira. No início dos anos 60 do século XX, o rebaixamento da actual Avenida Dr. Fernando Aroso, a construção do Salão Paroquial, a necessidade de alargamento do adro da Igreja Paroquial e, sobretudo, a necessidade de alojar os vários sacerdotes coadjutores do Pároco, levaram o Padre Alcino Vieira dos Santos a considerar a construção de uma nova Residência Paroquial. A inviabilidade funcional da Residência Paroquial existente, provocada pelo rebaixamento da actual Avenida Dr. Fernando Aroso, levou o Pároco e a Comissão Fabriqueira a negociar com a Câmara Municipal de Matosinhos a compensação pelos prejuízos provocados a toda a população católica de Leça da Palmeira.
Nesse sentido, foi proposto à autarquia a autorização para a construção de uma nova Residência Paroquial, no terreno oferecido pela Junta de Freguesia, comprometendo-se a Câmara a pagar o valor real do edifício existente. A Câmara Municipal aceitou as condições propostas pela Paróquia, indemnizando-a no valor de 310.000$00, permitindo igualmente o direito ao uso de todos os materiais da antiga residência e assumindo o compromisso de rebaixar o terreno, incorporando-o no adro da Igreja Paroquial.
Em Dezembro de 1961, o Padre Alcino apresentava neste Jornal o projecto da nova Residência Paroquial, que, tal como o do Salão Paroquial, foi da autoria do arquitecto Bruno Reis. A construção justificava-se porque «Por agora, o Pároco tem apenas um Coadjutor – o que é manifestamente insuficiente para as suas necessidades.
Forçosamente, em casa do Pároco se têm de hospedar outros Sacerdotes, chamados à colaboração com ele, como sejam Missionários, Pregadores, Confessores, etc.
Os Sacerdotes têm de ser homens de estudo; e daí, a necessidade de prever, não apenas instalações para atender o público – serviço de cartório – mas gabinetes remotos, onde se possam recolher, para o estudo e para a oração.
Ao número de Sacerdotes, corresponde, necessariamente, um número conveniente de pessoas que tratem da vida doméstica.
Tudo isto justifica o número de dependências constantes da planta.»
Em Maio de 1962, iniciaram-se as obras da nova residência paroquial, ao mesmo tempo que se concluíam as obras do Salão Paroquial e do Bairro dos Pobres. O apelo à generosidade dos paroquianos foi mais uma vez uma constante, por parte do Padre Alcino.
Três anos após o início das obras, a 3 de Maio de 1965, a actual Residência Paroquial era finalmente inaugurada, durante a Festa da Paróquia e contou com a presença de D. Alberto Cosme do Amaral, Bispo Auxiliar do Porto. Mais uma vez, os Leceiros deram uma prova cabal da sua dedicação e empenho às iniciativas da Paróquia. O empenho das forças vivas de Leça da Palmeira permitiu que o Pároco, os seus Coadjutores e o pessoal de apoio passasse a ter uma residência condigna, em termos de condições de habitabilidade e de espaço e que respondesse às necessidades da Igreja


Jorge Sequeira
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 5 - Julho/Agosto de 2008