A propósito da memória da construção do Salão Paroquial, aqui fica o registo biográfico de um grande senhor, que tão bem fez nesta nossa terra.
Na edição de Janeiro de 1956 d’ A Voz de Leça, o Padre Alcino Vieira dos Santos escrevia a propósito do falecimento deste grande senhor beirão, o Comendador António de Carvalho, que aqui viveu, em Leça da Palmeira, terra que ajudou a desenvolver, tanto através da indústria que aqui fundou e desenvolveu, como através da sua generosidade.
“(…) A sua fé acompanhava-o na sua vida social. Quando era perseguido pela injustiça, dizia aos amigos: “Eu perdoo tudo. Só quero defender o pão dos meus operários e dos pobrezinhos.” Era amigo dos seus operários, que considerava como irmãos. Era um “Patrão” no verdadeiro sentido do termo: protector-pai… Trava os seus clientes com a lealdade de amigos. (…) Como católico era o primeiro a secundar as iniciativas paroquiais: já aqui falámos na dádiva de 20.000$00 para o Salão Paroquial. Foi um grande benfeitor da Confraria dos Passos do Senhor e Nossa Senhora da Soledade e das Conferências de São Vicente de Paulo. A sua paixão dominante era a caridade. O seu coração não suportava a miséria. A sua generosidade era tanta, que espíritos vulgares não hesitavam em classificá-la de esbanjamento. Santo esbanjamento! Santa prodigalidade! As bênçãos de Deus desceram abundantemente sobre a sua indústria que sempre prosperou (…). A simplicidade da sua alma, junto ao genial talento de industrial, tornavam-no extremamente simpático e querido de todos. Bem podia orgulhar-se do seu talento e do seu dinheiro, mas não. Nunca deixou de ser operário; (…)Tinha um sorriso característico, que acompanhava as suas esmolas. Sabia dar. (…)”
Deixaria em testamento, mais 20.000$00 para o Salão Paroquial.
Fundador da FACAR, (antiga indústria de tubos metálicos sediada em Leça da Palmeira, que viria a desaparecer após 25 de Abril de 1974), o Comendador António de Carvalho era natural de Lamego, onde nasceu em 1874, na freguesia da Sé daquela cidade. Órfão de pai e mãe aos 9 anos de idade, o pequeno António veio para o Porto, para casa de uns parentes, que lhe arranjaram um lugar de aprendiz numa fundição em Massarelos. As dificuldades da vida, que o privaram das despreocupações de uma infância feliz, deram-lhe espírito de iniciativa e vontade de vencer, pelo que ainda jovem era já encarregado de uma oficina metalomecânica, enquanto estudava à noite na Escola Infante D. Henrique.
Com pouco mais de 20 anos emigrou para o Brasil, que era na altura o destino de quem queria “vencer na vida”. Ambicioso mas com uma rectidão de carácter reconhecida e apreciada por todos quantos com ele puderam conviver, também ali teve sucesso, tendo em pouco tempo montado uma oficina de serralharia e fundição. À pequena oficina seguiu-se a construção de barcos com características particulares, (de ferro e com o fundo chato), para subirem o rio Amazonas durante os seis meses de vazante do caudal, período durante o qual os barcos tradicionais não o conseguiam fazer. O sucesso destas embarcações foi tal que António de Carvalho teve que montar uma doca seca para a sua reparação.
Regressado a Portugal ao fim de 25 anos no Brasil, e pretendendo também aqui continuar a ser fundidor e construtor naval, acaba por vir para Leça da Palmeira por causa da localização do porto de Leixões. Apesar de ter chegado a perito na Capitania de Leixões, dada a fraca densidade pesqueira que se verificava naquela época, acabou por converter a oficina de reparação de traineiras, que montara no regresso do Brasil, numa pequena fábrica de tubos de aço. Pequena mas já com características algo avançadas para a época, que viriam a dar origem à padronização dos tubos de aço, em medidas e moldes fixos, numa variedade que se foi alargando com o passar dos anos.
Mais uma vez se manifestava a sua visão à frente do seu tempo: depois de, no Brasil ter sido pioneiro numa vertente da construção naval, em Portugal seria o precursor da indústria dos tubos de aço.
Morreu a 20 de Dezembro de 1955.
O sonho de tornar a FACAR na maior fábrica de tubos da Europa só seria concretizado pelos filhos, António de Carvalho Júnior e Fernando de Carvalho. A FACAR seria também o maior e melhor empregador do concelho de Matosinhos.
Após a chamada “Revolução dos Cravos”, em 1974, durante o período mais negro do “PREC” (Processo Revolucionário Em Curso…), segundo uma certa ideologia reinante que preconizava a anarquia, (não vale a pena dar-lhe outro nome, porque era isso mesmo!), lá surgiu a obrigatória “comissão de trabalhadores” que assumiu a direcção da fábrica, substituindo-se aos seus donos e, em poucos anos, acabou com uma das maiores empresas portuguesas, arrastando para o desemprego famílias inteiras.
Na edição de Janeiro de 1956 d’ A Voz de Leça, o Padre Alcino Vieira dos Santos escrevia a propósito do falecimento deste grande senhor beirão, o Comendador António de Carvalho, que aqui viveu, em Leça da Palmeira, terra que ajudou a desenvolver, tanto através da indústria que aqui fundou e desenvolveu, como através da sua generosidade.
