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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Salão Paroquial - Quadro de Honra

A grandiosa obra do Salão Paroquial é uma das grandes marcas da passagem do Padre Alcino Vieira dos Santos por Leça da Palmeira. Uma obra que só foi possível graças ao seu enorme empenho e capacidade de cativar toda a população leceira. Foram os paroquianos de Leça da Palmeira que, com os seus contributos, tornaram possível a edificação desta infraestrutura tão necessária para a nossa vida paroquial.
Concluída a obra da construção do Salão Paroquial, entendeu o Pe. Alcino dedicar no número de Fevereiro de 1966 uma homenagem às figuras que mais se distinguiram, na sua opinião, na construção do Salão Paroquial. As pessoas distinguidas são:

Eng. Henrique Scherreck – ilustre Director da Administração dos Portos de Douro e Leixões, que deu facilidades e auxílios de primeira importância




















Eng. Alberto da Cunha Leão - ilustre Director dos Serviços de Exploração da Administração dos Portos de Douro e Leixões, que com o seu dinamismo e espírito meticuloso a quem não escapam pormenores e ainda com a sua boa vontade sempre pronta a conceder facilidades



















António de Carvalho, António de Carvalho Júnior e Fernando de Carvalho – proprietários da FACAR, que sempre avançaram na vanguarda do progresso do Salão Paroquial, deram substancial auxílio material.



















João Ramsey Nicolau de Almeida – na qualidade de membro da Comissão Fabriqueira e Juiz da Confraria do Santíssimo Sacramento, ajudou com o seu trabalho, opinião esclarecida e com subsídios em dinheiro de primeira grandeza



















Dr. José Leite Nogueira Pinto, Conde de Leça – que contribuiu com precioso auxílio material





















Arq. Bruno Reis – pelo seu edificante desprendimento (o seu trabalho foi gratuito) e pelo zelo com que orientou e acompanhou a obra até ao fim




















Eduardo Vieira – dinâmico organizador e competente orientador da Campanha das Cotas mensais ou “Inquilinos do Salão”, que deu para esta obra mais de 200 contos





















Augusto Duarte Pedroso – incansável trabalhador e competente orientador que ajudou o Pároco na direcção da obra do Salão Paroquial





















Manuel Gonçalves Morgado – que ofereceu, conjuntamente com o seu genro, António Oliveira, alguns metros de terreno para a construção do Salão Paroquial

Capela de São Miguel – A este conjunto coral muito se deve, pelo lançamento e organização das actividades teatrais e cinematográficas. Destacando-se o seu Director, Jorge Bento, pela actividade desenvolvida no cinema, José Ferreira Santiago, que fez gratuitamente toda a obra de picheleiro e Francisco Leite, que organizou e desenvolveu as actividades do bufete.




Jorge Sequeira
in "A Voz de Leça" - Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

Bruno Reis - Pintor e Arquitecto

A propósito da história da construção do Salão Paroquial, tem toda a oportunidade a resenha biográfica do Arquitecto Bruno Reis .

