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A Equipa Redactorial

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A Nova Igreja da Santíssima Trindade

No âmbito da Peregrinação Internacional de Outubro deste ano, no dia 12 do mesmo mês, foi inaugurada a nova Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, por Sua Eminência o Senhor Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, e Legado Pontifício para esta celebração, onde também estiveram presentes o Sr. Presidente da República e o Sr. Primeiro Ministro. O momento alto da celebração deu-se com a entrada da imagem de Nossa Senhora na nova basílica, vinda da Capelinha das Aparições. A porta principal foi oficialmente aberta pelo Sr. Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto.
A construção da nova igreja de Fátima, que é também o maior recinto público fechado do país, custou cerca de 80 milhões de Euros, pagos literalmente pelos donativos que os peregrinos foram deixando no Santuário ao longo do tempo.
De forma circular e com 125 metros de diâmetro, é sustentada por um enorme pilar que suporta toda a cobertura, o que evita a existência de colunas n o interior do templo. O mentor deste grande projecto arquitectónico foi o arquitecto grego Alexandre Tombazis, que procurou combinar a luz e a tecnologia, respeitando a atmosfera de Fátima.
A iluminação interior é feita através do tecto da igreja, por janelas voltadas para norte, o que permite que haja luz natural durante o dia. Também é possível, através de um sistema computadorizado, mudar a iluminação em diversos lugares e com diferentes intensidades. Este gigantesco projecto inclui um enorme espelho de água nas duas escadarias centrais paralelas à entrada. Tombazis admite que a existência deste espelho transmite ás pessoas calma e serenidade.
A porta principal da nova igreja á consagrada a Cristo, a as doze portas laterais aos Apóstolos.
Com o volume de quase 130 mil metros cúbicos e uma altura média de 15 metros, esta nova igreja tem capacidade para nove mil fieis sentados, com lugares para deficientes, existindo ainda a possibilidade de separar o espaço com uma divisória com cerca de dois metros para assembleias mais pequenas, até três mil lugares. Com estas características, a Igreja da Santíssima Trindade é a melhor do país e uma das melhores e maiores a nível mundial. Trabalharam na sua construção cerca de três mil e trezentas pessoas, que em jeito de homenagem verão em breve os seus nomes gravados num monumento que irá ser colocado no interior da igreja.
Agora uma das grandes prioridades é a segurança e a manutenção do espaço. Para tal o Santuário teve de contratar 20 novos funcionários e procedeu ao reforço da segurança devido ao valor das obras de arte existentes no interior. Também no interior existem três capelas da Reconciliação, que podem servir igualmente para outras celebrações. Esta chamada “Zona da Reconciliação” é constituída por uma área para os peregrinos portugueses, com salão para seiscentos lugares sentados e trinta e dois confessionários, e outra área para peregrinos estrangeiros, com duas capelas de cento e vinte lugares sentados, cada uma, e também com trinta e dois confessionários.
Para substituir a antiga foi igualmente erguida uma nova Cruz Alta junto à Igreja da Santíssima Trindade. A inauguração da nova Cruz decorreu no passado dia 29 de Agosto, dia em que se celebra o martírio de S. João Baptista, o Precursor de Jesus Cristo. A cruz teve de ser dividida em peças, dada a sua grande dimensão. Esta nova Cruz Alta é da autoria do artista alemão Robert Schad, que ganhou um concurso instituído para a iconografia da Igreja da Santíssima Trindade. Em aço corten, a cruz tem trinta e quatro metros de altura e outros dezassete de largura, ao nível dos braços. Substitui assim a antiga cruz, que frequentemente servia de ponto de encontro de muitos peregrinos.
A encerrar a cerimónia da inauguração da Igreja da Santíssima Trindade, D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, leu o poema que Shopia de Mello Breyner escreveu na Páscoa de 1990, “A CASA DE DEUS”.

