

As traineiras da praça de Matosinhos haviam saído para o mar, como habitualmente, às dezenas, apesar de haver vários prenúncios de temporal, pois para os pescadores o espectro da fome sempre se sobrepôs ao medo e sempre fez com que esses valentes e ousados lobos do mar galgassem as ondas saindo a barra, para quantas vezes não mais voltarem!
Há casos fantásticos, como o daqueles três homens que no reboliço da traineira “D. Manuel”, com o espectro da morte à sua frente, foram


Deste modo, de quatro companhas das quatro traineiras afundadas, apenas se salvaram seis camaradas em tão horrorosa tragédia marítima que enlutou não só a costa nortenha mas praticamente toda, de norte a sul, não havendo memória de catástrofe maior, a qual, para além daqueles que levou, deixou também muitas viúvas e órfãos mergulhados na dor e na desolação.
O livro “O Naufrágio de 1947” será assim um elevado preito de homenagem da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia, dos autores, mas não só, pois será também o reconhecimento por todos aqueles que assistirem ao lançamento, que recordarão muitos daqueles que se sacrificaram pela elevação e desenvolvimento desta nobre cidade de Matosinhos – Leça.
Portanto, vamos todos ao lançamento do livro!
… E “AS MULHERES DO MAR… MÃOS DE SAL”

Serão homenageados os Homens e as Mulheres do Mar, principalmente estas, na nossa sociedade sempre esquecidas ou relegadas para plano secundário, contudo entre a classe piscatória com grande influência e um papel fundamental.
A mulher do pescador, ou mulher do mar, era uma verdadeira mãe-coragem, pois criava uma ranchada de filhos, era expedita e despachada nos negócios, no governo de casa e da família.
Foi sempre uso e costume do pescador que “a mulher quer-se em terra e o homem no mar”. Daí que mal o barco aproava na praia a mulher tratava de todo o trabalho para além da pesca, descarregava o peixe, encaixotava e transportava-o à lota, vendia-o e por fim dividia os ganhos em partes ou quinhões, dando algum ao seu “home” para extraordinários, para uma “pinga” ou para o “fumo”.
Também fazia parte da sua vida lavar e consertar as redes, trazer as cestas e as roupas da “polé”.
Quando o pescador desejava vestir-se ou calçar-se, ia com a mulher a uma loja comprar pano para um fato, e a mulher acompanhava-o ou até ia só. De qualquer das maneiras era ela quem escolhia e ele aceitava pois se era do agrado dela também era do dele.
Quando era necessário ir a qualquer repartição pública, era a mulher quem expunha as pretensões e razões do marido. Era também a mulher que levava o marido ao médico quando estava doente, e desfiava o rosário de achaques do seu homem.
A mulher do pescador, rude e forte, era muito irrequieta e sempre desbragada na linguagem, e com toda a facilidade provocava conflitos e até chegava a vias de facto.
Contudo, verificamos que ao longo do tempo sempre tiveram um papel fundamental na vida do casal apesar de uma vida muito dura, pelo que aqui queremos deixar bem marcado que é mais do que justa a homenagem que o NAPESMAT lhes vai prestar com o lançamento do livro “… AS MULHERES DO MAR… MÃOS DE SAL”
Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" - Ano LIV - Número 8 - Novembro de 2007