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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Salão Paroquial - Quadro de Honra

A grandiosa obra do Salão Paroquial é uma das grandes marcas da passagem do Padre Alcino Vieira dos Santos por Leça da Palmeira. Uma obra que só foi possível graças ao seu enorme empenho e capacidade de cativar toda a população leceira. Foram os paroquianos de Leça da Palmeira que, com os seus contributos, tornaram possível a edificação desta infraestrutura tão necessária para a nossa vida paroquial.
Concluída a obra da construção do Salão Paroquial, entendeu o Pe. Alcino dedicar no número de Fevereiro de 1966 uma homenagem às figuras que mais se distinguiram, na sua opinião, na construção do Salão Paroquial. As pessoas distinguidas são:

Eng. Henrique Scherreck – ilustre Director da Administração dos Portos de Douro e Leixões, que deu facilidades e auxílios de primeira importância




















Eng. Alberto da Cunha Leão - ilustre Director dos Serviços de Exploração da Administração dos Portos de Douro e Leixões, que com o seu dinamismo e espírito meticuloso a quem não escapam pormenores e ainda com a sua boa vontade sempre pronta a conceder facilidades



















António de Carvalho, António de Carvalho Júnior e Fernando de Carvalho – proprietários da FACAR, que sempre avançaram na vanguarda do progresso do Salão Paroquial, deram substancial auxílio material.



















João Ramsey Nicolau de Almeida – na qualidade de membro da Comissão Fabriqueira e Juiz da Confraria do Santíssimo Sacramento, ajudou com o seu trabalho, opinião esclarecida e com subsídios em dinheiro de primeira grandeza



















Dr. José Leite Nogueira Pinto, Conde de Leça – que contribuiu com precioso auxílio material





















Arq. Bruno Reis – pelo seu edificante desprendimento (o seu trabalho foi gratuito) e pelo zelo com que orientou e acompanhou a obra até ao fim




















Eduardo Vieira – dinâmico organizador e competente orientador da Campanha das Cotas mensais ou “Inquilinos do Salão”, que deu para esta obra mais de 200 contos





















Augusto Duarte Pedroso – incansável trabalhador e competente orientador que ajudou o Pároco na direcção da obra do Salão Paroquial





















Manuel Gonçalves Morgado – que ofereceu, conjuntamente com o seu genro, António Oliveira, alguns metros de terreno para a construção do Salão Paroquial

Capela de São Miguel – A este conjunto coral muito se deve, pelo lançamento e organização das actividades teatrais e cinematográficas. Destacando-se o seu Director, Jorge Bento, pela actividade desenvolvida no cinema, José Ferreira Santiago, que fez gratuitamente toda a obra de picheleiro e Francisco Leite, que organizou e desenvolveu as actividades do bufete.




Jorge Sequeira
in "A Voz de Leça" - Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

Bruno Reis - Pintor e Arquitecto

A propósito da história da construção do Salão Paroquial, tem toda a oportunidade a resenha biográfica do Arquitecto Bruno Reis .

A “marca” de Bruno Reis, Arquitecto, está por toda a parte, em Leça da Palmeira como em Matosinhos. Embora tenha projectos noutras cidades é aqui que “está” mais presente. Como pintor também, já que as suas obras são quase sempre “retratos” desta sua terra.
Bruno Alves Reis nasceu em Leça da Palmeira, a 19 de Março de 1906, e como curiosidade refira-se que foi baptizado pelo Abade Mondego, Pároco da altura e outra figura proeminente desta terra.
Frequentou o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes do Porto, tendo já como objectivo vir a formar-se em arquitectura, para o que também se inscreveu no curso de Arquitectura Civil. Entretanto o seu dom para a pintura ia-se revelando e a sua primeira tela de paisagem surge em 1926.
Um ano depois e porque ao contrário do que hoje acontece, “ir à tropa” era obrigatório, Bruno Reis, com 18 anos, tem que interromper o Curso Especial de Arquitectura, mas nem assim deixa de “praticar” a sua arte, dedicando-se à caricatura dos camaradas do Regimento da 1ª Companhia de Saúde, em Mafra. O “génio” estava lá…
Terminado o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes, em 1930, participa em exposições colectivas de alunos daquela Escola no Ateneu Comercial do Porto, embora não haja rasto, hoje, da maioria das suas obras dessa época.
Em 1932 matricula-se no Curso Superior de Arquitectura, voltando a exercitar os seus dotes de caricaturista no Livro de Curso dos Finalistas desse ano. Quatro anos depois inicia a sua carreira de professor com vínculo extraordinário à Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim, em regime de comissão de serviço na Escola Industrial Faria Guimarães, onde se manterá durante onze anos. A sua carreira como arquitecto tem início em 1941, defendendo como tese de curso o trabalho “Uma Pousada no Minho”. Nesse mesmo ano pinta o quadro “Sol Verde”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis.
Apresenta o seu primeiro projecto de arquitectura em 1942 – um prédio de dois andares na Rua Heróis de África, aqui em Leça, da Cooperativa “Problemas da Habitação”. A 17 de Junho de 1944 obtém o diploma de arquitecto com classificação de 17 valores, (Bom).
Mas nem só de artes viveu Bruno Reis e, em 1946, casa com D. Irene de Oliveira, na igreja de Matosinhos. A primeira filha do casal, Maria Antónia, nasce no ano seguinte.
Em 1948 passa a exercer como professor na Escola Infante D. Henrique, no Porto, onde se mantém até 1951.
Em 1949 surge o seu projecto para a “Casa Angola” – um prédio com cave, rés-do-chão e três andares, na Rua Brito Capelo, Matosinhos.
A sua segunda filha, Maria Irene, nasce no ano a seguir e em 1951 participa no 1º Salão de Pintura de Matosinhos, ano em que apresenta o projecto para o edifício da Mútua dos Armadores da Pesca da Sardinha. Projecta igualmente a entrada da Praia dos Banhos e a estufa do Horto Municipal de Matosinhos.
Ainda em 1951, concebe o Parque Infantil de Basílio Teles, tendo a sua colega de curso Laura Costa pintado dois azulejos decorativos com motivos de crianças, para os suportes do portão da entrada. Nesse ano volta à Escola Faria Guimarães, agora Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, onde permanecerá até 1974.
A competência de Bruno Reis enquanto arquitecto é cada vez mais solicitada e, em 1952, projecta já moradias no Porto e em Ermesinde. Em 1953 realiza o projecto da Capela de Santo Amaro em Matosinhos, de que o Padre Grilo viria a ser o primeiro Pároco e que é benzida e inaugurada pelo então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
Entre 1955 e 1958 executa vários projectos, entre os quais se destaca o da casa do pintor Agostinho Salgado, em Leça da Palmeira.
Daí até 1960, Bruno Reis é mais pintor que arquitecto. É em 1959 que pinta o quadro a óleo “Capela da Boa-Nova”, adquirido pelo Museu Soares dos Reis dois anos depois.
Em 1961, projecta três obras importantes de Leça – a Residência Paroquial, o Salão Paroquial e o edifício da Junta de Freguesia.
Mas não foi só aqui que deixou obra, pois em 1962 projectou o Cine-Teatro de Chaves e dois anos depois, na mesma cidade, o Hotel Trajano. È seu também o projecto da residência do escultor José de Sousa Caldas, no Porto.
Em 1966, usa o seu saber de arquitecto em proveito próprio e constrói a sua casa atelier, na Rua Direita, em Leça da Palmeira, que lhe proporciona extraordinárias vistas sobre o porto de Leixões, cuja construção acompanhou, até 1969, da Doca Nº2 e mais tarde das Docas Nº 3 e Nº 4. São desta altura as paisagens que pintou a partir das vistas que tinha, de sua casa, sobre o porto.
Em 1973 participa na Exposição Colectiva do I Ciclo dos Pintores de Matosinhos – Órfeão de Matosinhos, apresentando treze quadros. Nessa mostra participaram também Augusto Gomes, Irene Vilar, Tito Roboredo e Nélson Dias.
Fica viúvo em 1975 e o seu último projecto de arquitectura surge um ano depois, tinha o artista 67 anos.
Em 1978 participa como pintor na Exposição Colectiva “Matosinhos e os seus Artistas”, organizada pela Câmara Municipal, no Palacete Visconde de Trovões, integrada nas comemorações do 125º aniversário da elevação de Matosinhos e Leça da Palmeira a vila e sede do concelho. Nessa exposição, Bruno Reis apresentou as obras “Lavadeiras”, “Desaterros”, “Casas de Leça Antiga” e “Ponte da Pedra”.
Nesse mesmo ano cessa, a seu pedido, a condição de membro da Direcção Regional da Sociedade Nacional de Arquitectura.
Morre em Leça da Palmeira, em 1984, com 75 anos.

Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" - Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

NOTA: Ao pensar o título para este texto sobre o arquitecto Bruno Reis, veio-me à memória o da Exposição Comemorativa do centenário do seu nascimento que, em finais de 2006, esteve patente no Auditório da APDL, “Bruno Reis – Pintor Arquitecto”. Inicialmente achei que talvez não devesse usá-lo, até por uma questão de falta de originalidade. Depois, pensei que talvez mudando a ordem para “Arquitecto Pintor” resolvia a questão. Acabei por usar o mesmo título dessa Exposição, com a devida vénia ao seu autor, reconhecendo não ser capaz de ter melhor ideia para descrever o artista.

Capela da Boa Nova

Quando da realização da “Evocação do Naufrágio do Veronese” tivemos oportunidade de uma vez mais visitar a Capela da Boa Nova e apreciarmos alguns dos seus pormenores o que nos levou a reler alguns escritos nomeadamente o livro “Capelas de Leça da Palmeira” da autoria do nosso saudoso e querido amigo Sr. Jorge Bento, recordando também uma outra visita quando do casamento da nossa sobrinha Brízida Maria que com todo o seu gosto a decorou de forma brilhante.
Assim, resolvemos debruçarmo-nos um pouco sobre a dita capela.
Esta capela conhecida actualmente como da “Boa-Nova” ou de “S. João da Boa-Nova” foi, em tempos, oratório de S. Clemente das Penhas, onde se instalaram os frades franciscanos no século XIV, conforme nos diz Frei Manuel da Esperança, membro da Ordem dos Frades Menores de São Francisco, da Observância, na Província de Portugal e seu cronista; havendo contudo registos precisos da sua existência já em 1369.
Do antigo oratório e respectivo cenóbio ou conventinho, restam do lado Norte da Capela, a meia altura da respectiva parede uma cornija onde assentaria o vigamento do seu telhado.
Junto à porta da sacristia umas pequenas construções muito degradadas corresponderão às duas celas referidas por Frei João da Póvoa nas suas “Memórias”, onde se pode ler que quando os frades deixaram São Clemente e foram para Santa Maria da Conceição, ficou lá um frade só, e começaram a desfazer todo o mosteiro, aproveitando a pedra e desfazendo as casas todas, de tal modo que ficou apenas a igreja, a sacristia e duas celas.
Deste lado norte ficaria também o pequeno cemitério dos frades.
Na fachada Sul encontramos quatro cachorros ou modilhões onde assentam os frechais que recebiam a armação de madeira, do telhado que cobria esta construção. Estaremos assim, dentro do antigo convento delimitado pelos baixos muros aí existentes que seriam mais altos, formando a passagem do convento para a ermida com um pequeno telheiro e bancos para possíveis peregrinos ou romeiros.
Dadas algumas pistas para prova da antiguidade do monumento, descrevamos a sua fachada.
Após várias transformações por que deve ter passado, a capela apresenta dois pilares da mais simples das ordens romanas, a toscana, sobre os quais assentam cornijas em arco inflectido e cortado no vértice, sobre a qual apoia um pedestal com cruz latina.
Ao prumo dos ditos pilares temos pedestais encimados por pináculos simples.
As ombreiras e lintel da porta são lisos, sobrelevados por um frontão curvo cortado. Acima, ao centro, uma janela de quatro folhas e aos lados da porta, pequenos postigos rectangulares.
No seu interior encontramos um retábulo de talha do século XVIII, em estilo joanino. Quatro elegantes colunas de fustes lisos, anelados de ornatos e terminados por mimosos capitéis, firmes em pedestais adornados de aves e pequenos florões. Entre as colunas temos três nichos, sendo o central maior, e finamente orlados, onde estão as imagens da Senhora de Boa Nova, uma primorosa escultura de madeira policromada do principio do século XVII, à qual recorrem muitas vezes os interessados nos bons sucessos dos navegantes ausentes.
São João Baptista, esta também uma imagem em madeira policromada, mas do século XVIII, advogado das doenças da cabeça.
São Clemente, uma bela e bem conservada imagem do século XIV, em pedra de ançã, policromada, sendo a imagem mais antiga da freguesia de São Miguel de Leça da Palmeira.
Convém ainda referir uma pia de água benta, talhada em granito existente junto à porta que liga a humilde sacristia à capela-mor, original, e utilizada pelos frades ao entrarem nela.
Os frades mudaram-se em 1478 para o convento da Santa Maria da Conceição.
De registar também umas sepulturas rupestres que existiram na zona, que o progresso e algumas modernices se encarregaram de fazer desaparecer. Os moinhos de vento dos quais restam os ruínas de um, com a promessa da sua consolidação e enquadramento para preservação da memória.
Esta capela da Boa Nova serviu de guarida aos náufragos do navio inglês Veronese naufragado em 16 de Janeiro de 1913 que arrebatados pelos valentes bombeiros voluntários de Leça da Palmeira às ondas traiçoeiras através do cabo de vaivém, aí recebiam os primeiros socorros aguardando a transferência para o posto de desinfecção do Porto de Leixões ou lazareto, e onde foi rezada uma missa pelos mortos na data do primeiro aniversário do dito naufrágio.
Também aí, antes de se fazer a doca, as mulheres passavam as tardes nos rochedos, com trabalhos de roupa caseira, entretidas à espera dos navios que lhes traziam os familiares do Brasil, e quando os avistavam e reconheciam corriam a dar a Boa Nova.
Este ambiente e esta penedia da Boa Nova encantou os artistas, tais como os pintores António Carneiro, Artur Loureiro e Veloso Salgado e poetas como António Nobre que no “Só” escreve: Ó Boa Nova, ermida à beira-mar, / única flor, nessa vivalma de areais; / Na cal, o meu nome ainda lá deve estar / à chuva, ao vento, aos vagalhões, aos raios! / Ó poentes da Barra que fazem desmaios!... / … / Onde estais?
Ouvimos há pouco tempo o máximo responsável autárquico prometer a recuperação deste conjunto patrimonial, integrada nas obras da marginal que estão a decorrer, e esperamos que não passe apenas de promessa pois com todo o esforço que vem sendo feito pelos responsáveis e colaboradores da paróquia para a sua manutenção, as obras são mesmo urgentes.
Ah! E já agora aproveitem a ocasião para livrar a envolvente dos sinais que por lá proliferam de cultos obscuros e crendices macabras!
Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 2 - Abril de 2008

segunda-feira, 31 de março de 2008

A Voz de Leça Faz 55 Anos

Por iniciativa do Padre Alcino Vieira dos Santos, A VOZ DE LEÇA nasceu em Março de 1953, há 55 anos, para “falar, dizer, informar, formar, orientar, acompanhar”, tal como referiu D. Armindo Lopes Coelho na mensagem que dirigiu a este Jornal no 50º aniversário. Curiosamente, em 2003, a direcção d’A Voz de Leça estava igualitariamente repartida entre o fundador e o Sr. Padre Lemos, seu actual Director – 25 anos para cada um. Cinco anos depois essa igualdade está desfeita – já passaram 30 anos desde que o nosso Pároco assumiu a Direcção. Não tão marcante como as Bodas de ouro, 55 anos é também uma data “redonda” propícia à lembrança e à menção de quem por cá passou, em especial o fundador, Padre Alcino Vieira, que pensou este Jornal e o tornou ‘Voz’ da Paróquia e para a Paróquia. Fez destas páginas um canal de comunicação sempre aberto com os seus Paroquianos, tal como D. António Ferreira Gomes preconizou na mensagem que dirigiu à Paróquia há 55 anos, na primeira edição: “Por ele a freguesia manifestará as suas aspirações e anseios, dirá das suas iniciativas e realizações. ”Aqui surgiram as primeiras referências aos Bairros dos Pobres e ao Salão Paroquial, que foram as duas mais importantes obras que nos deixou. Aqui foi dando conta do andamento dos projectos, das obras em si, das dificuldades, mas também das ofertas generosas, tantas vezes surpreendentes, que sempre surgiam quando o ‘aperto’ era maior.
Claro que nem tudo foram “rosas” nestes anos todos e houve tempos menos felizes na vida deste Jornal, em especial quando, com escassas perspectivas de continuidade quase desapareceu, em 1978 e 1985. Reergueu-se, primeiro a custo, depois com mais pessoas, (o Alcino Glória, o Sr. Filipe Pacheco e o Manuel José Carneiro) e há um ano, sublinhava-se a estabilidade da Equipa que elabora o jornal mês a mês, reforçada por um grupo de jovens, para além do Eng.º António Ferreira e do Eng.º Rocha dos Santos, que tem levado A Voz de Leça em incursões pelo passado da nossa terra. Nos últimos seis meses houve, porém, algumas mudanças – a Perícia deixou-nos, pelo que voltamos ao contacto directo com a Gráfica Firmeza, como há anos se fazia e o Sr. Filipe Pacheco cessou a sua colaboração regular. Tivemos que alterar ‘timings’ e algumas ‘formatações’, já que agora o Jornal passa exactamente pelos mesmos procedimentos na fase anterior ao envio para a Gráfica, com meios menos ‘profissionais’, mas com um empenho imenso de quem faz questão de apresentar a mesma qualidade.
Sem nunca perder de vista o essencial da já citada mensagem de D. António Ferreira Gomes, de ser “voz de muitas águas” e “o eco permanente do marulhar profundo (…) da vida paroquial” A Voz de Leça faz-se, acima de tudo, com muito gosto e sempre num exercício de prazer.

