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A Equipa Redactorial

sábado, 31 de outubro de 2009

“ILUSTRE LECEIRO” - JORGE BENTO – O GUARDIÃO DA MEMÓRIA LECEIRA

Cinco anos passaram sobre a morte deste nosso amigo, por isso, e demonstrando que não o esquecemos dedicamos-lhe a oportunidade que nos deram de falar sobre um ilustre leceiro.
JORGE ARMANDO, filho de Joaquim dos Santos Bento, negociante, e de Clara Oliveira dos Santos Bento, casados catolicamente, nesta freguesia e nela moradores na rua de Moinho de Vento; (antiga Rua de 5 de Outubro) nasceu, nesta freguesia de Leça da Palmeira, a 11 de Setembro de 1915, e foi solenemente baptizado na Igreja Paroquial a 24 de Outubro de 1915, pelo abade José Ferreira dos Santos Mondego.
Os pais completaram-lhe o nome: Jorge Armando Oliveira dos Santos Bento.
Fez a 1.ª e 2.ª classe no “Colégio Modelar”, de D. Maria da Cruz Pires da Rocha, a D. Mariquinhas, à Rua José Falcão n.º 444, actualmente Rua Direita n.º 342, por onde muitas gerações passaram incluindo os meus pais.
Passou depois para a “Escola Pinto de Araújo”, ao Arnado, em que repetindo a 2.ª classe, completou ao fim de 3 anos, sob a direcção do insigne professor Álvaro António Lucas, a 4.ª classe (famosa 4,ª classe!), com 18 valores. Tinha então 10 anos.
Seguidamente, seus pais quiseram que apurasse os seus estudos em português e francês, no colégio de D. Cacilda Moreira Alves onde aprendeu durante 3 anos incompletos.
Aos treze anos empregaram-no, no Porto, onde trabalhou no escritório, da Agência de Navegação e Comércio, até 1973.
Durante uns períodos, poucos, deu aulas de desenho, uma vez por semana, no “Colégio de Santo António”, da D. Cacildinha, à Rua Direita.
Com apenas 16 primaveras, despertou para a sociedade em que estava inserido e fundou, com outros rapazes, em 1931, um grupo teatral a que deram o nome de “Núcleo Artístico José Falcão”, por ter sido criado na rua em que moravam os fundadores. Datam desse tempo os seus primeiros cenários.
Como determinadas situações não lhe agradaram, mudou de rumo, e a partir de 1933 fundou e dirigiu um conjunto coral que veio a denominar-se “Capela de São Miguel”. Durou 33 anos e correu meio Portugal, abrilhantando, com boa polifonia, grandes e pequenas festividades religiosas, dela falando vários periódicos.
Jorge Bento era olhado pelos seus cantores como um pai ou irmão mais velho, pois não sendo fácil concitar em seu favor a simpatia, a confiança e a aquiescência de 25 a 30 homens e rapazes, recolhia a sua confiança e respeito, tanto mais que os cantores não recebiam qualquer gratificação pecuniária.
Em 1933, o avô paterno que ajudara a reorganizar a Confraria dos Passos do Senhor, esteve retido em casa com prolongada e grave enfermidade, manifestando aos netos o desejo de ver desfilar, junto da sua porta, a sua querida Procissão dos Passos que naquele ano não sairia por dificuldades financeiras.
Jorge Bento e António Jorge Bento, eram dois rapazes que tinham o pai para o Brasil, em Manaús e, no intervalo dos estudos, gostavam de auxiliar a mãe nos trabalhos de casa. Os dois irmãos ajudavam à missa e a outras cerimónias, na Igreja Paroquial; e, como tinham excelente memória auditiva, chegados a casa e entregues ao trabalho, repetiam os cânticos ouvidos no templo, encarregando-se cada qual da sua parte quando o trecho era a duas vozes.
A mãe rejubilava com tamanhas qualidades dos filhos!
Foi então que conhecedores do desejo do avô, Jorge Bento e o irmão António, foram pedir a um tio, juiz da dita confraria, naquele ano, para que fizesse sair a procissão, pois eles com os primos e alguns amigos, cantariam o “Miserere” e os cânticos próprios do momento, evitando assim essa despesa.
Resolvidas algumas outras dificuldades naturais, assim se fez. E, no sábado, 1 de Abril de 1933, aquele punhado de rapazes cantava e encantava na Igreja Paroquial, nos exercícios preparatórios para a procissão do dia seguinte.
Justifica-se desta forma a alegria e satisfação com que Jorge Bento dizia que o seu grupo coral nasceu das Chagas de Jesus e das Lágrimas de Maria. Porém, este agrupamento que fora inicialmente de carácter ocasional, pois satisfeito o desejo do avô, deveria normalmente dispersar.
Mas não! Nessa altura aparece o sacerdote P.de Manuel Francisco Grilo que insiste com Jorge Bento para que o grupo continue e, com os seus primos reorganize a “Confraria de S. Miguel” padroeiro da freguesia e que se realize a sua festa que tinha desaparecido havia cerca de um século.
Jorge Bento aceita impondo uma só condição: a de se mandar fazer uma nova imagem de S. Miguel, a que actualmente preside ao respectivo altar e que é da autoria de Guilherme Ferreira Tedim.
Em 1935, colabora com o “Rancho Típico da Amorosa”, e com a supervisão de Armando Leça, conseguiu impor-lhe um certo tradicionalismo, de que se estava afastando, e apresentá-lo em Lisboa, no “1.º Cortejo Folclórico Português”, de 1937. São dessa época os primeiros elementos colhidos entre o povo e que viriam a constituir a parte principal do “Cancioneiro de Leça” – 1985.
Temos aqui que destacar entre as muitas composições musicais o HINO DO LEÇA F.C., o hino do nosso Leça!
Em Maio de 1940, começou a iluminar o “Livro de Honra da Sociedade Humanitária de Matosinhos – Leça, por insistente pedido do prof. Manuel da Silva Araújo, finalizando-o e iniciando um outro.
Em Setembro de 1941 casou com D. Palmira do Sacramento Varzim e Silva, e tiveram quatro filhos: a Cecília, o Miguel, o Manuel e o António, vivendo numa casa na Rua Direita que, como dizia, era a única da rua que tinha uma porta e uma janela, sempre com um aspecto bem conservado.
Também colaborou na organização dos “Cortejos de Oferendas” em favor do Salão Paroquial, em 1945, 1953 e 1960, na zona a que pertencia.Jorge Bento foi uma espécie de assessor do pároco, de uma dedicação enorme à paróquia, onde foi um exímio colaborador nas obras da igreja, nomeadamente das casas dos pobres de Gonçalves e de Ródão, do Salão Paroquial e nas iniciativas pastorais.

Engº Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 7 - Outubro de 2009