A “marca” de Bruno Reis, Arquitecto, está por toda a parte, em Leça da Palmeira como em Matosinhos. Embora tenha projectos noutras cidades é aqui que “está” mais presente. Como pintor também, já que as suas obras são quase sempre “retratos” desta sua terra.
Bruno Alves Reis nasceu em Leça da Palmeira, a 19 de Março de 1906, e como curiosidade refira-se que foi baptizado pelo Abade Mondego, Pároco da altura e outra figura proeminente desta terra.
Frequentou o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes do Porto, tendo já como objectivo vir a formar-se em arquitectura, para o que também se inscreveu no curso de Arquitectura Civil. Entretanto o seu dom para a pintura ia-se revelando e a sua primeira tela de paisagem surge em 1926.
Um ano depois e porque ao contrário do que hoje acontece, “ir à tropa” era obrigatório, Bruno Reis, com 18 anos, tem que interromper o Curso Especial de Arquitectura, mas nem assim deixa de “praticar” a sua arte, dedicando-se à caricatura dos camaradas do Regimento da 1ª Companhia de Saúde, em Mafra. O “génio” estava lá…
Terminado o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes, em 1930, participa em exposições colectivas de alunos daquela Escola no Ateneu Comercial do Porto, embora não haja rasto, hoje, da maioria das suas obras dessa época.
Em 1932 matricula-se no Curso Superior de Arquitectura, voltando a exercitar os seus dotes de caricaturista no Livro de Curso dos Finalistas desse ano. Quatro anos depois inicia a sua carreira de professor com vínculo extraordinário à Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim, em regime de comissão de serviço na Escola Industrial Faria Guimarães, onde se manterá durante onze anos. A sua carreira como arquitecto tem início em 1941, defendendo como tese de curso o trabalho “Uma Pousada no Minho”. Nesse mesmo ano pinta o quadro “Sol Verde”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis.
Apresenta o seu primeiro projecto de arquitectura em 1942 – um prédio de dois andares na Rua Heróis de África, aqui em Leça, da Cooperativa “Problemas da Habitação”. A 17 de Junho de 1944 obtém o diploma de arquitecto com classificação de 17 valores, (Bom).
Mas nem só de artes viveu Bruno Reis e, em 1946, casa com D. Irene de Oliveira, na igreja de Matosinhos. A primeira filha do casal, Maria Antónia, nasce no ano seguinte.
Em 1948 passa a exercer como professor na Escola Infante D. Henrique, no Porto, onde se mantém até 1951.
Em 1949 surge o seu projecto para a “Casa Angola” – um prédio com cave, rés-do-chão e três andares, na Rua Brito Capelo, Matosinhos.
A sua segunda filha, Maria Irene, nasce no ano a seguir e em 1951 participa no 1º Salão de Pintura de Matosinhos, ano em que apresenta o projecto para o edifício da Mútua dos Armadores da Pesca da Sardinha. Projecta igualmente a entrada da Praia dos Banhos e a estufa do Horto Municipal de Matosinhos.
Ainda em 1951, concebe o Parque Infantil de Basílio Teles, tendo a sua colega de curso Laura Costa pintado dois azulejos decorativos com motivos de crianças, para os suportes do portão da entrada. Nesse ano volta à Escola Faria Guimarães, agora Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, onde permanecerá até 1974.
A competência de Bruno Reis enquanto arquitecto é cada vez mais solicitada e, em 1952, projecta já moradias no Porto e em Ermesinde. Em 1953 realiza o projecto da Capela de Santo Amaro em Matosinhos, de que o Padre Grilo viria a ser o primeiro Pároco e que é benzida e inaugurada pelo então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
Entre 1955 e 1958 executa vários projectos, entre os quais se destaca o da casa do pintor Agostinho Salgado, em Leça da Palmeira.
Daí até 1960, Bruno Reis é mais pintor que arquitecto. É em 1959 que pinta o quadro a óleo “Capela da Boa-Nova”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis dois anos depois.
Em 1961, projecta três obras importantes de Leça – a Residência Paroquial, o Salão Paroquial e o edifício da Junta de Freguesia.
Mas não foi só aqui que deixou obra, pois em 1962 projectou o Cine-Teatro de Chaves e dois anos depois, na mesma cidade, o Hotel Trajano. È seu também o projecto da residência do escultor José de Sousa Caldas, no Porto.
Em 1966, usa o seu saber de arquitecto em proveito próprio e constrói a sua casa atelier, na Rua Direita, em Leça da Palmeira, que lhe proporciona extraordinárias vistas sobre o porto de Leixões, cuja construção acompanhou, até 1969, da Doca Nº2 e mais tarde das Docas Nº 3 e Nº 4. São desta altura as paisagens que pintou a partir das vistas que tinha, de sua casa, sobre o porto.
Em 1973 participa na Exposição Colectiva do I Ciclo dos Pintores de Matosinhos – Órfeão de Matosinhos, apresentando treze quadros. Nessa mostra participaram também Augusto Gomes, Irene Vilar, Tito Roboredo e Nélson Dias.
Fica viúvo em 1975 e o seu último projecto de arquitectura surge um ano depois, tinha o artista 67 anos.
Em 1978 participa como pintor na Exposição Colectiva “Matosinhos e os seus Artistas”, organizada pela Câmara Municipal, no Palacete Visconde de Trovões, integrada nas comemorações do 125º aniversário da elevação de Matosinhos e Leça da Palmeira a vila e sede do concelho. Nessa exposição, Bruno Reis apresentou as obras “Lavadeiras”, “Desaterros”, “Casas de Leça Antiga” e “Ponte da Pedra”.
Nesse mesmo ano cessa, a seu pedido, a condição de membro da Direcção Regional da Sociedade Nacional de Arquitectura.
Morre em Leça da Palmeira, em 1984, com 75 anos.

Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" - Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

NOTA: Ao pensar o título para este texto sobre o arquitecto Bruno Reis, veio-me à memória o da Exposição Comemorativa do centenário do seu nascimento que, em finais de 2006, esteve patente no Auditório da APDL, “Bruno Reis – Pintor Arquitecto”. Inicialmente achei que talvez não devesse usá-lo, até por uma questão de falta de originalidade. Depois, pensei que talvez mudando a ordem para “Arquitecto Pintor” resolvia a questão. Acabei por usar o mesmo título dessa Exposição, com a devida vénia ao seu autor, reconhecendo não ser capaz de ter melhor ideia para descrever o artista.