Estamos todos de Parabéns!
Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 1 - Março de 2008

Óscar da Silva - 50º Aniversário do Seu Falecimento

No passado dia 6 de Março completaram-se 50 anos sobre a morte de Óscar da Silva, eminente músico português, reconhecido internacionalmente, que passou partes importantes da sua vida aqui, em Leça da Palmeira, onde também está sepultado.
Óscar da Silva Corrége Araújo nasceu no Porto, (na Rua de Costa Cabral), a 21 de Abril de 1870. Iniciou os estudos na área da música aos onze anos, altura em que compôs a sua primeira peça, “Hino Infantil”. Começa a frequentar o Conservatório Nacional com 14 anos e, em 1891, apresenta-se como pianista, começando desde logo a ter grande sucesso. No ano seguinte recebe uma bolsa de estudos da Rainha D. Amélia e vai estudar piano e composição para o Conservatório de Leipzig (Alemanha). Ali prossegue estudos com Clara Schumann, viúva do compositor alemão Robert Schumann e uma das maiores pianistas de todos os tempos, que terá afirmado que nunca ninguém tinha interpretado as composições do marido como Óscar da Silva o fez.
Entre 1894 e 1921, já a viver em Leça, na Rua Moinho de Vento, faz várias tournées pela Europa e América, sem esquecer a terra de acolhimento, tendo dado o 1º recital no Clube de Leça, em 1896. Entretanto, os pais, João da Silva Araújo e D. Luísa Augusta Corrége, aqui morrem, entre 1909 e 1910, altura em que deixa a casa da Rua Moinho de Vento e vai viver para casa de um amigo no Lugar de Vila Franca, na rua que viria a ter o seu nome.
Parte para o Brasil em 1930, onde vive cerca de 20 anos, regressando a Portugal a convite de António Salazar. Em 1935 vê grande parte da sua obra publicada e é condecorado com a Ordem de Santiago e Espada. Regressa a Leça da Palmeira em 1954, onde morre a 6 de Março de 1958.
Intérprete genial de Chopin e de Schumann, a sua arte superior foi aplaudida em todo o mundo. Destacou-se também como compositor. Essencialmente romântico, seguiu a evolução modernista e aceitou com entusiasmo as novas correntes, sendo considerado o iniciador da música moderna em Portugal, traduzindo, através da música, o lirismo da alma nacional, até aí apenas manifestado na poesia. Assim compôs “Nostalgias”, “Sonata das Saudades”, “Queixumes” e “Dolorosas”, esta última tocada nas suas exéquias.
Foi retratado na imprensa da época como “Dotado de um temperamento especial e personalidade própria. No seu olhar tristemente doce descobria-se a candura das almas boas. Coração nobre, afectuoso, fidalgo (…)”e Fialho de Almeida disse dele: “Figura fina; tez pálida; olhos de lusíada deixando ver na limpidez pupilar o fundo da alma. Gestos simples, maneiras tão belas e frases tão sóbrias que não seria possível deixar de sentir-se preso, quem a primeira vez dele se acercasse.”
Inicialmente sepultado no jazigo de António de Carvalho (da FACAR), os restos mortais de Óscar da Silva foram trasladados para o mausoléu construído pela Junta de Freguesia, em 21 de Abril de 1967, nove anos após a sua morte.

Mariana Sequeira
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 1 - Março de 2008

A Sagração do Espaço

É o titulo da exposição retrospectiva da obra do escultor Manuel Nogueira patente ao público na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, entre 19 de Janeiro e 24 de Fevereiro, do corrente ano e que nos trouxe um artista que dedicou toda a sua vida à arte, principalmente à escultura e que nem sempre foi bem compreendido e por vezes foi até ultrapassado com manobras perigosas que deixaram as suas marcas patentes na revolta como encara o relacionamento do dia a dia.
Esta exposição mostra-nos um conjunto de obras do autor nos variados campos desde a escultura à medalhística mas não só; pois pela mão sábia do professor A. Cunha e Silva teve o condão de levar os interessados a uma visita guiada à mesma e a alguns dos locais onde existem obras que pela sua dimensão ou local de exposição não foi possível trazer. Essa visita aos locais terminou com elevada satisfação por um dia de cultura plena, no Seminário da Boa Nova, em Valadares – Vila Nova de Gaia, onde todos tiveram a oportunidade de admirar uma preciosa imagem de Nossa Senhora da Boa Nova talhada em madeira, de grandes dimensões.
Este ciclo terminou com a conferência Manuel Nogueira escultor: “A Sagração do Espaço” que será proferida pelo professor A. Cunha e Silva no dia 21 de Fevereiro de 2008 no Auditório da Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Manuel da Silva Nogueira nasceu em Santa Cruz do Bispo – Matosinhos, e aos dez / onze anos entrou como aprendiz na oficina de Mestre Guilherme Thedim. Esta oficina pertencia a um escultor que fazia peças religiosas ou de arte sacra, de onde saíram imagens como as de Nossa Senhora de Fátima, que se encontram no Santuário de Fátima e na Igreja Paroquial de Leça da Palmeira, bem como de outros santos para várias igrejas do país e do estrangeiro. São imagens diferentes facilmente identificáveis pela expressão do olhar e pela delicadeza das linhas do rosto.
Uma das primeiras peças feitas por Manuel Nogueira foram as asas da imagem de S. Miguel Arcanjo, uma simbólica escultura religiosa que está na Igreja Paroquial de Leça da Palmeira, cujo corpo é da autoria é de Guilherme Thedim.
Este trabalho marca o início da carreira de Manuel Nogueira o qual, por indicação do seu Mestre, recebeu tal tarefa como característica iniciática, foi a aprendizagem do talhe directo das asas do anjo desta imagem e, como diz Cunha e Silva no belo catálogo da exposição, “… em todas as tradições, as asas nunca são recebidas, mas sim conquistadas com o preço de uma educação iniciática e purificadora.
Todos os artistas, ou quase todos, ficam marcados pelas obras da sua juventude, pela ingenuidade e generosidade dos seus primeiros gestos. Estes são trabalhos límpidos, sem vícios, que poderão vir a constituir-se em símbolos, memoriais. Aqui se afirma a marca pessoal do artista, a escolha do caminho a percorrer, os conceitos a defender. Todavia o escultor ampliou as atracções originárias com estudos académicos e o afinco de quem busca uma superação em cada satisfação”.
É assim que o seu percurso o leva à Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, onde frequenta o Curso de Escultura Decorativa; e onde com 26 anos dirigiu a disciplina de Tecnologia de Escultura. Foi aluno de Mestra Barata Feyo, no curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Itália, onde frequentou a Academia Di Belle Arti Pietro Vanucci, em Perugia; e equiparado a bolseiro do Instituto de Alta-costura, na especialidade de Técnicas de Escultura. Frequentou, no Instituto Di Betto a disciplina de Restauro. Tem o curso de escultura da Academia Di Belle Arti Pietro Vanucci.
Do seu longo curriculum fazem parte intervenções em diversos colóquios internacionais sobre o tema “Cristo nas Artes Plásticas”.
A obra do escultor Manuel Nogueira está representada em vários museus de Itália, e em museus e igrejas, bem como em diversas colecções particulares.
Participou em diversas exposições colectivas de Artes Plásticas em vários países de diferentes continentes.
Durante quinze anos fez restauro de escultura de todas as épocas, continuando até esta data as experiências sobre a consolidação e preservação das madeiras.
Tem desenvolvido também as técnicas de esmaltagem sendo de destacar a sua obra Cálice em ouro para Sua Santidade Paulo VI, mas gostamos também imenso do Sacrário de uma Igreja em Chaves.
De realçar ainda a sua obra de Medalhística que atinge já mais de cento e vinte medalhas onde destacámos as séries “Capelas de Leça da Palmeira” e “Eça de Queirós”, a dos “250 anos das Festas do Bom Jesus de Matosinhos”, “1.º ano das Festas de Matosinhos como Cidade”, “IV Centenário da Edição dos Lusíadas” e muitas outras.
Privamos há pouco tempo com o escultor Manuel Nogueira mas já deu para reconhecermos a sua força interior, a sua visão do mundo e da arte, uma sensibilidade natural a que não será alheio o meio rural e natural de Santa Cruz do Bispo em que foi criado, daí como o próprio deixou registado no verso da medalha dedicada a António Cândido: “… o mundo está cheio de palavras, fala-se muito, medita-se pouco mas só a meditação é fecunda”.

Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 1 - Março de 2008

Monte Espinho - Comunidade em Festa - Aos 28

Domingo, 10 de Fevereiro obrigou-me a repensar o que são 28 anos de existência.
Passei por essa idade, há alguns anos, e recordo como de facto aos 28 já passámos a infantilidade do “quando for grande gostava…” ou a ingenuidade da adolescência com o “ se eu pudesse ou tivesse…”. Realmente aos 28 já sabemos com alguma certeza quem somos e do que parecemos ser capazes. Embora os sonhos não desapareçam (ou não fossem eles uma constante da vida), a verdade é que aos 28 já a vida oferece uma certa sensatez que se confirma aos 30.
Naquele domingo, cantei juntamente com algumas dezenas de pessoas, os parabéns porque fez 28 anos que a Capela de Monte Espinho tem razão de existir. Há 28 anos, celebrou-se neste lugar a primeira missa e com essa celebração nasceu igualmente uma vontade de expandir a fé. Uma fé que prevalece e que se extravasa em dias como o de domingo. Diante de muitos amigos e convidados confirmou-se o desejo de manter viva e continuar uma obra que já toca a maturidade. Os que nela se envolveram desde início, já passaram as fases do desejo infantil ou do sonho ingénuo. Já provaram que o projecto existe, que tem potencialidades para continuar vivo e que, como qualquer projecto, vive traçando metas futuras que continuam a ser esquecidas ou adiadas.
Aos 28, já questionamos os obstáculos e constatamos que a falta de concretização do projecto não depende da falta de vontade dos que nele se envolvem mas sim da falta de apoio dos que podem, mas que, ingénua ou propositadamente, se esquecem dele.
Aos 28, continuamos a dar valor, muito valor aos amigos que estão ao nosso lado nos grandes momentos. E sentimos a falta dos que por algum motivo não possam estar presentes.
No domingo, os amigos estiveram por lá a participar activamente quer na celebração, quer no almoço, quer na animação que decorreu durante a tarde. Alguns elementos do Coro Milium, que já travaram uma espécie de “intercâmbio coral” com o Coro de Monte Espinho, participaram vivamente na animação da celebração. A assembleia sensibilizou-se com a alegria e o amor com que se cantou nesse dia. Não faltaram igualmente as confrarias e outros Grupos que acharam por bem assinalar com a sua presença mais um aniversário. A celebração foi presidida pelo Pe Marcelino que tem cumprido assiduamente o seu compromisso de “dizer missa no Monte Espinho”. A ausência do Pe Lemos fez-se sentir pois o aniversário também é dele e a Comunidade continua a agradecer e a reconhecer a sua generosidade.
Durante a tarde, o almoço partilhado reuniu muitas crianças e seus familiares que aí frequentam a Catequese, o que envaideceu muito os Catequistas que procuram, mais do que nunca, envolver os pais no crescimento na fé das suas crianças. E, à tarde rimos todos: as crianças dançaram e cantaram, as Pajens, os Acólitos e a Confraria divertiram a assistência com um espectáculo muito de improviso mas que realmente levou às lágrimas a plateia. Foi realmente muito bom!
Aos 28, está-se no auge da vida. Embora cientes dos problemas continua-se a acreditar na vida, no futuro. E, se se é cristão todas estas crenças ganham uma dimensão ainda maior: é que Deus está sempre com os que Nele acreditam e não desistem.
Aos 30, concretizam-se definitivamente ou adiam-se para sempre projectos. O sonho permanece mas só se tornará realidade com a força de outros que podem mais do que aqueles que sonham.


Ana Pascoal
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 1 - Março de 2008

Em Monte Espinho Há uma Comunidade Viva

Este ano foi a primeira vez que pude assistir, ao vivo, à festa da Comunidade de Monte Espinho. Conhecendo muita gente dali, não me surpreendeu nada o carácter simples, despretensioso e familiar da celebração. Na pequena Capela, cheiinha até à porta, foi como se todos pertencessem à mesma família de sangue. E pude perceber melhor como nasceu, como cresceu, os projectos concretizados e os que têm, não por concretizar, mas para concretizar. Porque foi sempre assim: responderam ao apelo do Sr. Padre Lemos, há 28 anos, para que se pudesse ali celebrar a Eucaristia e a primeira foi mesmo numa garagem. Estava como que lançada a ‘primeira pedra’ da Comunidade, que hoje tem uma Irmandade, Grupo Coral, Grupo de Acólitos, de Pagens, Catequese e uma pequena mas acolhedora Capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima, que todos de alguma forma ajudaram a erguer, com trabalho, com dinheiro, com apoio logístico. No dia 10 de Fevereiro, o Coro estreou um órgão e verificaram a necessidade de adquirir um Sacrário para a Capela. Vão certamente tê-lo em breve, porque é quando surge um novo desafio que aquela pequena Comunidade se ergue, mais unida do que nunca.
No texto sobre o 28º aniversário da Comunidade de Monte Espinho, a Ana Pascoal deixa nas entrelinhas a ideia de que estará na hora de concretizar o outro grande projecto, depois da construção da Capela – a construção de um Centro para as actividades da Comunidade, que actualmente decorrem num espaço contíguo à Capela, ainda em ‘bruto’, (tijolos e cimento).
Está ali já a base do novo projecto e há uma vontade enorme de todos, que se conjugada com aquilo a que chamo ‘vontades oficiais’, (leia-se, Autarquia Camarária…), poderá levar à sua mais rápida concretização, para que, talvez quando a Comunidade chegar aos 30, mesmo que ainda não esteja tudo concluído, já só faltem pormenores.

Obrigado pelo exemplo e Parabéns.
Marina Sequeira
in "A Voz de Leça", Ano LV - Número 1 - Março de 2008

Obrigado Monte Espinho

Quando o meu telefone tocou naquele dia de Inverno, frio e chuvoso, estaria longe de pensar que do outro lado, provinha o convite para participar no aniversário da Comunidade do Monte Espinho. Não apenas um convite para uma presença física, mas também um convite para uma presença activa e participativa na Eucaristia. Claro está que o convite foi extensível a todo o “inactivo” Coro Milium. E digo “inactivo”, pois apesar de neste momento não sermos um Grupo “activo” da Paróquia por força dos novos horários das Eucaristias, de algum modo cada um dos elementos do Coro Milium vai participando na vida da Paróquia, o que mostra que o Coro acabou, mas a vontade dos seus elementos continuarem de alguma maneira a dar o seu contributo manteve-se. Deste modo, face ao convite da Comunidade do Monte Espinho em estarmos presentes na Celebração Festiva de Comemoração dos 28 anos da Capela, não poderíamos sequer equacionar a nossa falta. Mas, penso que, muito mais que o convite fica sem sombra de dúvida a amizade que nos une, a nós, membros do Coro Milium e toda uma Comunidade que cada vez mais é uma “Pedra Viva do Templo do Senhor”, tal como ditou o cântico de entrada na Celebração. Por tudo isto, pelo convite, pela amizade e sobretudo pelo enorme carinho com que fomos recebidos por essa Comunidade, expressamos o nosso mais sincero agradecimento. E fazemo-lo aqui, publicamente, no Jornal “A Voz de Leça”, porque seria de todo o modo impossível agradecer pessoalmente a cada um por si só, tantos foram aqueles que nos abraçaram e nos agradeceram a presença naquele dia 10 de Fevereiro. Estaremos sempre disponíveis para participar em tudo e para tudo o que nos convidarem, na certeza que a Comunidade do Monte Espinho terá sempre um lugar especial nos nossos corações. Obrigado a todos.

