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A Equipa Redactorial

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Festarte 2008 - Património Imaterial Cultural da Humanidade

Sob o Signo da UNESCO

Decorreu entre os dias 24 de Julho e 4 de Agosto o 11º FESTARTE – Festival Internacional de Artes e Tradição Popular de Matosinhos, que este ano trouxe ao nosso concelho grupos folclóricos oriundos de seis Países, desde a Ásia até à América Latina, passando pela Europa maioritariamente representada como vem sendo habitual. Este ano o FESTARTE procurou chamar a atenção para a Salvaguarda do Património Imaterial Cultural da Humanidade, adoptada a 17 de Outubro de 2003, na 32ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO. Sendo o FESTARTE um festival CIOFF (Comité Internacional de Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais), nada faria mais sentido do que promover e naturalmente salvaguardar esse Património Imaterial Cultural. Essa Convenção da UNESCO foi ratificada por decreto do Sr. Presidente da República de 26 de Março de 2008 e igualmente aprovada pela Assembleia da República. Para que possamos perceber exactamente do que se trata, aproveito as palavras do presidente do FESTARTE, Raul Neves, que na sua mensagem aos participantes do Festival, transcreve o artigo 2 dos 40 existentes nessa resolução:
“1) Entende-se por “património cultural imaterial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as Comunidades, os Grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural. Esse património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas Comunidades e Grupos em função do seu meio, da sua interacção com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentido de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana. Para os efeitos da presente Convenção, tomar-se-á em consideração apenas o património cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais existentes em matéria de direitos do Homem, bem como as exigências de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos e de desenvolvimento sustentável;
2) O “património cultural imaterial”, tal como definido no número anterior, manifesta-se nomeadamente nos seguintes domínios:
a) Tradições e expressões orais, incluindo a língua como vector do património cultural imaterial;
b) Artes do espectáculo;
c) Práticas sociais, rituais e eventos festivos;
d) Conhecimentos e práticas relacionados com a natureza e o universo;
e) Aptidões ligadas ao artesanato tradicional.”
Se olharmos para o FESTARTE como um todo verificamos que, de facto, este Festival abrange quase todos, senão mesmo todos os itens da referida convenção, envolvendo não só os participantes no certame, mas a população de Matosinhos naquela que é considerada por muitos como a maior manifestação cultural do Concelho. Há que continuar a fortalecer aquilo que ao longo de 11 anos o FESTARTE tão duramente procurou transmitir, para que todos juntos possamos ajudar a salvaguardar o agora chamado “Património Imaterial Cultural da Humanidade”.