João Teixeira
in "A Voz de Leça" - Ano LIV - Número 8 - Novembro de 2007

O Grande Naufrágio

Assinalando 60 anos passados sobre a trágica madrugada de 1 para 2 de Dezembro de 1947 vai a Câmara Municipal de Matosinhos e a Junta de Freguesia proceder ao lançamento de um livro, na Capela de Santo Amaro, da autoria do Prof. A. Cunha e Silva e de Belmiro Galego, no próximo dia 2 de Dezembro pelas 10horas da manhã. Este livro é o fruto de uma aturada investigação de um Leceiro e de um Matosinhense, dedicados à sua terra, à sua gente e ao seu património; que percorrendo várias bibliotecas e inúmeros jornais e revistas coligiram e dão a conhecer, os relatos feitos na época dessa medonha madrugada em que o mar tão repentinamente se levantou e levou 152 pescadores, que no regresso da sua faina já não chegaram ao seio dos seus familiares que, como de costume, os esperavam na praia. Foi na realidade uma negra e sinistra madrugada essa a de 2 de Dezembro de 1947, em que naufragaram entre Aguda e Leixões quatro traineiras: a “D. Manuel”, a “S. Salvador”, a “Maria Miguel” e a “Rosa Faustino”, tendo perecido 152 homens sem a menor hipótese de que alguém lhes valesse.
As traineiras da praça de Matosinhos haviam saído para o mar, como habitualmente, às dezenas, apesar de haver vários prenúncios de temporal, pois para os pescadores o espectro da fome sempre se sobrepôs ao medo e sempre fez com que esses valentes e ousados lobos do mar galgassem as ondas saindo a barra, para quantas vezes não mais voltarem!
Há casos fantásticos, como o daqueles três homens que no reboliço da traineira “D. Manuel”, com o espectro da morte à sua frente, foram arrojados à praia do Cabedelo, procurando ajuda numa das pobres casas aí existentes; ou aqueles dois outros que depois de terem sido roubados de bordo com outros dois camaradas, foram de novo lançados para dentro da traineira, e um dos que o mar não devolveu, mantendo-se agarrado a uma tábua, teve a sorte de por ele passar uma traineira que lhe lançou uma bóia, a qual enfiando-se-lhe milagrosamente pela cabeça, o salvou, ou ainda aquele outro que a bordo da traineira “Rosa Faustino”, passando com terra à vista, se lançou ao mar nadando até à exaustão sendo recolhido das ondas, salvando-se com outros dois arrojados à praia pelo mar!
Deste modo, de quatro companhas das quatro traineiras afundadas, apenas se salvaram seis camaradas em tão horrorosa tragédia marítima que enlutou não só a costa nortenha mas praticamente toda, de norte a sul, não havendo memória de catástrofe maior, a qual, para além daqueles que levou, deixou também muitas viúvas e órfãos mergulhados na dor e na desolação.
O livro “O Naufrágio de 1947” será assim um elevado preito de homenagem da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia, dos autores, mas não só, pois será também o reconhecimento por todos aqueles que assistirem ao lançamento, que recordarão muitos daqueles que se sacrificaram pela elevação e desenvolvimento desta nobre cidade de Matosinhos – Leça.
Portanto, vamos todos ao lançamento do livro!

… E “AS MULHERES DO MAR… MÃOS DE SAL”

Num dia com tanto significado para a classe piscatória da nossa cidade, como é o de 2 de Dezembro de 2007, pois faz 60 anos que nessa trágica madrugada pereceram no mar sob violento vendaval 152 pescadores; será efectuado o lançamento do livro “MULHERES DO MAR…MÃOS DE SAL” da autoria de Delfim Caetano Nora, um Matosinhense que envergou com grande sucesso a camisola do Leça F.C., nas instalações da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos (Casa dos Pescadores) pelas 15.00 horas.
Serão homenageados os Homens e as Mulheres do Mar, principalmente estas, na nossa sociedade sempre esquecidas ou relegadas para plano secundário, contudo entre a classe piscatória com grande influência e um papel fundamental.
A mulher do pescador, ou mulher do mar, era uma verdadeira mãe-coragem, pois criava uma ranchada de filhos, era expedita e despachada nos negócios, no governo de casa e da família.
Foi sempre uso e costume do pescador que “a mulher quer-se em terra e o homem no mar”. Daí que mal o barco aproava na praia a mulher tratava de todo o trabalho para além da pesca, descarregava o peixe, encaixotava e transportava-o à lota, vendia-o e por fim dividia os ganhos em partes ou quinhões, dando algum ao seu “home” para extraordinários, para uma “pinga” ou para o “fumo”.
Também fazia parte da sua vida lavar e consertar as redes, trazer as cestas e as roupas da “polé”.
Quando o pescador desejava vestir-se ou calçar-se, ia com a mulher a uma loja comprar pano para um fato, e a mulher acompanhava-o ou até ia só. De qualquer das maneiras era ela quem escolhia e ele aceitava pois se era do agrado dela também era do dele.
Quando era necessário ir a qualquer repartição pública, era a mulher quem expunha as pretensões e razões do marido. Era também a mulher que levava o marido ao médico quando estava doente, e desfiava o rosário de achaques do seu homem.
A mulher do pescador, rude e forte, era muito irrequieta e sempre desbragada na linguagem, e com toda a facilidade provocava conflitos e até chegava a vias de facto.
Contudo, verificamos que ao longo do tempo sempre tiveram um papel fundamental na vida do casal apesar de uma vida muito dura, pelo que aqui queremos deixar bem marcado que é mais do que justa a homenagem que o NAPESMAT lhes vai prestar com o lançamento do livro “… AS MULHERES DO MAR… MÃOS DE SAL”

Eng.º Rocha dos Santos

in "A Voz de Leça" - Ano LIV - Número 8 - Novembro de 2007