Pelo Milium
José Eduardo Sousa
in "A Voz de Leça", Ano LV - Número 1 - Março de 2008

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Evocação do Naufrágio do Veronese

A exemplo do sucedido com a Palestra sobre os Lavradores de Leça, que o Engenheiro Rocha dos Santos pôde repetir no contexto mais adequado – uma grande casa de lavrador, no caso a da D. Alzira Reina e do Sr. Macedo da Silva, depois do trabalho sobre o Naufrágio do Veronese que A Voz de Leça publicou há um ano, foi muito perto do local onde tudo aconteceu há quase um século que foi evocado aquele acontecimento trágico – na Capela da Boa Nova.

Faz parte do nosso imaginário e do leque de histórias locais contadas à mesa, depois do jantar, pelos meus pais Moisés Santos e Brizida Rocha, no tempo em que não havia televisão, a história do naufrágio do navio inglês Veronese nos rochedos da Boa – Nova, o que nos fez sonhar ao longo dos anos em reconstituir tal ocorrência, tendo surgido uma primeira oportunidade com uma crónica publicada com sucesso, nos jornais “A VOZ DE LEÇA” e “MATOSINHOS HOJE” que nos abriram as portas de modo a concretizarmos este nosso sonho.
Agora com o convite da “ASSOCIAÇÃO PARA A UNIVERSIDADE SÉNIOR DE MATOSINHOS”, através do amigo prof. Cunha e Silva, a que se juntou novamente “A VOZ DE LEÇA” e com a colaboração dos Bombeiros Voluntários de Leça da Palmeira, aqui estamos para vos dar a conhecer aquilo que fomos coleccionando quer na memória quer em documentação.
Assim esta ocorrência que entrou na história que a cada passo é recordada, verificou-se em 16 de Janeiro de 1913, um dia de rigorosa invernia com chuva torrencial, um vento muito forte e um nevoeiro cerrado, duas milhas a norte de Leça da Palmeira, um pouco acima da Capela de S. João da Boa – Nova o grande paquete inglês, de 7877 toneladas, da casa Lamport & Holt Line, representada em Portugal pela firma Garland Laidley, Ld.ª do Porto encalhou nos rochedos pontiagudos, conhecidos por “Lanhos”.
Esta Capela de S. João da Boa – Nova onde nos encontrámos, designada antigamente como Oratório de São Clemente das Penhas, onde, em 1392, se instalou Frei Gonçalo Marinho fundando o oratório, encontra-se já em referências escritas nos anos de 1369 e 1376, permanecendo ainda hoje alguns vestígios do antigo oratório e respectivo cenóbio, ou conventinho. Na parede exterior norte existe uma cornija em pedra, onde assentava o vigamento do seu telhado e na parede sul podemos ver quatro cachorros ou modilhões.
As construções anexas a norte são as duas celas referidas por Frei João da Póvoa nas suas “Memórias Soltas”.
Actualmente na sua simplicidade, ressalta no seu interior o retábulo de talha do século XVIII em modesto estilo joanino, com três imagens: São Clemente, Senhora da Boa Nova e de S. João Baptista.
A casa Lamport & Holt Line foi fundada em 1845 por William James Lamport e George Holt.
O vapor havia sido construído em 1906 na empresa Workman, Clark & C.ª, Ld.ª de Belfast e veio de Liverpool para Vigo, onde embarcaram 100 passageiros com destino aos portos do Brasil, Venezuela e Argentina.
O mar agitado e alterado obrigou-o a desviar-se excessivamente para terra, embatendo nos rochedos, daí resultando um inevitável rombo, alagando o porão da proa.
Mais uma medonha e horrível catástrofe ocorria nesta costa norte, provavelmente pela falta de sinais luminosos, nessa altura com farolagem bastante imperfeita ou deficiente, daí a nefasta designação de “Costa negra” ou “Costa muda”.
A bordo, o paquete de passageiros trazia 221 pessoas e dos passageiros faziam parte cinco portugueses, sendo os restantes espanhóis, ingleses e alemães.
Estes portugueses eram:
José Cerqueira, de Freixieiro, José Fernandes, de Monção, António Carvalho, de Freixas – Mirandela, João Afonso Veloso, de Monção e Carlos Teixeira de Freitas, sobrinho do Visconde da Ribeira Brava e que já naufragara outras duas vezes, uma no “Mauritânia” e outra no iate “Maria”.
Três deles eram considerados conspiradores, não sabemos quais, não sendo necessariamente monárquicos como alguém aventou a hipótese; contudo, foram salvos e mandados para território espanhol, depois de lhes ter sido permitido descanso e de serem carinhosamente tratados.
Foi preciso um enorme esforço para salvar os 202 sobreviventes, pois 19 já tinham desaparecido, arrebatados pelo mar ou afogados nos porões e camarotes quando do encalhe, porque o mar estava agitadíssimo, com vagas impetuosas e altas que batendo furiosamente no seu costado, galgavam e varriam o convés. A neblina cerrada envolvia o barco, que apitava pedindo socorro.
Dado o alarme, os briosos soldados da paz dos Bombeiros Voluntários de Leça da Palmeira sob o comando do brilhante oficial do exército, coronel Laura Moreira, rapidamente compareceram no local com todo o seu equipamento, dando inicio ao lançamento de foguetões com o fim de estabelecerem o respectivo cabo de vaivém, o que, segundo consta, era um meio de salvamento recente no nosso País.
Durante o dia 16 muitos foguetões foram lançados até que se conseguisse estabelecer o vaivém, uns porque não chegavam a bordo do Veronese, outros porque partiam as linhas nas pedras, para onde eram levadas pelo mar e a rebentação; porém, renovando-se as tentativas, à tarde conseguiu-se estabelecer o vaivém, tendo vindo para terra o primeiro naufrago entre as 18 e as 19 horas, uma jovem e linda espanhola, Miss Doroteia Olkat, de 15 anos de idade, uma passageira de 1.ª classe, procedente de Liverpool com destino a Buenos Aires onde a esperavam uma irmã e cunhado.
A tripulação e passageiros, abrigados a sotavento dos camarotes e alojamentos, sobre o “spardek” e com uma aparente serenidade, contemplavam os esforços que de terra se empregavam para restabelecer o cabo de vaivém, e, não obstante a sua aflitiva situação, soltavam “hurrahs”, tendo, como reconhecimento por esses esforços de tentativa do seu salvamento, içado as bandeiras portuguesa e inglesa no estai de entre mastros.
Na praia foi montado um posto de sinais com o respectivo mastro, para comunicações com o navio por meio de código comercial.
Foram lançados 58 foguetões mas só 5 alcançaram o paquete. E, quando estabelecida a ligação, o comandante Charles Turner, não sem dificuldades, conseguiu manter a disciplina a bordo, dando ordens terminantes para que as primeiras pessoas a salvar fossem as mulheres, seguindo-se-lhe os homens e, por último, os tripulantes, ordens estas que foram escrupulosamente cumpridas.
À luz de archotes e mais tarde de cinco gasómetros de acetileno sob chuva torrencial o cabo de vaivém funcionava bem e iam chegando sucessivamente outras pessoas. Era uma mãe acarinhando ao peito uma filhinha de oito anos ou uma mulher que, apesar de desmaiada, apertava sempre nos braços uma criancinha.
Chegaram outras mulheres que no posto médico estabelecido na Capela da Boa Nova, onde o primeiro médico a chegar foi o Dr. Manuel Monterroso, nascido na freguesia da Lomba, em Amarante, em 1876, vivendo vários anos em Matosinhos, contavam entre soluços a forma como viveram aquele desastre, as suas angústias, e as horas longas em que todos tinham desesperado de se salvarem. Diziam aquilo chorando e olhando o barco onde havia ainda muitos desditosos que tinham descido para os porões desde que o mar levara dois.
Também no trajecto, uma mulher deixara uma vaga levar-lhe uma criança que trazia consigo nos braços, na bóia-calção. Dizia a nossa tia Olívia Maria que foi assistir aos salvamentos que se tratava da criada com a filha da senhora que tinha vindo no salvamento anterior.
A meio da tarde, do dia 17, havia mais de cinquenta pessoas salvas.
As dificuldades eram muitas, a bóia-calção vinha muitas vezes por dentro de água porque a cabrilha normal do equipamento dos bombeiros é baixa, foi então que no inicio do dia 17, enquanto se procedia a diligências para o restabelecimento da ligação com o barco, um homem, lavrador com terrenos no lugar de Ródão, em Leça da Palmeira, que vendo o esforço das várias corporações de bombeiros voluntários accionarem os seus foguetões em sucessivas tentativas para fazerem chegar os cabos de vaivém ao navio naufragado caírem goradas; teve a perspicácia e oportunidade de se aperceber que, pela altura das cabrilhas entretanto instaladas no areal, quando conseguissem montar novamente o cabo de vaivém, a bóia calção, trazendo os náufragos, não teria outra hipótese que não fosse a de mergulhar nas águas gélidas e revoltosas.
Então, pensou e rapidamente, na sua mente, surgiu uma ideia. Dirigiu-se ao areal indagando quem comandava as operações, com quem chegou à fala, propondo-lhe a sua solução que de imediato foi aceite! Propôs a montagem de duas varas de pinheiro, que foi buscar às suas bouças, muito mais altas do que a cabrilha por onde passava o cabo, trazendo a bóia-calção acima das ondas e com mais facilidade para todos incluindo aqueles que puxavam o cabo e os náufragos que iam chegando à praia, e que foram em tal número que foi estabelecido o record de salvamentos por este meio.