O FESTARTE Dia a Dia

foram os espectáculos, actuações e eventos que os grupos participantes no FESTARTE tiveram de efectuar. Ao longo de 10 dias houve oportunidade para apreciar o esplendor dos seus trajes, a magia das suas danças, o som único dos seus instrumentos e até provar o sabor da sua gastronomia. O FESTARTE começou no dia 25 de Julho, como vem sendo hábito com o hastear das bandeiras acompanhado dos respectivos hinos dos Países participantes, numa cerimónia sempre muito aguardada, sobretudo pela emoção que causa a sonoridade de cada hino nacional. Nesse mesmo dia, às 21.30, na Praça Eng. Fernando Pinto de Oliveira, realizou-se a Gala de Abertura do Festival, durante a qual todos os Grupos fizeram como que a sua apresentação. O FESTARTE prosseguiu no sábado, com o Encontro de Etnografia e Folclore no Auditório Infante D. Henrique na APDL, sendo também neste dia a abertura da Feira Internacional de Artesanato. Domingo, dia 27 de Julho, foi, como seria de esperar, o dia grande do FESTARTE com a Eucaristia Ecuménica presidida pelo Rev. Padre Fernando Cardoso de Lemos, que contou com a participação de todos os Grupos. Após o almoço, deu-se o desfile pela Avenida Dr. Fernando Aroso até à Feira de Artesanato, com passagem pelo Salão Nobre da Junta de Freguesia para a Recepção Oficial do XXI Festival Internacional de Folclore. Após estes dois eventos teve lugar o Festival Internacional de Folclore, que para além dos Grupos estrangeiros contou ainda com a presença dos portugueses Grupo Típico “O Cancioneiro” de Águeda, Grupo Etnográfico de Danças e Cantares do Minho – Lisboa, Rancho Folclórico de Gouxaria – Alcanena, Grupo Folclórico da Casa do Povo de Ceira – Coimbra e os Grupos organizadores do FESTARTE: Rancho Típico da Amorosa e Rancho Típico de S. Mamede Infesta. O que não ajudou nada à festa foi o estado do tempo que ao longo do dia se foi agravando, acabando por impossibilitar a animação nocturna da Feira de Artesanato pelo Grupo Paroquial de Teatro, assim como o encerramento do dia. Na segunda-feira, dia também bastante preenchido em termos de programação, teve lugar nas ruas Brito Capelo e Parque Basílio Teles a já habitual animação de rua seguindo-se a recepção oficial do FESTARTE no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos. De tarde, os grupos tiveram oportunidade de participar nas Galas Folclóricas de Solidariedade, nomeadamente na Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual – ALADI onde esteve presente o Grupo da Espanha, na Cadeia Feminina de Santa Cruz do Bispo que contou com a presença do Grupo da República Checa e no Lar de Santana em Matosinhos, que teve a participação do Grupo da Argentina. À noite, em Santa Cruz do Bispo, teve lugar uma Gala Folclórica com os Grupos da Hungria e da Sérvia, tendo a animação da Feira de Artesanato estado a cargo do Grupo de Taiwan. Terça-feira, dia 29 de Julho, foi o dia livre do FESTARTE, sendo apenas de salientar a animação da Feira de Artesanato pelo Rancho Típico da Amorosa. No dia seguinte, pelas 10 horas, deu-se inicio aos Ateliês de Dança, no Adro da Igreja Matriz de Leça da Palmeira, com a presença dos Grupos da Sérvia e da Espanha. Da parte de tarde teve lugar no Auditório Mário Rodrigues Pereira, em Lavra, a Gala Folclórica da 3ª Idade, com a participação de todos os Grupos Estrangeiros. O FESTARTE prosseguiu, à noite, nas Igrejas Matriz de Leça da Palmeira, Santa Cruz do Bispo e São Mamede Infesta, com os habituais recitais de música tradicional sempre com muito público, aliás uma constante ao longo de toda a programação. Na quinta e sexta-feira prosseguiram os Ateliês de Dança, com a presença dos Grupos de Taiwan e Hungria, (quinta-feira), e República Checa e Argentina, (sexta-feira), sendo que no fim da tarde de quinta-feira teve início o Festival de Gastronomia, este ano com a particularidade de os Grupos oferecerem o jantar à população que previamente se inscreveu e que no ano transacto havia oferecido o almoço no dia das Famílias. A Feira de Artesanato terminou na sexta-feira, com fogo-de-artifício, (pouco, que o dinheiro não dava para mais…), que acabou por ser uma pequena surpresa preparada pelos responsáveis da Feira. O FESTARTE prosseguiu no sábado, dia 2 de Agosto, com o Festival de Folclore e respectivo desfile etnográfico, em São Mamede Infesta, e no domingo, em Matosinhos com o respectivo Festival e encerramento do FESTARTE.

Os Grupos Participantes

Compañia Flamenca Cármen Guerrero
Cadiz / Andaluzia – Espanha

A “Companhia Flamenca Cármen Guerrero” chega-nos da comunidade da Andaluzia, com uma população de 7 478 432, o que corresponde a 17,9% da população total do País, para uma área de 85,70 Km2. Fiel representante do Folclore Andaluz, a Companhia Flamenca Cármen Guerrero foi formada em 1986, por Luís Guerrero. Dentro do flamengo, a companhia movimenta todo o ano algumas centenas de jovens que são o suporte dos espectáculos que apresenta. Trouxeram ao FESTARTE os sons da guitarra flamenga com as vozes inconfundíveis da Andaluzia e expressões corporais que fizeram a delícia dos mais exigentes.