Capela da Boa Nova

Quando da realização da “Evocação do Naufrágio do Veronese” tivemos oportunidade de uma vez mais visitar a Capela da Boa Nova e apreciarmos alguns dos seus pormenores o que nos levou a reler alguns escritos nomeadamente o livro “Capelas de Leça da Palmeira” da autoria do nosso saudoso e querido amigo Sr. Jorge Bento, recordando também uma outra visita quando do casamento da nossa sobrinha Brízida Maria que com todo o seu gosto a decorou de forma brilhante.
Assim, resolvemos debruçarmo-nos um pouco sobre a dita capela.
Esta capela conhecida actualmente como da “Boa-Nova” ou de “S. João da Boa-Nova” foi, em tempos, oratório de S. Clemente das Penhas, onde se instalaram os frades franciscanos no século XIV, conforme nos diz Frei Manuel da Esperança, membro da Ordem dos Frades Menores de São Francisco, da Observância, na Província de Portugal e seu cronista; havendo contudo registos precisos da sua existência já em 1369.
Do antigo oratório e respectivo cenóbio ou conventinho, restam do lado Norte da Capela, a meia altura da respectiva parede uma cornija onde assentaria o vigamento do seu telhado.
Junto à porta da sacristia umas pequenas construções muito degradadas corresponderão às duas celas referidas por Frei João da Póvoa nas suas “Memórias”, onde se pode ler que quando os frades deixaram São Clemente e foram para Santa Maria da Conceição, ficou lá um frade só, e começaram a desfazer todo o mosteiro, aproveitando a pedra e desfazendo as casas todas, de tal modo que ficou apenas a igreja, a sacristia e duas celas.
Deste lado norte ficaria também o pequeno cemitério dos frades.
Na fachada Sul encontramos quatro cachorros ou modilhões onde assentam os frechais que recebiam a armação de madeira, do telhado que cobria esta construção. Estaremos assim, dentro do antigo convento delimitado pelos baixos muros aí existentes que seriam mais altos, formando a passagem do convento para a ermida com um pequeno telheiro e bancos para possíveis peregrinos ou romeiros.
Dadas algumas pistas para prova da antiguidade do monumento, descrevamos a sua fachada.
Após várias transformações por que deve ter passado, a capela apresenta dois pilares da mais simples das ordens romanas, a toscana, sobre os quais assentam cornijas em arco inflectido e cortado no vértice, sobre a qual apoia um pedestal com cruz latina.
Ao prumo dos ditos pilares temos pedestais encimados por pináculos simples.
As ombreiras e lintel da porta são lisos, sobrelevados por um frontão curvo cortado. Acima, ao centro, uma janela de quatro folhas e aos lados da porta, pequenos postigos rectangulares.
No seu interior encontramos um retábulo de talha do século XVIII, em estilo joanino. Quatro elegantes colunas de fustes lisos, anelados de ornatos e terminados por mimosos capitéis, firmes em pedestais adornados de aves e pequenos florões. Entre as colunas temos três nichos, sendo o central maior, e finamente orlados, onde estão as imagens da Senhora de Boa Nova, uma primorosa escultura de madeira policromada do principio do século XVII, à qual recorrem muitas vezes os interessados nos bons sucessos dos navegantes ausentes.
São João Baptista, esta também uma imagem em madeira policromada, mas do século XVIII, advogado das doenças da cabeça.
São Clemente, uma bela e bem conservada imagem do século XIV, em pedra de ançã, policromada, sendo a imagem mais antiga da freguesia de São Miguel de Leça da Palmeira.
Convém ainda referir uma pia de água benta, talhada em granito existente junto à porta que liga a humilde sacristia à capela-mor, original, e utilizada pelos frades ao entrarem nela.
Os frades mudaram-se em 1478 para o convento da Santa Maria da Conceição.
De registar também umas sepulturas rupestres que existiram na zona, que o progresso e algumas modernices se encarregaram de fazer desaparecer. Os moinhos de vento dos quais restam os ruínas de um, com a promessa da sua consolidação e enquadramento para preservação da memória.
Esta capela da Boa Nova serviu de guarida aos náufragos do navio inglês Veronese naufragado em 16 de Janeiro de 1913 que arrebatados pelos valentes bombeiros voluntários de Leça da Palmeira às ondas traiçoeiras através do cabo de vaivém, aí recebiam os primeiros socorros aguardando a transferência para o posto de desinfecção do Porto de Leixões ou lazareto, e onde foi rezada uma missa pelos mortos na data do primeiro aniversário do dito naufrágio.
Também aí, antes de se fazer a doca, as mulheres passavam as tardes nos rochedos, com trabalhos de roupa caseira, entretidas à espera dos navios que lhes traziam os familiares do Brasil, e quando os avistavam e reconheciam corriam a dar a Boa Nova.
Este ambiente e esta penedia da Boa Nova encantou os artistas, tais como os pintores António Carneiro, Artur Loureiro e Veloso Salgado e poetas como António Nobre que no “Só” escreve: Ó Boa Nova, ermida à beira-mar, / única flor, nessa vivalma de areais; / Na cal, o meu nome ainda lá deve estar / à chuva, ao vento, aos vagalhões, aos raios! / Ó poentes da Barra que fazem desmaios!... / … / Onde estais?
Ouvimos há pouco tempo o máximo responsável autárquico prometer a recuperação deste conjunto patrimonial, integrada nas obras da marginal que estão a decorrer, e esperamos que não passe apenas de promessa pois com todo o esforço que vem sendo feito pelos responsáveis e colaboradores da paróquia para a sua manutenção, as obras são mesmo urgentes.
Ah! E já agora aproveitem a ocasião para livrar a envolvente dos sinais que por lá proliferam de cultos obscuros e crendices macabras!
Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 2 - Abril de 2008