Este homem generoso e simples chamava-se Manuel António José Correia, conhecido como o António “Rato” de Ródão, que na sua generosidade e grandeza de alma nunca aceitou qualquer homenagem, condecoração ou sequer referência ao seu nome nas listas daqueles que se distinguiram nos esforços desenvolvidos para salvamento dos tripulantes e passageiros do navio naufragado; VERONESE; contudo, mais tarde, recebeu daquela companhia como reconhecimento, uma cigarreira em prata, na frente da qual se pode ver gravada a bandeira da companhia a cores e as referências “Boa Nova”, “16th January 1913”.
Estas vagas alterosas não permitiam a aproximação dos barcos salva – vidas de forma que foi preciso estabelecer entre eles e o navio uma bóia circular de salvação onde os náufragos se metiam, lançando-se ao mar, sendo então alados para dentro do salva – vidas que se aguentavam sobre os remos, levando-os depois para os barcos de reboque.
Os salva – vidas disponíveis eram o “Rio Douro” comandado pelo heróico José Rabumba “O Aveiro”, nascido na freguesia da Senhora da Glória, em Aveiro, a 24 de Fevereiro de 1866, falecendo em Leça da Palmeira em 25 de Março de 1952 e o “Cego de Maio” comandado por Manuel António Ferreira, o “Patrão Lagoa”, nascido na Póvoa de Varzim a 14 de Junho de 1886, onde faleceu a 7 de Julho de 1919, o qual tinha vindo da Póvoa de Varzim por terra. Dois salva – vidas comandados por dois verdadeiros e ousados lobos-do-mar!
Estes dois salva – vidas saíram durante a madrugada de Leixões, o primeiro a reboque do “Tritão” de que era comandante Francisco Gomes Cardia, e o segundo a reboque do “Bérrio”.
No inicio do dia 18 o tempo melhorou permitindo a aproximação dos salva – vidas ao vapor Veronese, mesmo assim um pouco ao largo, tendo os náufragos saído do paquete amarrados a uma bóia atirando-se à água, sendo logo recolhidos pelos dois salva – vidas.
Ao fim de duas viagens do “Tritão” e três do “Bérrio”, pelo meio da tarde do dia 18 de Janeiro de 1913, todos os náufragos se encontravam no Posto de Desinfecção, devidamente preparado para os receber. Esses náufragos que ao desembarcarem agradeciam o auxílio entoando em coro o hino inglês que é uma prece e simultaneamente era uma homenagem.
Ao ser dado sinal de que o último náufrago saiu do “Veronese” o seu capitão, Charles Turner, agitou as bandeiras dos sinais e de terra acenaram-lhe com lenços numa saudação. Cumprira até ao fim o preceito estabelecido nos casos de naufrágio, o de se salvarem primeiro as mulheres e crianças, depois os homens e por último a tripulação pela ordem inversa da sua hierarquia, o seu navio estava perdido mas ele ficara com vida, meteu-se na bóia – calção e ao chegar a terra foi alvo de uma grande manifestação de regozijo através de uma prolongada e quente ovação por parte dos muitos milhares de pessoas que na praia assistiram emocionadas ao dramático espectáculo marítimo.
Em toda esta situação houve trinta e oito vítimas mortais. No entanto salvaram-se 191 indivíduos sendo 89 pelos cabos dos Bombeiros e 102 pelos barcos salva – vidas.
O cabo de vaivém realizou o “record” do mundo em salvamentos, como dissemos e foi reconhecido em todas as instâncias, pelo comandante do navio.
Os bombeiros de Leça foram uns verdadeiros heróis. Pensamos até que o seu record jamais foi ultrapassado.
Claro que perante tamanha tragédia muitos se salientaram no salvamento dos náufragos sendo os seus actos heróicos reconhecidos pelo Instituto de Socorros a Náufragos que lhes concedeu diversas condecorações e das quais destacamos: Medalha de Ouro, a José Rabumba, “O Aveiro”, patrão do salva – vidas “Rio Douro” e a Manuel António Ferreira, “O Patrão Lagoa”, patrão do salva – vidas “Cego de Maio”. Medalha de Prata, a Alfredo Guilherme Howell, capitão de fragata, capitão do porto de Leixões, a João do Amaral, José Pereira da Silva, Augusto Pereira Ramiro, José Fernandes Tato, Manuel da Cunha Folha, Adelino Pinto dos Santos, Afonso Caetano Nora, Serafim dos Santos Serafim, José Bento Garcia, João Esteves Galego, Manuel Caetano Nora, António de Oliveira Brandão, Joaquim de Oliveira Meireles, Manuel Gomes, Inocêncio Pinto Soares, todos eles tripulantes do salva – vidas “Rio Douro”. Medala de Cobre, a Dr. Manuel Monterroso, a Francisco Gomes Cardia, comandante do rebocador “Tritão”, a Alberto de Laura Moreira, comandante dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos e Leça da Palmeira e Associação dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos e Leça da Palmeira. Com o diploma de louvor aos Dr.s José Pinto Queiroz de Magalhães, director da Cruz Vermelha, Mário de Castro, Bernardino Silva, José de Sousa Feiteira Júnior, José Casimiro Carteado Mena, Pedro de Sousa, António Freitas Monteiro, José Domingues de Oliveira Júnior, Barros Nobre, José Maria Ferreira, capitão médico, Manuel Bragança, tenente médico e Victorino Magalhães, tenente médico.
Muitos outros foram condecorados que aqui não mencionamos por se tornar fastidioso enumerá-los todos.
Também a Cruz Vermelha Portuguesa condecorou diversos voluntários que tudo deram pelo bem dos náufragos.
Mais tarde 130 passageiros embarcaram para o Brasil no vapor “Darro” e os restantes foram para diferentes portos, embarcando nos navios “Salamanica” e no “Orita”, outros embarcaram em Lisboa no navio Avon com destino a Inglaterra.
Quando o tempo amainou o agente da companhia, o comandante e alguns oficiais foram a bordo, percorrendo várias dependências do navio de onde retiraram ainda roupas, objectos náuticos, documentos e malas com valores que se encontravam nas cabines da 1.ª classe.
No porão do navio apareceram três cadáveres de dois homens e de uma mulher.
Mais tarde vinte e cinco trabalhadores retiraram alguns salvados para bordo do rebocador Hermes, aparecendo abertas algumas malas, talvez pelos próprios proprietários que, no meio da sua angústia, tentassem salvar alguns dos seus valores. Também se retiraram de bordo as malas do correio que se destinava a Buenos – Aires, em muito mau estado, mas chegaram ao seu destino.
O mar foi arrojando à praia muitos destroços e pertences do navio e da sua carga alguns dos quais se mantêm ainda hoje na posse de algumas pessoas como as três argolas de guardanapos que aqui exibimos, e outras recordações como as existentes no Museu dos Bombeiros Voluntários de Leça da Palmeira.
Esta situação deu também origem a diversas manifestações artísticas como as das imagens exibidas, e a diversos registos em livros como: “Naufrágios e Acidentes Marítimos na Costa Portuguesa” de Francisco Cabral, “Os Naufrágios Mais Calamitosos Ocorridos no Litoral do Concelho de Matosinhos e Suas Proximidades” de Horácio Marçal e “Naufrágios na Costa Norte Portuguesa” de Manuel Lima.
E, a reprodução em maqueta feita por esse artesão de mãos maravilhosas, o leceiro nascido em 2 de Fevereiro de 1917, de seu nome Joaquim Fernandes Neves.
O naufrágio do Veronese ocasionou que, meia dúzia de anos mais tarde, ali fosse construído um farolim, o qual deu origem ao nosso farol da autoria do Eng.º José Joaquim Peres, inaugurado em 1927, e hoje amputado das sirenes, que marcavam acusticamente a sua presença, a nossa carismática ronca da Boa – Nova.
Relatou-nos um elemento da família “Bispo” que um dia à hora de almoço o engenheiro passou, salvou e dirigiu-se ao farol, quando um pouco mais tarde o procuraram jazia morto na base do mesmo, pois havia-se lançado lá de cima.
Relativamente à tripulação, partiu de comboio do Porto para Lisboa, daí embarcando para Inglaterra, tendo na estação de S. Bento, a mais afectuosa despedida.
O seu comandante, Charles Turner, mandou formar os seus homens na “gare” e, num curto mas eloquente improviso, exortou-os a que se conservassem eternamente gratos aos seus salvadores, manifestando de seguida o seu mais profundo reconhecimento ao povo de Leça da Palmeira e de toda a orla costeira nortenha, tendo concluindo dizendo que, ao chegar ao seu país, não se esqueceria de enaltecer as extraordinárias e inequívocas provas de coragem, altruísmo e abnegação dadas pelo bom povo português.
Bibliografia:
· Manuel Lima – “Os Grandes Naufrágios da Costa Norte Portuguesa” 1998.
· Horácio Marçal – “Os Naufrágios Mais Calamitosos Ocorridos no Litoral do Concelho de Matosinhos e Suas proximidades” 1974. Separatas n.º 21 do Boletim da Biblioteca Pública Municipal de Matosinhos.
· Mundo Ilustrado – 2.º Ano – n.º 4 de 26 de Janeiro de 1913.
· Ilustração Portugueza n.º 362 de 27 de Janeiro de 1913.
· Instituto de Socorros a Náufragos – Relatório do Ano de 1913.
· Espólio do Autor.