Los Mackay Y Ballet Malambo Argentino
Argentina

O Grupo que representou a Argentina nesta 11ª edição do FESTARTE, “Los Mackay Y Ballet Malambo Argentino”, é um fiel representante das tradições da região de Buenos Aires, nomeadamente do tango que é uma dança a par. Tem forma musical binária e compasso de dois por quatro. A coreografia é complexa e as habilidades dos bailarinos são celebradas pelos aficcionados. Segundo Discépolo, “o tango é um pensamento triste que se pode dançar”. Sua origem encontra-se na área do Rio da Prata, na América do Sul, e nas cidades de Buenos Aires e Montevideu.







Bartina Folkdance Ensemble
Szekzárd – Hungria

Desta República do centro da Europa, chegou-nos o “Bartina Folkdance Ensemble” representante de uma cultura (popular) muito apreciada. É um grupo sério, autêntico pilar na educação dos mais jovens, foi formado em 1966 numa escola local, sendo um dos fiéis representantes do folclore magiar. A sonoridade deste grupo é apoiada por um grupo de instrumentistas verdadeiramente extraordinários, que são uma mais valia nos concertos apresentados.








The Ensemble Akademsko Drustvo
Belgrado – Sérvia

O “The Ensemble Akademsko Drustvo” de Belgrado está sedeado numa academia de jovens cuja vertente académica se reflecte no trabalho que apresentam em palco. A qualidade e o rigor nas suas apresentações públicas são fruto de uma tarefa obrigatória nas disciplinas que desenvolvem ao longo do ano lectivo e que são avaliadas de acordo com a pesquisa e com a teoria apresentada. O resultado desde trabalho obedece a práticas posteriores que resultam no palco em expressões sublimes nas suas actuações. São acompanhados por músicos verdadeiramente extraordinários.







Taiwan Youth Dance Company
Taiwan

A História de Taiwan quase se perde no tempo, e remonta a aproximadamente 5000 anos. Navegadores portugueses alcançaram a ilha em 1544, baptizando-a de Ilha Formosa. No Século XVII a ilha é colonizada pelos holandeses, mas estes são pressionados a abandonar a ilha em 1662. Alguns séculos depois e após a Guerra Sino-Japonesa, em 1895, a China foi forçada a ceder perpetuamente Taiwan ao Japão. Com o terminar da Segunda Guerra Mundial em 1945, sob os termos do tratado de rendição do Japão, os Nipónicos aceitam que a ilha seja transferida para o domínio chinês. Por tudo isto, foi muito apetecível apreciar o “Taiwan Youth Dance Company” que trouxe toda a alegria deste povo simpático que nos chegou desta parte do mundo do sol nascente.





Folk Ensemble Handrlák
República Checa

O “Folk Ensemble Handrlák” é visto como um dos mais invulgares representantes desta jovem república, pela qualidade dos espectáculos que nos apresenta. Com músicos verdadeiramente virtuosos, fomos à descoberta da magia dos sons únicos do povo boémio, com a sua extraordinária orquestra. A sua gastronomia, recomendada para paladares mais apurados, completaram a lista de motivos para uma participação muito apreciada.













O Festival de Folclore

Mais do que mil palavras as imagens falam por si. Simplesmente deslumbrante. Um agradecimento especial ao António Barros do Rancho Típico da Amorosa, que gentilmente enviou todas as imagens para publicação


