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A Equipa Redactorial

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Abade Mondego - 75 Anos do Seu Falecimento

No próximo dia 7 de Fevereiro de 2007 comemora-se o 75º aniversário do falecimento do Abade Mondego. Leça da Palmeira assinalará esta data, no dia 10 de Fevereiro, com a celebração de uma Missa Solene em sua memória, que contará com a presença de todos os Grupos Paroquiais, como forma de homenagem pelos anos em que paroquiou esta nossa Comunidade católica.
José Ferreira dos Santos Mondego nasceu no dia 12 de Setembro de 1867, em São Tiago de Cassurrães, concelho de Mangualde, filho legítimo de António Ferreira dos Santos e Eugénia da Trindade.
Aos 22 anos formou-se no Seminário de Viseu, sendo nomeado coadjutor para Cassurrães e, posteriormente, foi nomeado Pároco de Mesquitela, freguesia do concelho de Celorico da Beira. Mais tarde colocado em Cunha Baixa, freguesia do concelho de Magualde, seria nomeado Pároco de Leça do Balio em Janeiro de 1902.
A 12 de Outubro de 1903 foi nomeado Pároco de Leça da Palmeira, funções que exerceu até Junho de 1931. Durante 27 anos, os Leceiros habituaram-se a ver a figura do seu Pároco como um homem alto, de olhos negros, profundos e cintilantes, malares salientes, espessas sobrancelhas, sempre vestindo a sua sobrecasaca negra e um pequeno chapéu mole.
Como homem culto, interventivo e respeitado pela sua Comunidade foi, em 1909, nomeado Vereador da Câmara Municipal de Matosinhos e Presidente da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, funções que acumularia com as de Pároco e com os seus estudos sobre “ciências da terra”. Os primeiros estudos feitos em Portugal sobre polinização artificial foram realizados pelo Abade Mondego nas estufas que possuía nos terrenos do Passal de Leça da Palmeira. Numa pequena estufa, onde não permitia a entrada a nenhuma outra pessoa, procedia à polinização por pólen estranho de flores, obtendo novas variedades que maravilhavam a floricultura da época.
Após vários anos dedicados ao estudo da reprodução de flores, dedicou-se à produção de vinhos gasosos a partir de vinhos vulgares. Obrigava as células de champanização a proliferarem rapidamente em meio próprio e num óptimo de temperatura, o que acelerava de anos para dias a obtenção dos vinhos espumosos. Estes vinhos tiveram larga fama no mercado da época.
Após ter saído de Leça da Palmeira, e com o financiamento de uma entidade bancária, mandou construir em Estremoz um armazém e um laboratório de análise de oleaginosas, onde procurou obter a neutralização industrial do azeite. Aplicou à analise de óleos um espectroscópio de sua invenção, baseado na construção de um prisma oco, onde era lançado óleo aquecido exteriormente por circulação de água a uma temperatura determinada por um termómetro mergulhado no óleo e obtendo imagens de luz imanada de um colimador, com diferentes riscas de Fraunhoffer, que caracterizavam o óleo a ensaiar. Executados os desenhos do aparelho, com nónio circular e perfeito acabamento, foi mandado executar na Alemanha, onde passou a ser descoberta teutónica.
Durante a sua permanência em Leça da Palmeira, dedicou-se igualmente à literatura. Escrevendo sob o pseudónimo “José de Gomon”, publicou dois romances sobre a vida dos cristãos nos primeiros séculos do Cristianismo: «Cholé», publicado em 1923, e «Minia», em 1925, e vários artigos em jornais, sendo igualmente autor de poesias religiosas que foram cantadas, durante vários anos, pelas crianças da nossa freguesia nas cerimónias da Profissão de Fé.
Após a implementação da República em Portugal, instalou na Rua da Alegria, (esquina da Rua do Matinho), juntamente com o Dr. José Domingues de Oliveira e o Major António de Laura Moreira, uma escola primária para crianças pobres, onde ensinava a moral católica. Esta escola manteve-se até 1915.
Do seu apostolado em Leça da Palmeira, merecem destaque as cerimónias da Comunhão Solene, a Procissão dos Enfermos, o restauro da Capela do Sagrado Coração de Jesus e a construção da sala anexa à Sacristia.
Alvo de perseguição política por parte de vários demagogos que não aceitavam o desenvolvimento que trouxe à ciência e os seus escritos, retirou-se já doente para Viseu, onde viria a falecer em Janeiro de 1932.

J.S.
in "A Voz de Leça" Ano LIII - Número 11 - Janeiro de 2007