“(…) A sua fé acompanhava-o na sua vida social. Quando era perseguido pela injustiça, dizia aos amigos: “Eu perdoo tudo. Só quero defender o pão dos meus operários e dos pobrezinhos.” Era amigo dos seus operários, que considerava como irmãos. Era um “Patrão” no verdadeiro sentido do termo: protector-pai… Trava os seus clientes com a lealdade de amigos. (…) Como católico era o primeiro a secundar as iniciativas paroquiais: já aqui falámos na dádiva de 20.000$00 para o Salão Paroquial. Foi um grande benfeitor da Confraria dos Passos do Senhor e Nossa Senhora da Soledade e das Conferências de São Vicente de Paulo. A sua paixão dominante era a caridade. O seu coração não suportava a miséria. A sua generosidade era tanta, que espíritos vulgares não hesitavam em classificá-la de esbanjamento. Santo esbanjamento! Santa prodigalidade! As bênçãos de Deus desceram abundantemente sobre a sua indústria que sempre prosperou (…). A simplicidade da sua alma, junto ao genial talento de industrial, tornavam-no extremamente simpático e querido de todos. Bem podia orgulhar-se do seu talento e do seu dinheiro, mas não. Nunca deixou de ser operário; (…)Tinha um sorriso característico, que acompanhava as suas esmolas. Sabia dar. (…)”
Deixaria em testamento, mais 20.000$00 para o Salão Paroquial.
Fundador da FACAR, (antiga indústria de tubos metálicos sediada em Leça da Palmeira, que viria a desaparecer após 25 de Abril de 1974), o Comendador António de Carvalho era natural de Lamego, onde nasceu em 1874, na freguesia da Sé daquela cidade. Órfão de pai e mãe aos 9 anos de idade, o pequeno António veio para o Porto, para casa de uns parentes, que lhe arranjaram um lugar de aprendiz numa fundição em Massarelos. As dificuldades da vida, que o privaram das despreocupações de uma infância feliz, deram-lhe espírito de iniciativa e vontade de vencer, pelo que ainda jovem era já encarregado de uma oficina metalomecânica, enquanto estudava à noite na Escola Infante D. Henrique.
Com pouco mais de 20 anos emigrou para o Brasil, que era na altura o destino de quem queria “vencer na vida”. Ambicioso mas com uma rectidão de carácter reconhecida e apreciada por todos quantos com ele puderam conviver, também ali teve sucesso, tendo em pouco tempo montado uma oficina de serralharia e fundição. À pequena oficina seguiu-se a construção de barcos com características particulares, (de ferro e com o fundo chato), para subirem o rio Amazonas durante os seis meses de vazante do caudal, período durante o qual os barcos tradicionais não o conseguiam fazer. O sucesso destas embarcações foi tal que António de Carvalho teve que montar uma doca seca para a sua reparação.
Regressado a Portugal ao fim de 25 anos no Brasil, e pretendendo também aqui continuar a ser fundidor e construtor naval, acaba por vir para Leça da Palmeira por causa da localização do porto de Leixões. Apesar de ter chegado a perito na Capitania de Leixões, dada a fraca densidade pesqueira que se verificava naquela época, acabou por converter a oficina de reparação de traineiras, que montara no regresso do Brasil, numa pequena fábrica de tubos de aço. Pequena mas já com características algo avançadas para a época, que viriam a dar origem à padronização dos tubos de aço, em medidas e moldes fixos, numa variedade que se foi alargando com o passar dos anos.
Mais uma vez se manifestava a sua visão à frente do seu tempo: depois de, no Brasil ter sido pioneiro numa vertente da construção naval, em Portugal seria o precursor da indústria dos tubos de aço.
Morreu a 20 de Dezembro de 1955.
O sonho de tornar a FACAR na maior fábrica de tubos da Europa só seria concretizado pelos filhos, António de Carvalho Júnior e Fernando de Carvalho. A FACAR seria também o maior e melhor empregador do concelho de Matosinhos.
Após a chamada “Revolução dos Cravos”, em 1974, durante o período mais negro do “PREC” (Processo Revolucionário Em Curso…), segundo uma certa ideologia reinante que preconizava a anarquia, (não vale a pena dar-lhe outro nome, porque era isso mesmo!), lá surgiu a obrigatória “comissão de trabalhadores” que assumiu a direcção da fábrica, substituindo-se aos seus donos e, em poucos anos, acabou com uma das maiores empresas portuguesas, arrastando para o desemprego famílias inteiras.
Hoje, na zona onde durante décadas existiu a FACAR sobressai um muito visível grupo de prédios, cuja construção se arrastou por polémicas de vária ordem. “Apesar dos pesares” que acompanharam o seu surgimento, aquelas construções foram a forma encontrada para, monetariamente, resolver muitas questões relacionadas com a extinção da FACAR.
Ao menos isso!
Ao menos isso!
Marina Sequeira
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 4 - Junho de 2008
Fontes: A Voz de Leça (Janeiro de 1956)
BENTO,Jorge,2001-Último Pio Do Pardal; Leça da Palmeira, Edição do Autor.
Fontes: A Voz de Leça (Janeiro de 1956)
BENTO,Jorge,2001-Último Pio Do Pardal; Leça da Palmeira, Edição do Autor.