A Feira de Artesanato
Sempre com animação diária, excepto na quarta-feira, que foi o dia dos recitais na Igreja, a Feira de Artesanato deste ano teve a particularidade de se alargar um pouco mais, com o número de expositores a passar dos habituais 15 para 20,o que obrigou a um maior trabalho logístico. A Feira estendeu-se até às traseiras do Salão Paroquial o que conferiu ainda mais cor e movimento a um adro já de si bastante movimentado durante os dias em que a Feira esteve aberta ao público. Saliente-se que, mais uma vez, marcou presença a “Tasquinha lá de cima”, que é como quem diz, do Monte Espinho, que serviu, (e de que maneira), apetitosos petiscos que fizeram as delícias de quantos lá jantaram ao longo da semana. Saliente-se aqui a presença assídua do nosso Pároco, afastado há já algum tempo das lides nocturnas por motivos de saúde, mas que nestes dias de FESTARTE, fez questão de jantar com os seus colaboradores na afamada “Tasquinha”. Para terminar e porque não podemos deixar de o fazer, fica a eterna pergunta a quem de direito: “PARA QUANDO UNS STANDS COM VERDADEIRAS CONDIÇÕES?” Fica aqui uma vez mais a questão, endereçada aos responsáveis pelo FESTARTE, mas também e sobretudo aos órgãos Autárquicos, Junta de Freguesia e Câmara Municipal. Ficamos a aguardar uma resposta se acharem por bem fazê-lo.

O Meu Lamento

Não haverá porventura factores negativos de grande monta a apontar. A organização do FESTARTE já tem muitos anos disto e portanto já se mostram rotinados. No entanto, há alguns detalhes que convém melhorar ou talvez até modificar, quem sabe. Em primeiro lugar, os hinos dos Países: este ano as coisas não correram muito bem, ao contrário dos anos anteriores, com alguns a falhar ou porque não era aquele hino, por força das modificações políticas entretanto operadas ou porque os responsáveis pelo som não testaram convenientemente o funcionamento da aparelhagem. Seja por que motivo for, não se justifica nos dias de hoje que os hinos, estejam eles em formato mp3, wmp ou outra coisa qualquer, não possam ser correctamente executados. Requer-se mais atenção para o ano, para que erros deste tipo não voltem a acontecer. Em segundo lugar, o meu lamento vai para a animação da Feira de Artesanato ou falta dela - não que os Grupos não estivessem lá, mas grande parte deles não percebeu que a intenção era trazer as pessoas à dança. Aliás é para isso que elas lá estão, esperando ansiosamente que as levem para o tablado. Grupos houve que se esqueceram por completo de o fazer. Por último, e porque não quero ser um crítico voraz do FESTARTE, pois sou até um dos seus mais acérrimos defensores, lamento que o stand da Argentina apenas estivesse presente em um ou dois dias, já que nos restantes nem vê-los. Mesmo no grande dia da Feira de Artesanato, (domingo), apenas se dignaram ir buscar o artesanato e ir embora. Para o trabalho que dá montar a Feira de Artesanato, com uma lista de espera de expositores, sempre à espreita de um lugar na Feira, ter um stand vazio na maior parte do tempo não abona em nada ao seu crescimento, isto já para não falar nas inúmeras referências à “não” presença do Grupo. Enfim.....

Nota Final
Passou mais um FESTARTE, neste caso o 11º. Ficamos sempre à espera do próximo, o que por si só justifica o sucesso de mais uma edição. A Organização primou como sempre pela competência e seriedade durante todo o Festival. Na reportagem que fiz, em 2007, referi várias vezes ao longo do artigo que escrevi, que aquele fora “O Melhor Festarte de Sempre”. Este ano tenho de manter a mesma opinião. O ano passado foi até agora o melhor FESTARTE de sempre. Nem a presença nos últimos dois dias do Grupo Mexicano serviu para ofuscar o grande sucesso do 10º FESTARTE. Faltou um “bocadinho assim”, como diz a publicidade. Faltou mais entusiasmo, faltou mais empenho por parte dos Grupos, faltou algo mais para fazer a diferença. Nota positiva para o jantar oferecido à população que recebeu os Grupos, em 2007 - foi a grande novidade este ano, e com tanto sucesso que pode ser uma boa ideia para repetir em próximos Festivais. Por último, merece destaque a presença do Grupo Mexicano no encerramento da Feira de Artesanato, o que engrandeceu o FESTARTE. A sua música contagia, alegra, anima e sobretudo faz uma grande festa. Chegaram fora do programa oficial do FESTARTE, mas ainda bem que chegaram a tempo de fechar com chave de ouro a Feira de Artesanato e o próprio FESTARTE. Que venha a 12ª edição, que da 11ª já reza a história.

José Eduardo Sousa
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 6 - Setembro de 2008