Após a palestra no interior da Capela, pôde presenciar-se uma simulação do uso do cabo vaivém com a “bóia-calção” que foi usada em 1913, levada a efeito pelos Bombeiros de Matosinhos – Leça, que gentilmente deram a sua colaboração, usando as peças originais existentes no Museu da Corporação.














Bibliografia:
· Manuel Lima – “Os Grandes Naufrágios da Costa Norte Portuguesa” 1998.
· Horácio Marçal – “Os Naufrágios Mais Calamitosos Ocorridos no Litoral do Concelho de Matosinhos e Suas proximidades” 1974. Separatas n.º 21 do Boletim da Biblioteca Pública Municipal de Matosinhos.
· Mundo Ilustrado – 2.º Ano – n.º 4 de 26 de Janeiro de 1913.
· Ilustração Portugueza n.º 362 de 27 de Janeiro de 1913.
· Instituto de Socorros a Náufragos – Relatório do Ano de 1913.
· Espólio do Autor.

Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça", Ano LIV - Número 11 - Fevereiro de 2008

150º Aniversário das Aparições de Nossa Senhora em Lourdes (1858-2008)

Celebra-se este ano o Jubileu dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora a Bernardete Soubirous, em Lourdes, no Sul de França, em 1858. Desde então ali têm ocorrido gentes de todas as partes do mundo. Todos os anos o Santuário de Lourdes recebe cerca de seis milhões de visitantes, motivados pela fé e pela esperança de serem curados ou de alcançarem as graças pretendidas nos momentos de maior desespero ou provação. Este Jubileu vai ser comemorado ao longo do ano de 2008, tendo as celebrações começado no passado dia 8 de Dezembro de 2007, terminando no mesmo dia 8 de Dezembro deste ano.
Neste mês de Fevereiro o programa é o seguinte:
Dia 2 – Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo – Jornada da Vida Consagrada
Dia 6 – Quarta-Feira de Cinzas – Entrada na Quaresma
Dia 9/11 – Recolhimento – “Acolher a Mensagem de Lourdes”
Dia 11 – 1ª Aparição – Festa de Nossa Senhora de Lourdes – Jornada Mundial do Doente
Dia 14 – 2ª Aparição – Acolhimento em frente à Gruta ás 11h30
Dia 16/18 – Recolhimento – “Com Bernardete, vive a graça de Lourdes”Dia 18 – 3ª Aparição – Festa de Santa Bernardete – Á noite, procissão na cidade – Debate sobre a quinzena das aparições.
Dia 22/24 – Recolhimento – “A Quaresma à luz de Lourdes”
Dia 29/2 Março – Recolhimento – “A Quaresma à luz de Lourdes”

1ª Aparição de Nossa Senhora a Bernardete – 11 de Fevereiro
Aquela Quinta-Feira, 11 de Fevereiro de 1958, aparentemente foi um dia como outro qualquer de Inverno. Joana Baloum, de 12 anos, com Bernardete e sua irmã Maria, foram apanhar lenha, para se aquecerem no frio daqueles dias.
Dias esses que os mais abastados passavam juntos da lareira, enquanto os mais desfavorecidos tinham que trabalhar, indo para os montes e florestas apanhar lenha para se aquecerem, mas também para vender alguma e assim conseguirem um pouco mais de dinheiro.
A família Soubirous, pais de Bernardete,era tão pobre que não se podia dar ao luxo de não trabalhar ficando ao pé do lume, nem mesmo nos dias mais frios de Inverno.
Depois de algumas hesitações, as três meninas decidem ir pelo monte junto ao rio Gave. Só que nesse local havia uma pequena colina rochosa a que chamavam Massabielle. No entanto, para lá chegar era preciso descalçarem-se e atravessar o rio com água pelo joelhos. Joana e Maria passaram com facilidade, mas Bernardete sabia que a mãe não lho permitia, devido à sua frágil saúde. Caso decidisse atravessar sabia que lhe faria mal. Ficou ali à espera das companheiras, mas como estas se estavam a demorar mais do que o previsto, Bernardete começou a descalçar-se para ir ao seu encontro. Ouviu, então, o rumor do vento nas árvores, forte como se previsse uma tempestade.
Virou-se e assustou-se quando reparou que as árvores em seu redor mal se mexiam. Começou então a rezar. Alguns instantes depois voltou a sentir o mesmo ruído do vento, e reparou que este vinha do lado de uma gruta que lá havia, notando que os ramos da entrada se agitavam.
Continuou a descalçar-se e, quando se decidiu a meter o pé na água, ouviu novamente o mesmo ruído à sua frente.
Levantando os olhos, olhou para a gruta onde os ramos se mexiam. Qual é o seu espanto quando vê dentro da gruta uma bela jovem que parecia ter a sua idade, que a saudou com uma ligeira inclinação de cabeça, ao mesmo tempo que estendia os braços e abria as mãos. Do seu braço direito pendia um lindo rosário. Nesse instante, Bernardette esfregou os olhos, pensando que não era verdade o que os seus olhos estavam a ver, quando a Virgem, com um sorriso gracioso, a convidou a aproximar-se.
Quando as companheiras regressaram de apanhar lenha, viram que Bernardete estava em profundo êxtase. Chegaram a pensar que a irmã estava morta.
Quando voltou a si a jovem perguntou-lhes: “Vocês viram alguma coisa?” Ao que as irmãs responderam: “Não, e tu viste?”
Bernardete resolveu não lhes contar logo o sucedido, no entanto no caminho de casa acabou por lhes revelar tudo: “Vi uma Senhora muito bonita e resplandecente, vestida de branco com uma faixa azul e com uma rosa amarela em cada pé… Que linda que ela era!... Que sorriso tão amável quando rezava o rosário comigo! Oh, como gostaria de voltar a vê-la! Mas não digam a ninguém!”
Elas prometeram, mas mal chegaram a casa, não conseguiram calar-se.

João Teixeira
in "A Voz de Leça", Ano LIV - Número 11 - Fevereiro de 2008

Os relatos das aparições assim como os acontecimentos deste Jubileu comemorativo, vão sendo publicados todos os meses, para nós também viver-mos este ano com uma especial devoção a Nossa Senhora de Lourdes.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Bairro de Gonçalves - 50 anos

12 de Janeiro de 1958 - mais um dia marcante na vida da Paróquia de Leça da Palmeira e a concretização de mais um sonho do Rev. Pe Alcino Vieira dos Santos: a inauguração do Bairro de Gonçalves.
Após terem contribuído para a construção deste bairro, os Leceiros marcaram presença na inauguração da primeira casa. O Pároco pediu que todos os proprietários de automóveis integrassem o cortejo com o seu carro, que se realizou entre a Igreja Paroquial e o Bairro de Gonçalves. Mais uma vez a população de Leça se colocou ao lado do seu Pároco, com quarenta carros, oitocentas crianças, mais de mil pessoas a
integraram este cortejo, que abria com o Rancho Amorosense. À família da Senhora Albina Trocado coube a felicidade de ocupar a primeira habitação deste bairro - uma família pobre e numerosa, constituída por dez pessoas. A entrega da primeira casa iniciou-se com o cortejo em direcção à Igreja Matriz onde foi celebrada missa. O ofertório foi demorado, pois foram centenas de pessoas ao altar, onde o Pároco tudo recebeu, depois de ter dado a imagem do Menino Jesus a beijar. Além de inúmeros géneros alimentícios e peças de vestuário foram entregues cerca de 15.000$00. Terminada a Missa foi de novo ordenado o cortejo em direcção ao Bairro de Gonçalves, com o Rancho Amorosense à frente.
No patamar da pequena escada da entrada, estava a família contemplada: a D Albina, com o menino mais novo ao colo, rodeada dos outros sete meninos e meninas e sua mãe. O P.e Carlos Galamba dirigiu a palavra aos presentes, de uma forma sentida e emociada, destacando-se no seu discurso o seguinte extracto: «Jesus recebeu hoje, na pessoa dos pobres, uma grande prova de carinho do povo de Leça da Palmeira. Toda a Paróquia viveu este momento. O cortejo interminável de automóveis, representa o interesse dos grandes. Não faltaram também os pequeninos… Isto não é filantropia, é caridade, porque tudo foi oferecido na Igreja pelas mãos do Pároco em união com o sacrifício do altar. Todos os de Leça da Palmeira, desde hoje em diante, são proprietários, porque aquelas casas são nossas. Ali está a porta do Céu, porque ali temos Jesus, nas pessoas dos pobrezinhos. Por ali serão abertas as portas para a recompensa eterna.»
De seguida, o Pároco entregou as chaves à chefe da família que abriu a porta e entrou sob uma enorme ovação de palmas. A família Ortigão de Oliveira depôs na modesta mesa da sala de jantar um abundante almoço para esta família.
A segunda casa deste bairro foi entregue no dia 20 de Abril de 1958, à família de Manuel Gomes Cruz, doente e impossibilitado de trabalhar, com esposa e quatro filhos.
Nascia, assim, há precisamente 50 anos, a ‘habitação social’ de Matosinhos…

JS
in "A Voz de Leça", Ano LIV - Número 10 - Janeiro de 2008

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Um Encontro Nada Fácil

O Teatro, no mês de Novembro, em Leça da Palmeira, começou com “O Pecado de João Agonia” pelo TEAGUS – Teatro Amador de Gulpilhares. Esta peça, de Bernardo Santareno, representada pela primeira vez em 1969, é uma produção diferente daquelas que o TEAGUS habitualmente produz. A forte densidade dramática do texto põe à prova a capacidade emotiva dos actores e actrizes que a representam, mas também é um grande desafio para o público, que é levado a pensar e reflectir sobre o preconceito da homossexualidade. E esta “batalha” foi ganha pelos Gulpilharenses, que conseguiram que o público repensasse este direito à diferença.
Mas o Leça 2007 continuou “azarado”. Não esqueçamos que logo no segundo espectáculo deparámo-nos com a falta do Grupo da Escola Dramática Valbonense. O espectáculo do dia 10 de Novembro também teve de ser substituído. Dado que um dos actores de “O Saiote de Celestina” e d’A Verdade Vestida” se encontrar doente, a Associação Recreativa “Os Plebeus Avintenses” não nos pôde apresentar este espectáculo. Todavia, conseguimos substitui-lo pelo “A Pena e a Leia”, muito bem representado pelo Grupo dos Restauradores de Avintes. Foi um espectáculo diferente, com bastante musicalidade e, com toda a certeza, foi do agrado de todos aqueles que o contemplaram.
E o azar não terminou aqui. Infelizmente tivemos mais uma falta. O RIBALTA – Grupo de Teatro da Vista Alegre também não nos pode apresentar o seu trabalho, “A Ordem é Ressonar”, desta feita por razões profissionais do actor principal. Contudo, não conseguimos trazer até Leça outra peça. Como sabemos, esta é uma altura em que a maioria dos grupos com os quais fazemos “troca” de espectáculos se encontra no seu Encontro de Teatro, tal como acontece com o Grupo Paroquial de Teatro de Leça da Palmeira. Ora, este factor dificulta um pouco as coisas quando surgem estas situações imprevistas.
E o último espectáculo do Leça 2007 parecia que também seria “marcado” pelo azar: uma actriz do elenco estava doente e o encenador António Paiva ainda não se encontrava em pleno para assistir ao espectáculo. Mas tudo foi ultrapassado e, modéstia aparte, muito bem. A actriz foi substituída e o elenco “portou-se” à altura das expectativas. O espectáculo correu até melhor do que estávamos à espera e tivemos bastante adesão por parte do público. Esta foi mais uma homenagem que o Grupo cénico fez ao seu encenador, ao mostrarmos que conseguimos pôr em prática tudo aquilo que ele nos ensinou ao longo dos anos. Terminado o espectáculo, teve lugar a habitual sessão de encerramento do Encontro. Esteve presente um representante da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, mas infelizmente não tivemos presente nenhum representante da Câmara Municipal de Matosinhos, “em virtude de compromissos previamente assumidos e inalteráveis”. Mas fica aqui expresso o nosso sentimento de pena e tristeza. Porque ao fim e ao cabo, temos o apoio monetário da Câmara para a produção do nosso Encontro, e gostávamos que o nosso trabalho fosse realmente admirado por parte da Autarquia. “Fica para a próxima”, temos a certeza.
O balanço do Leça 2007, apesar de tudo, é positivo: assistimos a bom teatro de amadores. E é isso que importa!
Mas não posso terminar este artigo sem primeiro deixar aqui expresso o desagrado do Grupo Paroquial de Teatro em relação a uma situação da qual fomos “vítimas”. Durante o Leça 2007, fomos “contemplados” com a visita de um fiscal da Sociedade Portuguesa de Autores. Um fiscal “a sério”, com papelada e “provas do crime”. E o “crime” que o Grupo Paroquial de Teatro cometeu é fazer teatro! É dar teatro à população de Leça da Palmeira; é prestar um serviço cultural reconhecido por parte da autarquia municipal, da Junta de Freguesia e até pelo Governo Civil; é organizar um Encontro de teatro de amadores, gente como nós, que monetariamente nada ganha com esta actividade; é ocupar o tempo livre dos seus actores, contribuindo assim para o tão fomentado associativismo; é contribuir, assim, para a dinamização de uma sociedade tão marcada pelo sedentarismo. É este o crime pelo qual o Grupo Paroquial de Teatro terá de “responder”. E agora eu pergunto, será justo? É este o país que queremos ter? Um país que, em vez de apoiar as suas associações e colectividades, ainda lhes aplica castigos.
Viva o Teatro!

Ana Isabel Faria
in "A Voz de Leça" - Ano LIV - Número 9 - Dezembro de 2007